bombowie…

ferrare

Governador Valladares, que coisa. Ziggy (FOTO) pegou o busão para a estratosfera e ainda deixou um bilhete do tipo “quero cova rasa”. Dizem que acabou cremado no Queens (Nova Iorque RJ, UK) no meio da rua, esquema gasolina e fogo, como índio em Brasília. Ziggy costumava dizer que “eu não passo de uma versão piorada de Lúcio Flávio, O Passageiro Da Agonia“, herói nacional inglês com passaporte de Belford Roxo, que tanta falta faz ao Brasil de hoje. Minha memória remexe em meus arquivos como caminhão da Comlurb num lixão e vejo a imagem de David Bowie agachado num matinho nas imediações do Museu de Arte Contemporânea (MaMa), em Niterói, UK. Ele tinha comido um angu, fazia calor, natural ter uma diarreia. Eu estava passando, vi aquele mamífero estranho, amarelado, cabelo cor de fogo, magrinho, abaixado mugindo discretamente e, em meu inglês de Paquetá, perguntei: “o que que está pegando aí, gringo?”. Ziggy, num espanhol irrepreensível, sussurrou “comida so exotic”. Ficamos amigos. Olhar vidrado, sorriso suave como o de Monalisa, acabamos num ônibus da 1001, últimos bancos, onde Bowie Ziggy lambia umas figurinhas do Tio Patinhas que ele me ofereceu “do you like acid, Ferraro my friend?”, eu corrigi “meu nuembri is Ferrare” e engoli aquela porra. Doido como um touro miúra levando choque no saco antes de entrar na tourada, quando o ônibus chegou na altura de Saquarema eu olhei para Ziggy e, louco, dei-lhe 19 bofetadas. Ziggy sorria e dizia “so exotic…”. Descemos em Iguabinha onde o ruivo lambia mais três figurinhas de Tio Patinhas e apontou para um iglu, construções em forma de quitinete de esquimó que eram moda na época. Fomos lá. Os inglus de Iguabinha tinham várias características, entre elas o curioso fato de serem 18 graus mais quentes dentro do que fora; Ziggy quis entrar. Apesar do calor de 61 graus, não tirou a gravatinha borboleta, nem o suspensório cor de rosa, nem a camisa engomada, nem o colete e, contemplando aquele cômodo abafado, disse “so exotic”. Expliquei que por causa da falta de janelas, os inglus de Iguabinha era conhecidos como “peidolândia” pelos locais e expliquei: “rapá, if you dá um peido here, o peido stay here por 10, 11 meses”.Bowie olhou, olhou, olhou,  e ainda com o sorriso de Monalisa pegou um gravadorzinho no bolso, ligou e peidou…mal Gov my Gov. Muito mal por causa do angu…e ficou ali, viajandão, sentindo a onda, o gás, o iglu, tudo girando enquanto sussurrava “so exotic”. Tomados por uma larica descomunal (aquelas figurinhas do Tio Patinhas eram foda) fomos parar em Araruama, numa padaria. Ziggy tomou caldo de cana e comeu quatro croquetes. Como dizia “Ai am a vegeratian, mas foda-se…” eu disse que o croquete era de porco, sem perceber que porco não é planta, mas ele não entendeu e ruminou os croquetes. Foi quando disse a ele “I vou até o WC largar o browm sugar and vuelto fast”. Zyggy, olhar vidrado, sorriso mona, respondeu “so exocit”. Dei descarga, limpei o rabo voltei pro balcão e…cadê Ziggy Bowie????? Perguntei pro balconista “você viu um cara amarelo com o cabelo cenoura, gravatinha borboleta que estava comigo aqui?”. O cara mandou “não vi não”. Gov. my Gov. Ziggy desfez-se no ar. Os anos cavalgaram e eu só fui saber dele no Fáinal Cut como diria Aizita Nascimento. De novo, pegou o busão sem falar nada. Foda esse Ziggy. Foda. Ummagumma Ferrare, Varre-e-Sai, RJ, UK.