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aTRIPA!

semana retrasada, recebi email de um ouvinte paulistano (desconhecido) informando que passaria o carná na cidade de são sebastião… e que desejava voltar à paulicéia vestido com o maNto!

perguntei qual seria o size e onde ele ficaria.

as respostas foram direto no alvo… para facilitar a desova!

ele disse que conheceu o roNca pelo pessoal do escritório (de arquitetura) onde trabalha…

e que a tchurma é “cabeleira alta” há muito tempo!

deixei o pacotão (camiseta, compacto, adesivo), devidamente, condicionado à fotografia da rapeize e ao futuro projeto da sede paulistana do roNca… afinal, o office dele acabou de fazer o instituto moreira salles na avenida paulista!

serve pra nossa maloca, né?

segura…

( :

ah, o papelzinho na mão do barbudo é o bilhete da mega-sena… hahaha!

quando eu disse ao guido que ele era um cara de sorte por ter a camiseta M e pelo local onde ele ficou no rio…

pedi para jogar na mega-sena pra mim… e ele jogou!

corre amanhã!

já pensou?

( :

arriba paNcho…

Subject: Bandas MEX Informação
“Durante um bom tempo (e eventualmente volto nela) ouvi essa banda que conheci lá, sobretudo, os discos ‘Bestia’ e o ‘Lejos…’. Há umas semanas ouvi o último, ‘Arunima’ recomendadíssimo!!! Que belíssima vocalista!

Lembro-lhe, que embora descendente de porto riqueños, nosso intrépido Omar Rodriguez mora no estado de Jalisco (cuja capital é Guadalajara) onde mantém um estúdio e produziu a banda local “Le Butcherettes” (e tocou o baixo no disco ‘Sin Sin Sin’ 2011 – recomendo!). A vocal dessa banda a boa Teri Gender Bender, hoje, além de sua banda punk faz parte da banda do Omar “Bosnian Rainbows” e que lançou um single intitulado Torn Maps e com disco previsto para breve.

As bandas independentes mexicanas do DF trabalham muito em cima da tradicional música “ranchera”, “sones veracruzanos” que aliás ouvi muiiiito com meus anfitriões em Toluca e DF. Eles eram mais velhos e bastava umas cervezas em uma velha cantina daquelas de 100 anos onde um ancião de alguma etnia indígena serve os comensais, para levantarem e cantarem com orgulho e em uníssono velhos clássicos da popular música de ‘corno’ local. Sim, as letras tratam exatamente das mulheres que ‘vazaram’ com algum bandido safadão e deixaram os ‘buneco na pista. Ganhei alguns cd’s com tais músicas que fazendo uma comparação grosseira seria como os sambas canções aqui, os tangos argentinos, os fados portugueses, etc. etc.

Caso tenha micado minha ida para o Piauí estaremos no Circo prestigiando os Cafés com certeza!

Ps: as fotos são do La Opera, famoso bar de Zocalo, clássico, mobiário espetacular mas onde a principal atração é um ‘teco’ deixado no teto pelo nosso torcedor maior Pancho Villa após algunas cervezas. A mesa que fica embaixo da ‘caroçada’ é a mais solicitada da casa e sempre está reservada. E aqui, a SS tirando onda né? lesk…ééé…

Saludos de Isla Salvaje de lo Amor!”

F.S. (the wild teacher)

Discografia Hello Seahorse!:

…and the Jellyfish Parade (2006)
Hoy a las Ocho (2007)
Bestia (2009)
Lejos. No Tan Lejos (2010)
arunima (2012)

Discografia Le Butcherettes:

Kiss & Kill (EP 2008)
Sin Sin Sin ( 2011)
Cry Is for the Flies (2013)

klebinho mandou pra gente…

Subject: Calling+Carr
“Fala Mauricio

Duas coisas.

1) Olha a simpática bandeirola da torcida do Celtic no jogo contra a Juventus. Faz lembrar a saudosa bandeira da Vanguarda Alvinegra com a capa do Vol.4 do Black Sabbath. Anos 90. (Será que eles tem uma do Rod Stewart ?)

2) E esse livrinho do David Carr. Uma autobiografia barra pesada, Carr é colunista do New York Times, mas fez questão de abrir seu baú e mostrar seu passado casca-grossa. Muita sinceridade. Não dá pra parar de ler. Imagina se a moda pega na mídia brazuca ?

Detalhe: o foi palco de todas as histórias de Carr é a Minneapolis dos anos 80, na mesma época de Husker Du, Replacements e Prince. Era animada a cidade ou não ?

Abraços”

Kleber

o ar…

“Prezado Mauriço,Sou paulistano, já atuei muito como DJ e hoje sou fotógrafo, atuando profissionalmente há bastante tempo. Mas uma paixão tão grande como a fotografia, só a música mesmo. Já discotequei nas pistas do Aeroanta e do Dama Xoc nos 90, entre outros locais menos transitados mas tão alternativos quanto.

Seu desabafo e relato (dia 2), no ticotico, me deixaram um pouco deprê, por conta  do que já perdemos e da perspectiva sobre o que vamos ter que aguentar no futuro, mas existe sempre um outro lado, o lado B…

É curioso como as coisas acontecem, e nos vemos às voltas com algumas coisas
que temos em comum. Soube que trabalhou com a gabaritada Ana Maria Bahiana
(quem descobri sendo uma das primeiras pessoas a publicar ensinamentos e
impressões sobre rock, MPB e afins)… …vivi no Rio de Janeiro no início
dos 90, onde tinha a oportunidade de desfrutar das bases que você incorporou
à Fluminesne FM e claro na Globo FM. Radios com programação bacana,
inovadora e descolada, dava de 10 nas outras rádios do Rio de Janeiro e de
São Paulo, pra onde voltei e por onde eu sempre permaneci rodando mesmo
morando no Rio, raras as exceções das USP fm, Brasil 2000 (onde também
botava o bedelho para fazer sessions de Zappa, Reggae e lados B de bandas as
quais a audiência conhecia apenas o superficial e mais vendido, claro que
por conta das programaçõe$) e uma 89 mezzo mussarela mezzo jabá.

A rádio me lembrava a Nova Excelsior do início dos 80 (com o Kubrusly), com
uma programação que não permitia a repetição da mesma música num prazo de
vinte dias. Os caras tocavam um disco do Frank Zappa inteiro por programa,
no Prisma, baita programão… …conversei com o Kubrusly no ano passado,
mas notei que o cara adquiriu uma característica “global” que desmontou dele
aquele ar inovador e bacana praca, infelizmente. Era também um professor…

Por tudo o que sempre ouvi, por tudo o que aprendemos a ouvir, pelas dicas e
pelas valiosas informações das entrelinhas, só posse te agradecer e
estimular a continuar na pista, saindo do tráfego constante e repetitivo.

Outra coisa bacana,  que me foi forte referência, foi ter podido frequentar
quase todos os programas “Fabrica do Som”, transmitido pela TV Cultura nos
80’s, e poder transitar com toda esse gente que algum dia fez musica boa,
com independência, aprender com aqueles que tocam e compõe sobre suas
fontes, driblando os produtores, subvertendo, enfim, a industria fonográfica
sanguessunga, mas conhecer e seguir trabalhos de músicos foi o que sempre me
orientou para saber como pesquisar outros bons músicos e assim por diante.
Claro que entrar na galeria do Rock e arredores, visitando Baratos Afins,
Wop Bop, London Calling e a Modern Sound, do Rio, trazia um frio na espinha
ao ver o que existia e acontecia fora da Brasa, o que rolava pelo mundo.

Mas como dizia Fiori Gigliotti, o temmmmpo passa, things change, e o mundo
tem uma nova ordem e a ordem, infelizmente, é consumir por consumir, vender
barato e sem consequências. O que não nos pode abalar (*), sei que exitem os
locais específicos para esse prosopopéia toda, e tem gente que pode sim
bancar essas idéias. Este ano, tive a oportunidade de ver Bootsy Collins com
sua banda completa, equipamentos e engenheiros de som todos “importados”,
tocando no meu vizinho Sesc Pompéia, às custas de módicos dezrreal. Também
levei a patota toda (a mulher e os três filhos) pra ver Uakti na mesma
unidade por R$ 5,00. Ontem, dia 6, a dose foi cavalar… …assisti a um show do Nuno Mindelis e banda por R$ 3,00 !!! Ao dizer isso para o Nuno, ele confirmou: “Impressionante, é um milagre, pois nos pagam bem esses caras !”

Claro, aqui em casa somos comerciários e pagamos uma
merreca pra ver o que tem de bom e muita qualidade, e a rede Sesc ajuda. Mas
ao observar esta benevolência criticamente, sabemos que as coisas ali
funcionam por um motivo bem positivo, pois os artistas comentam que são bem
pagos, e a audiência sorri com os preços praticados lá. Funciona porque a
finalidade do Sesc não é criar demanda, atingir metas ou simplesmente vender
produtos em escala chinesa, vendem cultura para atender a pouca demanda
existente, raramente não consigo comprar o ingresso que quero, sempre tem
disponível apesar de ter que “ficar esperto” pra não acabar…

Conversando com o Danilo Miranda – Diretor Regional do Sesc SP –
pessoalmente, parece que atingir a utopia é algo comum naquele local. E não é só com a música, também ocorre com artes, cursos, atividades esportivas… Melhor
pra nós !!

Musica para mim é tão importante e vital quanto o ar que respiro, não rotulo
musica por estilo ou músico ou banda ou regionalismo ou nacionalidade,
costumo dizer para os que gostam de minhas dicas de bons sons (confesso que
muitas vezes elas vem de seus sopros fabulosos, mas sempre concedo os
créditos desta origem preciosa, indicando o Ronca pros desatentos, como as
demais fontes) que classifico as musicas em dois quesitos apenas: as musicas
boas e as musicas ruins. E é estranhamente ridículo saber diferenciar uma da
outra, o que parece impossível para a maioria das pessoas ao redor… …mas o que parece querer nos tirar do prumo é que os produtores, a mídias e os programadores das radios que estão aí sabem disso muito bem, mas trabalham com o inverso de nossas necessidades: optam pelo ruim, pelo mau gosto, pelo grotesco, porque é o que vende.

Mas sei que vai acalmar essa baderna toda, e nós temos que fugir do banal, sim. E ter essa coragem sua, muitas vezes, beliscando o próprio torso, o que não podemos abrir mão das convicções e principalmente, do que é verdadeiro.

(*) sofro com esse probelma já a alguns anos, existem hoje uma legião de
“fotógrafos” que foram pra Disney e trouxeram uma Rebel na bagagem, que
moram com o papai e estão com as contas pagas e responsa zero. Desembarcam
aqui já com o título de Fotógrafo Profissional, e se admiram de fazer
trabalhos “bacanas” como cobrir uma festa de gente “popular”, cobrando
aqueles valores que cobrem a conta do buteco. Canso de ouvir que “tem um
cara fazendo um preço muito melhor” dos clientes, que hora ou outra acabam
por me ligar novamente, porque o sujeito fez uma baita M*&%@ que não serve
nem pra usar como textura de cesto de lixo. Portanto confio que ainda vai
assentar uma certa poeira, a verdade deve prevalecer, e o que é bom, tem que
durar. Pelo menos, um pouco mais…

(**) vai um plesentinho do Mr. Bootsy pra ti. Feita com uma compacta pra
furar os severos seguranças da choperia do Sesc, portanto, fotinhaz com
menos pixels e mais intenção.

Abração forte, fica na ativa e vamos seguindo onde for, bro ! Só não nos
abandone sem avisar.
Mais uma vez, meu muito obrigado !”

Simão

maliando…

segue forte a reverberação das presenças de alexandre & moreno, terça passada, no jumboteKo.

o especial MALI tocou fundo na alma d”aTRIPA!

Subject: Hipopótamo
“O 310 foi massa, fez bater com mais força o coraçãozinho. Música simples e riquíssima, que emociona pela sinceridade. A essência é essa, né, som que liberta a alma. satisfy my soul, como diria Bob Nesta, aniversariante da semana. O voo me lembrou o “quero ser negro, pai” rsrsrs

E nesta bula está faltando ele – Al Green. Adorei o “take me to the river”, ainda mais tocando no contexto dos rios africanos, onde tudo brota.

Valeu, Mauval.”

beijão  Sissi
+
Subject: afrika é aqui!

Fala Maurição!

Cara, o programa de 3a.feira foi fantástico, antológico, uma aula não só sobre a grandeza das Áfricas, mas sobre a vida… Estou, neste momento, acabando de fazer a janta aqui em casa e, graças a versao podástica do roNquitcha, podendo ouvir noutro dia. Na 3a.feira mesmo, ouvi um pouco e vibrei na comuna do feicebuque. Mas agora é que fiz a audicao na íntegra.
Então, campanha nacional para irmos pra Bamako!
Há alguns anos, venho conhecendo e me encantando pela diversidade das Áfricas: na música (ouvindo Tinawiren), nas artes (trampei em uma exposição sobre tapeçaria e ornamentos no Centro Hélio Oiticica), ensinando o pouco que aprendi em escolas… por aí!
E o programa foi ótimo para ensinar e cativar mais gente pra causa! Moreno e Alex fizeram a diferença. Falando no Moreno, fiquei instigado em ver o símbolo nacional de Mali… a do hipopótamos quebrando a canoa, manja? Será q ele nao tem nenhuma fotito? Coloque la no tico-tico!
Te mando em anexo o que achei na net: um selo da republica, com o dito cujo posando!
Pra fechar o email, o mais chocante do programa foi quando Moreno falou da falta de comida, causando cegueira geral… cara, tem muuuuita coisa pra gente fazer nesse mundo mesmo… É arregaçar as mangas e entrar nas (micro)lutas!!! Da minha parte, fico feliz em dizer que hoje foi meu primeiro dia de volta à Maré: ministrarei oficinas de Rádio pra molecada, dentro de duas escolas (quase prisoes)… vamos ver qual vai ser!
abracos,”
marcelo
+
Subject: RE: tuaregues & cia…
“Que aula, e que felling cara! Absurdo……a história das crianças contadas pelo Moreno fez meu chão dar uma balançada ( em pleno metro, a caminho pro trabalho), um tipo de vivencia desse tipo faz no minimo a pessoa enxergar o seu cotidiano de forma diferente, as musicas como sempre redondas, acho que não teve nenhuma meia-boca nesse programa cara, programa redondinho! Tenho que conferir ainda, mas acho que essa aqui que teve um destaque especial pra mim “joe cocker mad dogs & englishmen – “feelin’ alright” (ao vivo)”….
Obs: Contei a história pro povo do escritório, a reação foi a mesma que a minha, olhos de geral brilhando.”
Valeu Mau Val.

bahêa…

Subject: Porque é dois de fevereiro…
“Saudações parametrais, MauVall!

Só pra dizer que o ronquinha, que eu conheci faz pouquíssimo tempo (sou da remessa que descobriu o jumboteko em 2011 e viveu de saudades o ano passado), é sem dúvida nenhuma o ponto alto de toda terça-feira (e pela semana afora com podcast). Mas disso você já sabe.

Quero mesmo é agradecer a toda a tripulação da nave por teimar nessa deflagração de descobertas que é o roNca roNca. E a palavra é descoberta mesmo. Tenho sentido a alegria de apresentar o programa aos amigos (passando a frente o que fizeram comigo), e é incrível ver a patota descobrindo – com 2 minutos de orelhada – que é fissurada no ronquinha desde a vida passada!
Então, só pra dizer: felicidade enorme de ter o ronquinha por perto novamente. O que ficou complicado é que agora a desorientação acontece a qualquer hora do dia, e estou começando a decorar o sopro sagrado do nosso amigo Davi, de modo que minha mulher não me aguenta mais.
Abraços e muita desorientação nesse 2013 que acaba de sair dos panos!”
Eder Amaral
Bahia, dois de fevereiro.

nandão (ele mesmo) mandou pra gente…

Cultura

Mino Carta

Editorial / Carta Capital

01.02.2013 08:33

A imbecilização do Brasil 

Há muito tempo o Brasil não produz escritores como Guimarães Rosa ou Gilberto Freyre. Há muito tempo o Brasil não produz pintores como Candido Portinari. Há muito tempo o Brasil não produz historiadores como Raymundo Faoro. Há muito tempo o Brasil não produz polivalentes cultores da ironia como Nelson Rodrigues. Há muito tempo o Brasil não produz jornalistas como Claudio Abramo, e mesmo repórteres como Rubem Braga e Joel Silveira. Há muito tempo…

Os derradeiros, notáveis intérpretes da cultura brasileira já passaram dos 60 anos, quando não dos 70, como Alfredo Bosi ou Ariano Suassuna ou Paulo Mendes da Rocha. Sobra no mais um deserto de oásis raros e até inesperados. Como o filme O Som ao Redor, de Kleber Mendonça, que acaba de ser lançado, para os nossos encantos e surpresa.

Nos últimos dez anos o País experimentou inegáveis progressos econômicos e sociais, e a história ensina que estes, quando ocorrem, costumam coincidir com avanços culturais. Vale sublinhar, está claro, que o novo consumidor não adquire automaticamente a consciência da cidadania. Houve, de resto, e por exemplo, progressos em termos de educação, de ensino público? Muito pelo contrário.

Nossa vanguarda.Imbatíveis à testa da Operação Deserto
E houve, decerto, algo pior, o esforço concentrado dos senhores da casa-grande no sentido de manter a maioria no limbo, caso não fosse possível segurá-la debaixo do tacão. Neste nosso limbo terrestre a ignorância é comum a todos, mas, obviamente, o poder pertence a poucos, certos de que lhes cabe por direito divino. Indispensável à tarefa, a contribuição do mais afiado instrumento à disposição, a mídia nativa. Não é que não tenha servido ao poder desde sempre. No entanto, nas últimas décadas cumpriu seu papel destrutivo com truculência nunca dantes navegada.

Falemos, contudo, de amenidades do vídeo. De saída, para encaminhar a conversa. Falemos do Big Brother Brasil, das lutas do MMA e do UFC, dos programas de auditório, de toda uma produção destinada a educar o povo brasileiro, sem falar das telenovelas, de hábito empenhadas em mostrar uma sociedade inexistente, integrada por seres sem sombra. Deste ponto de vista, a Globo tem sido de uma eficácia insuperável.

O espetáculo de vulgaridade e ignorância oferecido no vídeo não tem similares mundo afora, enquanto eu me colho a recordar os programas de rádio que ouvia, adolescente, graciosas, adoráveis peças de museu como a PRK30, ou anos verdolengos habitados pelos magistrais shows de Chico Anysio. Cito exemplos, mas há outros. Creio que a Globo ocupe a vanguarda desta operação de imbecilização coletiva, de espectro infindo, na sua capacidade de incluir a todos, do primeiro ao último andar da escada social.

O trabalho da imprensa é mais sutil, pontiagudo como o buril do ourives. Visa à minoria, além dos donos do poder -real, que, além do mais, ditam o pensamento único, fixam-lhe os limites e determinam suas formas de expressão. O alvo é a chamada classe média alta, os aspirantes, a segunda turma da classe A, o creme que não chegou ao creme do creme. E classe B também. Leitores, em primeiro lugar, dos editoriais e colunas destacadas dos jornalões, e da Veja, a inefável semanal da Editora Abril. Alguns remediados entram na dança, precipitados na exibição, de verdade inadequada para eles.

Aqui está a bucha do canhão midiático. Em geral, fiéis da casa-grande encarada como meta de chegada radiosa, mesmo quando ancorada, em termos paulistanos, às margens do Rio Pinheiros, o formidável esgoto ao ar livre. E, em geral, inabilitados ao exercício do espírito crítico. Quem ainda o pratica, passa de espanto a espanto, e o maior, se admissível a classificação, é que os próprios editorialistas, colunistas, articulistas etc. etc. acabem por acreditar nos enredos ficcionais tecidos por eles próprios, quando não nas mentiras assacadas com heroica impavidez.

O deserto cultural em que vivemos tem largas e evidentes explicações, entre elas, a lassidão de quem teria condições de resistir. Agrada-me, de todo modo, o relativo otimismo de Alfredo Bosi, que enriquece esta edição. Mesmo em épocas medíocres pode medrar o gênio, diz ele, ainda que isto me lembre a Península Ibérica, terra de grandes personagens solitárias em lugar de escolas do saber. Um músico e poeta italiano do século passado, Fabrizio de André, cantou: “Nada nasce dos diamantes, do estrume nascem as flores”. E do deserto?