já era (2)!

A morte do Maracanã 

por Carlos Tautz

É estranha a apatia que toma conta da sociedade brasileira em torno da verdadeira destruição a que o governo do Estado do Rio de Janeiro submeteu o Maracanã. Não fossem por algumas ongs e associações de torcedores, que lançaram a campanha O Maraca é Nosso, mas que ainda não obteve o apoio popular que merece, teria passado em branco, com senões isolados de alguns colunistas da imprensa desportiva, o assassinato tanto físico quanto simbólico que sofreu o Maracanã, ícone do esporte mais praticado no mundo, elemento de identidade cultural brasileira quase tão importante quanto a própria língua portuguesa e o samba.

E o que talvez seja ainda pior nessa estória é o que pode vir no lugar do Maracanã. Em uma estratégia de obscurantismo sobre o futuro do estádio, todas as (poucas) declarações oficiais a respeito do seu destino indicam que seus administradores querem transformá-lo em arena de megaeventos. Note-se, aí, uma extrema perversidade oculta.

O conceito de arena implica a elitização do acesso ao monumento e encerra o plano de transformar o que sobrou do Maracanã (apenas a fachada está em pé) em qualquer coisa que dê muito dinheiro para poucos, mas que em nada lembrará o estádio popular que se caracterizava por ser o espaço de todos, de pobres e de ricos, de negros e de brancos.

O governador Cabral não foi pioneiro neste tipo de barbaridade. A dupla Garotinho&Rosinha, que controla Campos e levou a cidade a ter um dos piores índices de educação básica, também já havia feito das suas com o Maraca, quando se sucederam no Palácio Guanabara.

Pouco antes do Pan de 2007, destruíram a geral para atender a supostas exigência da Fifa, que proíbe o público de assistir os jogos de pé.

Vertebraram gostosamente a coluna com tal serviçalidade aos Havelange&Teixeira&Blatter, que àquela altura nem se deram ao trabalho de procurar saber como a Alemanha disse um não rotundo à pretensão que a Fifa tinha de, também lá, acabar com a tradição de os torcedores verem o jogo de pé.

Pois, aqui, Cabral superou o limite das gangues de garotinhos e da Fifa, a lavanderia sediada – emblematicamente – na Suíça.

Pegou 500 milhões de dólares com o BNDES (mais tarde, o TCU apontou sobrepreço na obra e incapacidade técnica de o Banco acompanhar a sua execução), repassou a dinheirama a um consórcio em que despontava a sua velha conhecida Delta e pronto: pôs abaixo o mais importante estádio da história do futebol mundial.

Agora, o boato é que o onipresente Eike, outro dileto do governador, teria interesse na “arena”. Mas, seja lá quem assuma o estádio, que já terá sido transformado em qualquer coisa que não um templo do futebol, carregará para sempre o pior dos títulos: o de cúmplice da morte do Maracanã.

Carlos Tautz , jornalista, é coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e Controle Cidadão de Governos e Empresas

(sim, o click é de autoria da xeretinha!)