MPB?

“Olá Mauricio! Como vai? Pegou muita chuva?
Na última sexta eu comprei o disco do Jeneci lá na Tracks.
Nessas últimas semanas eu ouvi os discos de grande parte dessa turma que é considerada a nova mpb.
Tulipa, Bárbara Eugênia, Siba e a Fuloresta, Céu, Jeneci, Do Amor, Lucas Santtana, Mombojó, Móveis Coloniais de Acaju, Orquestra Contemporânea de Olinda, Cidadão Instigado, Superguidis e Violins, pelo que eu consigo me lembrar. Talvez mais um ou dois.
O que eu conclui dessa turma toda é que são todos muito bem produzidos e são competentes nas gravações. Dos que eu já assisti ao vivo, posso dizer que fazem um show satisfatório. O problema é que isso tudo é o básico. Ninguém ousa em nada. Nem nas apresentações nem dentro dos estúdios. Os shows são quase reproduções exatas do que está no álbum.
Além de não ousarem nada musicalmente, as letras são extremamente vazias, passivas; quando não, conformistas. Ninguém diz nada! Ninguém quer se expor. A realidade do país passa longe da música dessa turma.

As oligarquias do nordeste continuam, em pleno século XXI, governam aqueles estados como se fossem capitanias hereditárias, e a gente fica ouvindo “efêmera” da Tulipa Ruiz?

Acabou de terminar um governo extremamente corrupto, que ainda conseguiu manter o mesmo partido no poder por mais quatro anos, que aparelhou o estado à bel-prazer do partido, que transformou o parlamento numa casa de negociatas como nunca antes. A casa dos horrores, segundo a The Economist. E a trilha-sonora é “bubuia” da Céu?

A farra do dinheiro público em construções de estádios estapafúrdios já está acontecendo e vai acontecer à todo vapor nos próximos anos. Os governos federais, estaduais e municipais vão torrar dinheiro à esmo, evidentemente, ao som de “feito para acabar” do Marcelo Jeneci.

O crescimento econômico não quer dizer absolutamente nada se daqui a 5, 10 ou 20 anos, quando o quadro internacional se reverter, o país continuar afundado na mais completa ignorância. O governo melhora a educação básica a toque de caixa pra atender as exigências das multinacionais que se instalam país à fora quase de graça. Aí virá o Otto, fazendo das tripas coração para cantar o verso “é por isso que da primeira vez dói” para os desiludidos que acreditavam num país de todos.

Enfim, 87% de aprovação a qualquer governo não pode gerar um quadro diferente em nenhum país do mundo. Isso tudo não é privilégio apenas da música, nem desta geração que estamos falando. A turma dos anos 60 está toda quietinha faz tempo. Há tempos que não existe uma postura política e social ativa na classe artística deste país. Aliás, no século XX, podemos contar nos dedos de uma mão quantas vezes a classe artística se mobilizou para combater (a palavra é exatamente essa) o senso comum e as situações políticas absurdas que aconteceram: a Tropicália, na música, o Cinema Novo, na cinematografia e os modernistas da Semana de Arte Moderna de 22, na pintura e na literatura.

As bandas dessa geração não têm relevância cultural nenhuma, e dificilmente terão. A parte da sociedade passiva, entregue e conformada, da qual faz parte essa galera toda, não pode produzir nem processar nada diferente. Então, mesmo quem não está em evidência na mídia, como é o caso dessa turma, está no mesmo barco de todas aquelas porcarias que a globo despeja sobre nós todos os dias.

A única e honrosa exceção no meio dessa turma toda é o Cidadão Instigado, porque tem um músico visivelmente superior aos outros, tanto na execução de seu instrumento quanto na composição das letras. Aliás, o Catatau é quem torna o álbum do Otto audível no meio das bobagens que ele canta.

Quando eu ouvi o álbum do Jeneci, desisti de ir ao show no teatro da oi. Não valia a pena o deslocamento.
Depois eu vou ouvir o áudio, mas dificilmente vou me arrepender.”

Um abraço,
Igor