cadê o preto? cadê a cachaça?

Governador Valladares, como vai minha nega, tudo bem? Boi na sombra? Lombo ao vento, gente jovem reunida? Gov. my Gov. o negócio é o seguinte, toda vez que saio na rua (não digo todas as vezes, mas em 11 de cada 10) e a mocidade alegre grita “fala, Crioulo!”, eu me orgulho. Me orgulho de pertencer a maioria ampla, geral e irrestrita deste país, já que somos 70, 80% da população nas versões, preto, pardo, mulato, sarará, viado e crioulo propriamente dito. Por vir do negrume, crioulão com muita honra, fico fulo da vida quando perambulo pelos blocos de carnaval do Rio e só vejo coxinhas desfilando. Os pretos? Vendendo cerveja, dando porrada fantasiados de PM ou varrendo tudo como garis. Governadaço aço aço aço (como diria Fábio Stela Tela Tela Tela) o samba embarcou antes dos escravos nos navios. Quando nossos afroascendentes botaram os pés a bordo, os tamborins cantaram, o surdo fez tum-tum-tum e começou a orgia que um amigo seu ilustrou com essa FOTO do avião. Logo, o samba é preto, o jazz é judeu, a música eletrônica é viada, o blues é caucasiano, a música clássica é nazista, o maracatu é amarelo, enfim, Gov. my Gov. não tem esse papo de cada macaco no seu galho. A música não discrimina, não tem departamentos, tribos, grupinhos. Por isso, enquanto preto de alma branca pergunto a seus tímpanos: por que não tem crioulo no carnaval de rua do Rio? Por que quando ligo a TV só vejo coxinha, playboyzinho de boné e viseira, oclinhos Chilli Beans e sacolé de vodca Absolute na mão? Cadê o preto? Cadê a cachaça, governador Valladares? Todo mundo sabe que 97% dos frequentadores desses blocos são mulheres com teias de aranha nos intramuros da alma, não vêem uma jeba desde as filmagens de “Black Emanuelle”, samba-enredo paraguaio parodiando o clássico “Emmanuele” de  Just Jaeckin, viado campeiro que seu amigo Siri andou comendo. Talvez por isso, meus iguais pretos estejam fugindo desses blocos para não serem estuprados por essas taradas brancas, de óculos da moda, saronge no ventre e taparraca canibal que adoram currar afrodescendentes atrás de tapumes da Light. Convoco meus irmão de pele, “epiderme da alma” como canta Cássio Hélio, a opinarem aqui nessa tribuna livre (habbeus corpus), agora enquanto ainda. Ummagumma Ferrare – no iPhone roubado de um John Lennon do bloco Sargento Pimenta.