F.F (4)

Uma bronhola no Arpoador

Governador Valladares, o que mais ouço na rua, na chuva e na fazenda é o mantra “que calor filho da puta!”. Saí de Paquetá para me enturmar na bacanal noturna do Arpoador. Caramuru ficou em casa, parece que fez merda e acabou preso no canil. Mas, com muito calor, corri para o cais e fui para o Rio de Janeiro, atraído por algumas gostosas mamíferas que, apesar de totalmente desconhecidas, consegui identificar em suas fotos aqui neste seu soçaite site.
Cheguei a Praça 15 (me recuso a escrever em romanos, império de gonococos ditadores) e um sujeito, provavelmente flanelinha, veio caminhando em minha direção e, sem mais nem menos, slash, cuspiu nos meus cornos, gov. my gov. Ato-reflexo, sem hífem, dei-lhe uma joelhada nos cornos, deitei o escroque no chão e, com uma navalha turca afiada roçando no pescoço do bípede perguntei “que porra é essa, meu rei?”. Com voz de mariquinhas, ele desovou a frase de sempre: “Desculpe, é o calor”. Tá lá o corpo estendido no chão (Buarque, Chico).
Gov. my. Gov. a caminho do ponto de ônibus vi um sujeito se abanando com um cachorro. Curioso, cheguei perto pra ver se cachorro abanado faz vento e vi que ele estava ouvindo o Ronca Ronca num gravador K-7, colocado junto a um poste. Afro ascendente como eu, o ouvinte fazia caras e bocas, arrotava e disparava um arsenal de flatulências. Cheguei perto, dei uma mijada e perguntei “como vai, vai bem?”. O ouvinte, mais de 2 metros de altura, respondeu bufando, suando e vomitando: “Ficaria melhor se aquele vadio do Ferrare aparecesse por aqui. Estou há dias aqui na saída das barcas esperando o filho das putas para meter-lhe a porrada”. Perguntei por que e o ouvinte-mamute disparou “ora, porque está um calor filho da puta. E quando está um calor filho da puta eu gosto de meter a porrada nele.” E continuou se abanando com o cão.
Gov. my Gov. está na hora de rever meus preconceitos.
Desde que cheguei do Afeganistão, o que mais fiz foi me embolar no chão com brancos, negros, indios, asiáticos e até parlamentares, batendo e apanhando, como um poeta corno apaixonado por uma vadiola. E, pensando nisso, fui me informando. “Meu rei, onde fica o Arpoador?”. Uns diziam, “pegue aquele onibus, ô babaca. Tô com muito calor”. Outros me olhavam e informavam “pegue qualquer onibus com duas portas que venha nessa direção, porque está ventando. E quando venta o motorista pára porque fica menos quente”.
Caminhando e cantando, peguei uns 12 onibus. Como entro pela janela de emergência, não pago passagem. E ninguém reclama quando vê um afro ascendente de sunga camuflada e colete a prova de bala. Cheguei no Arpoador 13 horas depois. O surubão tomava conta da areia. Surfista embaixo de pirâmide com o lorto mais robusto do que túnel do Joá. Pirâmide é aquela brincadeira tropical de um trepar no ombro do outro até formar uma espécie de elevador Lacerda humano. Tinha um ouvinte de Belo Horizonte (Oi FM, 94.1) devorando um leitão à pururuca na calçada enchendo os cornos com as excepcional cacha a “Cio da Capivara”. Depois, trêpado, o mineiro levantou, pegou a carcaça do leitão e a garrafa de cachaça vazia e colocou numa lixeira.
Porra, digo, percebi que a poucos metros dali, alguns cariocas autênticos faziam cocô num jornal e jogavam pra cima, Gov. my Gov. Um deles tinha acabado de comer uma jaca e jogou o resto no asfalto. Porra, digo, gente, por que isso? No afeganistão, a cada coronel inglês assado que Bin Laden servia pra geral da Al Qaeda, no final a carcaça ia pro lixo. No Arpoador…Gov. my Gov., no Arpoador tem gente que caga o lugar onde vive. Nem hiena faz isso!!!!! Dá pra entender? Hein??????? Você já viu porco cagar no próprio chiqueiro, Gov. my Gov.??? Já viu? Pois no Arpa, Arpoador em paquetanes, neguinho joga lata de cerveja na areia, resto de melancia no mar, caga na calçada. Chega!!!!! Only killing!!!!!! Só matando!!!!!!!
Mas, prosseguindo nessa crônica de uma suruba anunciada, no mar vi quatro ouvintas gostosas, todas de São Paulo (Oi FM, 94.1), biquinis enfiadinhos no rabo, engatinhando, brincando de trem fantasma. Meu falo bateu na testa de tanto tesão que senti vendo a cena, mas não podia revelar quem eu sou porque ainda tem muita gente querendo me carcar, querendo me enfiar a porrada. Só me restou sentar na Pedra do Arpoador e tocando uma bronhola. Faz parte do meu  show, Gov. my Gov.
Vi um ouvinte de Recife (Oi FM, 97.1) dançando frevo em cima de uma bicha do apocalipse que, penso eu, andou se roçando pra cima do cangaceiro-ouvinte que não gostou muito da parada. Gauchos (Oi FM, 90.3), campinenses (Oi FM, 94.1) e ribeirão pretenses (Oi FM, 94.1) brincavam de roda. Todos nus, como manda o ritual do Arpoador, sob as lentes do fotógrafo da coluna Gente Boa, do Globo.
Gostei do que vi, Gov. my Gov. Pena que o nevoeiro azul atrapalhava um pouco, mas em breve chegarei pelos fundos do Parque Baranga de Ipanema para visitar seu programa no estúdio móvel ali pousado. Posso ir, hein? Fala, nêga, digo, fala chefão! Depois não diga que não quis falar de flores.
F. Ferrare, com um calor filho da puta.