ping, pong, ping, pong…

“Ah, mas eu achei muito bom o Mauricio ter publicado o meu email. É bom que as pessoas se sintam provocadas o suficiente para se posicionarem. Então, como muita gente leu aquele texto, vou deixar algumas coisas bem claras. O que fiz foi uma crítica à classe artística brasileira atual, ou seja, a todos que produzem algum tipo de arte hoje. Focalizei alguns nomes emergentes da música popular e contextualizei com a situação da sociedade brasileira. Aliás, gente como W. Benjamin e T. Adorno nem consideram música popular e cinema como arte, e sim meras reproduções de formas “puras” de arte, como a música clássica e a pintura, mas esse é um papo mais complicado e difícil de travar.

O recado do Gilberto é muito legal porque mostra exatamente o que eu falei no meu texto. A acomodação reina absoluta no país. Falar em idade é uma falácia, os acomodados estão aí em versões de diversas idades, credos, cores e orientações sexuais, tanto quanto suas antíteses, que, para desgraça do país, estão em menor número. Duas das figuras públicas que mais lutam contra a expansão do senso comum, Ferreira Gullar e Alberto Dines, devem somar quase duzentos anos. Brilhantes jornalistas. Como a mídia foi evocada, aí vai o recado de um estudante de comunicação: Não deixe todo o serviço nas mãos dela! As empresas midiáticas têm interesses cada vez mais sombrios. Desde a frase mais inocente até o editorial, eles estão impondo uma forma particular de ver o mundo, que muitas vezes não corresponde às necessidades da sociedade. O estado do Rio de Janeiro tem apenas um jornal de grande porte. Péssimo. Sem competição a redação e a linha editorial perdem qualidade. O papel fiscalizador da mídia é apenas uma parte da engrenagem, o resto cabe à sociedade. Tornar pública suas opiniões, fazê-las chegar aonde deve e cobrar resultados nunca foi tão fácil, porém demandam esforço. Os novos meios de comunicação estão escancarados para isso; claro que uma passeata no centro de alguma capital ainda tem seu espaço. Ontem mesmo, 700 pessoas estavam no centro de São Paulo protestando contra o aumento na tarifa de ônibus. R$ 3, e aí? Alguém vai dizer para aquela gente ficar em casa escutando Do Amor?

Quanto à situação econômica e política do país, eu fui bem claro no outro texto. O crescimento econômico é fruto de um fluxo de capital internacional, saindo dos países ricos para os emergentes. Quando o quadro se estabilizar, o Brasil só sairá em posição privilegiada se investir em setores que construam uma nação sólida. Esses investimentos são para ontem em pesquisa e tecnologia, educação básica e superior, saúde, infra-estrutura e indústria de bens de consumo. O quadro atual é preocupante, investe-se no ensino fundamental e médio para tirar as pessoas do analfabetismo e jogá-las no analfabetismo funcional, criando mão de obra barata para empresas estrangeiras. A democracia brasileira, tida como em expansão, caiu na lista da The Economist de 41ª para 47ª. Os motivos para a queda e para a má colocação passam por vários dos assuntos que comentei acima. O grande desafio deste país no século XXI é deixar de ser apenas uma das principais economias do mundo e se tornar uma das principais nações do mundo.

Finalmente falando de música, as letras sobre amor sempre estiveram e estarão em alta. Excelente! Adoro-as. Um dos meus discos preferidos, Truth do Jeff Beck Group, é todo sobre amor. Porém, existe muita contestação ali, na forma de se vestir, de tocar e cantar, por exemplo. Nunca e em tempo algum quero comparar pessoas tão diferentes. Citei a tropicália, os modernistas de 22, o cinema novo – e esqueci o teatro do Oprimido, do saudoso Augusto Boal – para exemplificar o que foram movimentos culturais que marcaram o país. A partir disso baseio minha opinião de que essa “nova MPB” não tem valor cultural expressivo (faltou essa palavra no outro texto) nenhum. Eles não exercem a função que a arte tem de incomodar, tirar as pessoas do ostracismo. No fim das contas, são o reflexo da sociedade brasileira.”

Igor