além do arroz com feijão (ou andré mandou pra gente)…

Assunto: O rádio a ferro e fogo & o Lolla da Depressão

“Saudações, prezados roNcadores

Meu nome é André e escrevo de São Paulo. Estava me atualizando com o roNca #329 no café da manhã hoje e tive uma surpresa ao pegar O Globo para ler em seguida. Uma coluna trazia dados de uma pesquisa que diagnosticava a “geração Z” como farta da oferta gigantesca de audiovisual, caçando curadoria desesperadamente. Algo similar estaria a acontecer com o rádio/podcast, conforme o texto dá a entender.
Foi impossível não relacionar o texto aos comentários sobre a cobertura do Lollapaloza que está para ser cometida e o consumo descartável da música.
Nas minhas ruminações, constato que a marca Lollapalooza superou o evento e que é o fato de ser caro e de reunir “gente bonita” que atrai muita gente – em detrimento do som. Por outro lado, Não deixa de ser impressionante a habilidade dos produtores do festival em laçar pelo colarinho fãs desgarrados de artistas muito pouco similares e que em outros contextos dificilmente viriam ao Braza.
Contrastando os dados da pesquisa da geração Z com os fatos do Lolla (um verdadeiro soco na boca empírico do consumo da geração Z e também da Y, creio), chego à conclusão de que a massificação até pode ser driblada com o atual estado da arte do big data e comunicações, mas o pessoal pensa 200 vezes quando tem dinheiro na parada. Tendo que pagar algo e colocar o pé para fora de casa, o pessoal escolhe “fazer bonito” e entra de sola, gastando o equivalente a um fogão de 6 bocas num ingresso. Como a quantia geralmente é salgada, o festival vira um evento para ver e ser visto.
Ainda nesse contexto do ensaio de uma valorização (por ora, moral; talvez monetária no futuro, competindo com robôs) de curadoria, eu senti necessário demonstrar meu apreço pelo roNca roNca nessa mensagem. Já tinha ouvido o nome do programa várias vezes por muito tempo, mas só comecei a me aventurar ouvindo no ano passado e é excelente. O ritmo da fala, o humor, o componente editorial e a seleção musical me agradam muito. Os podcasts têm o problema de serem hipersegmentados e feitos a toque de caixa. O roNca, se fizesse apenas o arroz com feijão radiofônico, já superaria a dinâmica de grande partes dos podcasteiros, que transforma o quarto em estúdio. Tem algo de conversa no feitio do rádio que se perde nos podcasts e que é muito valioso – certamente, é mais uma questão de postura do que de meios de comunicação e técnica. Os fatores surpresa e descoberta também são essenciais. Para mim, descobrir coisas novas (especialmente alguns reggaes e dubs, território que pouco frequento), as versões ao vivo que ninguém mais tem para mostrar e os My Generation’s de meia hora são o que separam um bom programa de música de um podcast que pode ser ouvido acelerado em 1,5 vez.
Não acho que seja preciosismo estúpido. Sou jornalista e tenho 27 anos. Ainda que com pouca estrada, me parece que o Ruim de poucos anos atrás tem virado o novo Medíocre – o que é gravíssimo, pois suspeito que o nível já não era aquelas coisas… Não sei se fiquei deslocado com a absorção dos youtubers pelo (que sobrou do) establishment da Comunicação sem grandes resistências do público, mas é o que sinto.
Em todo caso, o programa vai muito além do arroz com feijão e ruma para cima da carne seca, na minha humilde opinião! Como demanda tempo, dinheiro e saco, faço votos pela continuidade do projeto no meio de uma enxurrada de Diva Depressão, Blogueirinha, Johnny Drops, Foquinha e quetais.
Por fim, depois de telegrafar essa verdadeira Bíblia, tenho uma humilde recomendação e um pedido a fazer. Sou jornalista tive um podcast/programa de rádio AM, chamado Perdidos no Ar (finado) – bem na onda da salada sonora do roNca e que me proporcionou alguns dos melhores momentos da minha vida. Minha colega de Perdidos, Julia, começou um podcast chamado Discoteca Do Meu Pai. Ele é breve e também tem a alegria das descobertas musicais na essência. O nome tem tudo a ver com o encontro geracional da Tripinha e creio que pode vos agradar.
O pedido, para encerrar, não é exatamente meu. É um reforço ao pedido de um casal que foi publicado na Tripa, de tocar Black Merda. Descobri a banda por acidente numa busca no Soulseek, a música é muito boa e eu nunca tive a oportunidade de conversar com ninguém a respeito dela! Muito bacana saber que o grupo tem mais adeptos.

Um grande abraço,”
André Silva