19janeiro1974 (ou o genesis abalando nossas vidinhas)…

aTRIPA resgatou um assunto que coloquei aqui no tico, em junho2003.

como o dia da aventura é exatamente o mesmo de hoje…

em dezembro de 1973, kito poncione (que, dez anos depois, foi baixista
da banda londrina blue rondo a la turk), roberto (meu primo) e eu
estávamos em londres tal e qual três caipiras chegando, pela primeira
vez, à praia de ipanema.
showzinho aqui, marquee ali, reveillon desorientante… enfim. tudo
aquilo que sonhamos por anos. só que ainda não havíamos esbarrado em
um GRANDE concerto de rock.
até que, finalmente, chegou o dia de vermos o genesis no drury lane.
um teatro vitoriano, muito pequeno bem no centro de londres.

o “aquecimento” foi realizado ao longo dos primeiros dias do ano para chegarmos calibrados em 19 de janeiro!!!

o nosso tesão era tanto que no dia da apresentação resolvemos passar de tarde

pelo local do show. quem sabe, de repente, dar uma sorte e penetrarmos na
passagem de som.
como já tinhamos os ingressos comprados, não custava nada arriscar.
é bom lembrar que o genesis havia acabado de lançar o álbum “selling
england by the pound” e estava no auge de sua popularidade e
criatividade.
bem, os três patetas chegaram à “backstage door” e ficaram ciscando em
volta do caminhão de equipamento do grupo. abobalhados por uma
realidade que só conhecíamos por jornal importado. repito, o drury
lane é uma jóia da arquitetura inglesa (vale dar uma pesquisada na web
– drury lane, royal theatre) e sua entrada de fundos fica numa ruela típica
de qualquer filme rodado em londres nos anos 60.
tá sacando onde os capiaus estavam metidos?
tá sentindo em que nível estava o nosso batimento cardíaco?
depois de alguns minutos zanzando do lado de fora do teatro, surge pela “backstage door” um caboclo com
cara de gerente de banco. os matutos caem em cima perguntando se
poderiam assistir ao ensaio do genesis. o cidadão era simplesmente o
diretor do teatro!!!
de cara, ele pediu para ver os nossos tickets. cheio de “marra” meti a
mão no bolso e peguei o ingresso que, na realidade, era um recibo
garantindo os nossos três lugares (foto acima).
o caboclo olhou e mandou na lata:
“amigos, esses ingressos foram para o show de ontem”
HEIN? COMO? DE QUE FORMA? TÁ MALUCO? TU TOMOU ESMALTE DE UNHA? QUER
ENTRAR NA PORRADA?
olhamos com atenção o ingresso e estava lá – dia 19 de janeiro!
e já era dia 20!!!
o genesis se apresentou por três noites – 18, 19 e 20.
não sei até hoje o que gerou a nossa confusão. mas credito essa
doideira à maluquice do desbunde que estávamos vivendo. resumindo, o
nosso show já havia rolado e o do dia já estava TOTALMENTE vendido.
ficamos completamente desesperados. caralho, era o nosso primeiro
grande show e por uma total estupidez tudo tinha se perdido.

o caboclo percebendo a insanidade tupiniquim detonou sua segunda e

inesperada frase:
“prestem atenção, o show começa às 8 da noite. apareçam aqui nesse lugar
quinze minutos antes e eu tentarei fazer alguma coisa por vocês, mas
não garanto nada. não há mais ingressos para vender e cambista
não se cria aqui”.
os três palermas se olharam sem acreditar em nada que foi falado e
partiram para uma semi bebedeira num pub em tottenham court road.
o tempo passou rápido e às 19:45 estávamos plantados no local
combinado. esperança? quase zero.
de repente, como se fosse moisés no mar vermelho (é isso mesmo?),
surge o caboclo vestido num smoking reluzente e já bradando sua
terceira e mais inesperada frase:
“ohhhh meus amigos brasileiros. o que estou fazendo é
totalmente errado mas notei a sinceridade de vocês. FOLLOW ME”.
PQP!!! os três muquiranas se olharam embriagados e seguiram o dono da
cocada. fomos entrando pelo teatro, passamos pelas cadeiras da platéia
e subimos para o segundo andar onde ficava a mesa de som. foi quando
“moisés” proclamou a quarta frase:
“fiquem aqui ao lado da mesa e não se mexam por nada. tchau”.
em cinco minutos as luzes se apagaram e, finalmente, os três
brasileiros puderam testemunhar a tal experiência de um verdadeiro
show de rock. em mais de duas horas o genesis marcou nossas vidas com
a mais inesquecível história que teremos a chance de contar por muitos
e muitos anos.
para fechar a noite, durante o bis com peter gabriel descendo do teto
segurando uma luz em “musical box”, já estávamos na beira do palco,
abraçados, descaralhados e chorando como três criancinhas.
roberto e kito não estão mais com a gente. pra eles eu dedico o tico
de hoje. tenho certeza que a essa hora eles estão rindo das minhas
lágimas. kiss.

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reparou que o ticket sequer foi destacado na entrada?

claro, entramos pelo “basculante”.

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