a barbárie, de sempre…

da folha de são paulo…

28/01/2012 – 05h00

Bens de vítimas de queda de prédios

são desviados no Rio

OBJETOS SÃO GARIMPADOS EM ESCOMBROS

Pertences de vítimas são achados em local usado como entreposto para destinação final do entulho dos prédios

30 mil toneladas de destroços já foram retiradas de local dos desabamentos, cerca de 60% do total

DENISE MENCHEN
DO RIO
JUCA VARELLA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A falta de controle sobre o material recolhido do local do desabamento de três prédios no centro do Rio fez com que a zona portuária, primeira parada dos escombros, virasse local de garimpo para operários que trabalham na região.

A prefeitura admitiu o problema e afirmou que vai tentar identificar os responsáveis a fim de que recebam as “punições cabíveis”. Além disso, prometeu reforçar a segurança em todos os locais para onde são levados os entulhos.

O atual descontrole do poder público sobre os escombros é tão grande que até um corpo de uma vítima foi achado no destino final do material, um terreno na avenida Washington Luís, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

GARIMPO

Na zona portuária, bolsas, álbuns de fotos, peças de metal e cabos elétricos e telefônicos eram retirados do meio dos escombros na tarde de ontem. Eles eram analisados e, em alguns casos, separados por funcionários de empresas privadas responsáveis pela construção do Museu do Amanhã, projeto municipal previsto para ser entregue em 2014.

O canteiro das obras do museu está sendo usado como depósito intermediário para o material antes da remoção para Duque de Caxias.

Enquanto isso, longe dali, pessoas que trabalhavam nos prédios atingidos reclamavam da falta de acesso ao entulho. Muitos querem vasculhá-lo em busca de documentos e objetos pessoais.

Ontem, o dentista Antônio Molinário chegou a ser detido sob acusação de difamação após acusar um sargento do Corpo de Bombeiros de furtar uma caixa de CDs recolhida no local do acidente. Ele disse ter visto o material dentro de um carro da corporação.

Até o meio-dia de ontem, cerca de 30 mil toneladas de entulho tinham sido retiradas do local do acidente. A prefeitura diz que isso representa cerca de 60% do total.

No canteiro de obras do museu, que é cercado, a Folha flagrou operários com uniformes da concessionária Porto Novo, da empresa Brasfond e da Secretaria de Estado de Obras revirando a montanha de entulho -a reportagem foi impedida de se aproximar.

Alguns funcionários foram fotografados, do viaduto da Perimetral, abrindo bolsas, inspecionando seu conteúdo e depois as jogando de volta à pilha de entulhos. Outro operário aparece recolhendo metal e fios elétricos e telefônicos e escondendo-os.

Nem as empresas nem a secretaria exercem funções na remoção ou no transporte dos entulhos do desabamento.

A Porto Novo é a concessionária das obras de revitalização da área e pela operação e manutenção de serviços na região portuária, via parceria público-privada com a prefeitura. Já a Brasfond faz serviços de contenção para a construção do Museu do Amanhã. A secretaria de Obras, por sua vez, não tem nenhuma obra na região. Segundo o órgão, o uniforme da pasta foi usado “indevidamente”.