o tecido social…

Governador Valladares, Balda Ferrare e eu decidimos passar uma temporada aqui no piscinão de Saint Gongôlo, pelo menos até o calor dar uma trégua, lá para 2020, nome daquele filme que mostrou o ser humano transformado em pastilha Valda. Você viu “2020”, Governador? Viu? Pois hoje, estava eu tentando dar uma carcada em Baldinha na areia quente (ritual sadomasô de casais modernos que aparecem no caderno Ela do Globo) quando um homem com calça de tergal e camisa Colombo, bem simples, fala baixa e mansa nos interrompeu. Ele disse que trabalhava na HVP&P INC uma multinacional americana especializada em contratar pobres para fazer figuração em filmes multimídia voltados para o mundo cão. O senhor, que suava pouco, disse que a comunidade local (vulgo favela) informou que eu tinha uma forte ascendência sobre os locais do Piscinão e que liderava, inclusive, um bando que vai fazer rolezinho (porra é rolêzinho ou rolézinho?) no Shopping Leblon por esses dias. O homem da tal HVP&P INC, muito educado, me elogiou. Disse que sou parte de um tecido social cada vez mais robusto que busca uma equiparação de raça junto aos andares superiores do beliche social, mas me alertou que não devo acreditar no que a burguesia fala porque, segundo ele, a burguesia fede. Baldinha, irritada porque passava óleo diesel na pele mas nem por isso ficava negra, disparou: “Peraí, você tem essa fala de malandro rico, usa falsa roupa de trocador de onibus em dia de folga e vem xingar a burguesia? Porra, meu chato, o único burguês aqui é você”. Balda falou, se mijou toda (até agora não sei porque) e foi levar seu minusculo corpete de 1 metro e 36 de altura para dar um mergulho. E me levou junto (FOTO). O emissário da tal HVP&P INC disse que ia perambular pela areia, tomada  de negritude, samba e funk, para, segundo ele “fazer uma imersão nesse vácuo social que separa o homem de seus desejos mais básicos e que por isso fazem com que ele, o homem submisso, tenha que apelar para o rolêzinho para abiscoitar minimamente as benesses da sociedade de consumo”. Coitado, ele acabou de falar e um dos caras que jogavam altinho com uma lata de gordura de côco, chutou mais forte e a lata pegou no queixo do babaca, digo, do espertalhão da HVP&P INC. Desmaiado, exibiu entre as pernas um iPhone i 5 branco (por que não preto, hein?), um maço de notas de cem dólares e uma camisinha Ola autografada por Anitta. O povo, penalizado, depenou o homem que, nu, foi amarrado a uma jangada rumo a Cocotá, Governador Valladares Island, onde deve estar se explicando até agora. Ummagumma Ferrare, Saint Gongôlo Swimming, UK, RJ.