oh yoko…

yoko2

Assunto: yoko ono
“prezado mauvall,
fiquei um pouco aborrecido com o comentário de shogun, ao final do 135, sobre yoko ono.
basicamente, eu realmente não consigo compreender, por mais que tente, o arraigado preconceito que a artista japonesa sofre, desde há pelo menos 45 anos. não dá pra entender. com toda certeza, o preconceito é fruto daquilo que fez john lennon afirmar, na década de 1970: yoko é a artista anônima mais famosa do mundo. porque todo mundo sabe quem ela é, mas quase ninguém sabe o que ela faz. ou se recusa a querer saber.
é incrível que isso permaneça, como uma craca no casco de um navio, como a posição oficial de parte da crítica e de um certo público “bitolado”, em pleno século 21! e mais incrível que alguém antenado, inteligente e sempre bem informado como shogun aceite tomar parte dessa infâmia! não curti. de verdade. em primeiro lugar, porque não consigo concordar com o clichê que torna a imagem de yoko ono como uma mera aproveitadora sem talento.
vale lembrar: yoko ono está sendo homenageada com uma retrospectiva de sua carreira no MoMA, o mais prestigioso museu de arte moderna do planeta. e pra constar, não é a primeira vez que ela expõe sua obra lá. desde a década de 1960 – antes de yoko ter cruzado o caminho do joãozinho – ela já era figura carimbada por lá.
também não custa lembrar: yoko era uma artista famosa antes de john lennon ser famoso. depois que se casaram, ela lançou vários álbuns na década de 1970, em paralelo com a carreira do marido. pelo menos um desses discos merece figurar entre os grandes discos da década de 1970, o fantástico “approximately infinite universe”, de 1972.
os álbuns “plastic ono band” (1970);  “fly”, de 71, se têm sua marca no experimentalismo radical e desconstrutivo, que faz yoko soar como siouxie sioux, o punk e b52’s ANTES de siouxie, punks e b52’s aparecerem, também merecem melhor atenção. o que poderia diferenciar a sonoridade e as propostas desses discos de um “sister ray”, do velvet underground, ou de iggy pop?
eu entendo que o lado desconstrutivo da obra de yoko, tanto musical quanto artístico e conceitual, seja difícil de ser digerido por ouvidos e olhares acostumados com “formas naturais”, e pouco ruído.
mas o ruído é musical! e artístico, também! ou caravaggio, marquês de sade, artur bispo do rosário, peter greenaway, dadá, stockhausen, schoenberg, velvet underground, björk são lixo?
o lance é que yoko nunca foi uma “viúva negra”.  e muito menos a “mulher que perverteu john lennon e acabou com os beatles”.
ela fez e continua a fazer MÚSICA. inclusive POP. e PUNK. baladas e rockabilly. new wave. eletrônica.
minha opinião: as faixas utilizada para ilustrar o ronquinha 135 com a música de yoko ono talvez não tenham sido as mais adequadas para oferecer às e aos ouvintes – e quem sabe, surpreendê-l@s – a face “melódica”, “harmônica” e “tradicional” de yoko. há canções não deixam nada a desejar a qualquer hit pop da década de 1970. mas não apareceram – e continuam escondidos – na maior parte das vezes por má vontade.
se alguma dúvida ou controvérsia ainda persistirem, o que custa, de verdade, ouvir os discos dela?
ANTES, DURANTE E DEPOIS de john lennon?
sugestões aos detratores – em especial, aos que se recusam a ultrapassar os clichês da perseguição mediática e fanática que yoko sofreu e ainda sofre:
death of samantha
move on fast
kiss kiss kiss
i’m moving on
peter the dealer
if only
a thousand times yes
woman of salem
walking on the thin ice
loneliness
she gets down on her knees
dogtown
winterfriend
a story
midsummer new york
mrs. lennon
she hits back
poderia prosseguir, mas vou parar por aqui. as canções acima são um roteiro suficiente e básico para quem quiser saber o que realmente é o trabalho musical de yoko. depois, cada um fica por sua conta e vai atrás, se quiser.
por favor, maurício, não me leve a mal, mas não é permitido falar mal de yoko – ou de quem quer que seja – sem conhecê-la direito. é absurdo mais ainda reduzir o seu trabalho por seus aspectos mais controversos.
é no mínimo honesto ouvir antes, dar uma pesquisadinha básica.
ornette colleman, klaus voormann, eric clapton, ringo starr, björk e até lady gaga que o digam.
abraccios,”
andré