flavão “selvagem” e a selvageria na ilha…

Assunto: Kaôzotic stories

“É… surubada em Paris, picolé em Calgary, açúcar em Berlim, biscoito em Leeds. Que mundo!

E na Baía da Guanabara, Paquetá, Ilha do Amor, como será que andam as coisas?!

Meu preto, ontem tive que ir para o supermercado aqui na jurisdição da Ilha do Amor. A banana acabou (saca?) e sob ordens expressas da matriarca D. Capivara, 84, fui designado para tal missão.

O esquema foi Chernobyl: luva de mergulho/neoprene, máscara césio 137, capacete specialized fluorescente, uma faca que ganhei de um artesão no sertão do Piauí na cintura, bota de borracha, roupa velha e mais uma faca de mergulho, estilo Rambo o Empalador dentro da bota, nunca se sabe né?

Me dirigi inicialmente para um mercado “popular” tipo aquele famoso pelos aniversários sold out saca, skol 0,65 centavos, balde de margarina 1,90, carne 7,50 o kg. Fica localizado num bairro residencial, próximo de uma das subidas para o tal morro “que é ruim de invadir”. Pois bem. De carro passei em frente ao estabelecimento e por um segundo pensei que esse papo de Covid 19 era k-ô. Juro, arrisquei descer do carro e meio de longe, olhei, pensei, desisti e voltei pro 4×4. Juro, a casa estava muiiiito cheia. Cheio de irmão da mendicância na porta, carrinho de bebe pra lá e pra cá. A massa caindo pra cima de ovo de páscoa. Aí doido, uma loucura! Bolei…inacreditável!!!

Atônito, vazei dali e fiz nova tentativa, dessa vez num mercado conhecido localizado numa “avenida”, com acesso mais conveniente para quem chega de carro. Nesse você sentia a pressão psicológica, meio vazio, maior esquema de segurança com aqueles locutores informando os cuidados que deveríamos ter, mantendo a distância segura nos caixas, aguardar. Os clientes nitidamente, como eu, estavam na atividade.

Bom, durante as compras eis que me deparo com uma câmara fria lotada de “Rainéquen”, aquela ordinária holandesa, tá ligado? Como estou no período sabático imposto pela quarentena, chorei de emoção, depois ri, salivei. Era como se uma deusa dos países baixos, com aquelas tranças ruivas dissesse “vem Flavão, vem com tudo pra cima meu nêgo!”. Próximo a câmara, uma torneira e sabão líquido para os clientes higienizarem-se aí hahahahaha. Contabilizando o tempo que restava e os ítens a arrematar, peguei 4 latas, lavei e que felicidade. Uma a uma sendo sorvida naquela arapuca humana chamada supermercado. Que fim dessa existência dedicada a destruição de tudo e todos, massacrante, criando dependência das coisas mais inúteis possíveis. Que foda mal dada a de nossa espécie…

Entretanto, baixei a guarda achando que estava na moita, passando batido. Foi questão de tempo pra eu levar uma chamada “na moral”, papo retão do amigo da Swat que fica de butuca atrás de adictos e outros cidadãos suspeitos dentro do recinto. Com a diversão interrompida, Mercita e yo fechamos o pacote, vazamos e foi isso até chegar em casa e cumprir todo o protocolo ritual de limpeza para entrar na ocupação. As facas?! Não precisei usá-las…

Redigi esse kôzinho ouvindo Dark Doom Jazz (vários e meio sombrio), Stanley Clark (1974) e Billy Cobham (Total Eclipse, 1974). Todo abril “ovo” discos lançados em 74, mês/ano de meu nascimento. Aniversário, parabéns, lembrança roNca?! Já são 18 anos sem um “parabéns neguin, já é, me dá um real aê”…triste…

Que mundo!”

Prof. Salvaje,
Alive in Baía de Guanabara