Arquivo da categoria: brasil

a carta…

Exmo. Sr. Michel Temer

Prezado senhor,

Entre as grandes conquistas da identidade democrática Brasileira está a criação do Ministério da Cultura, em março de 1985, pelo então Presidente José Sarney.

É inegável que, nessa ocasião, o nome do Brasil já havia sido projetado internacionalmente através do talento de Portinari, de Oscar Niemeyer, de Anita Malfati, de Jorge Amado, da música de Ary Barroso, Dorival Caymmi, Carmen Miranda, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, do cinema de Glauber Rocha e Cacá Diegues. Desta forma, a existência do Ministério da Cultura se deve ao merecido reconhecimento do extraordinário papel que as artes brasileiras desempenharam na divulgação de um país jovem, dinâmico, acolhedor e criativo.

A extinção desse Ministério em abril de 1990 foi um dos primeiros atos do governo Collor de Mello. Abrigada em uma Secretaria vinculada à Presidência da República, a cultura nacional assistiu ao sucateamento de ideias, projetos e realizações no campo das artes. Já no final de seu governo, tentando reconquistar o apoio político perdido, o Presidente Collor adotou outra postura, nomeando para a Secretaria de Cultura o intelectual e embaixador Sergio Paulo Rouanet, encarregado de restabelecer o diálogo com a classe artística. Nasceu assim o Pronac – Programa Nacional de Apoio à Cultura, que se tornou o elemento estruturante da política c ultural dos governos subsequentes, e a denominada Lei Rouanet. Felizmente o Presidente Itamar Franco, em novembro de 1992, devolveu aos criadores um Ministério que já havia comprovado o acerto de sua presença no cenário nacional.

A partir de 1999, durante o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Ministério da Cultura foi reorganizado e sua estrutura ampliada, para que pudesse servir a projetos importantes, em especial nas áreas de teatro e cinema. Desde então o MinC vem se ocupando, de forma proativa, das artes em geral, do folclore, do patrimônio histórico, arqueológico, artístico e cultural do País, através de uma rede de institutos como o IPHAN, a Cinemateca Brasileira, a Funarte, o IBRAM, Fundação Palmares entre muitos outros. A partir da gestão de Gilberto Gil, o MinC ampliou o alcance de sua atuação a partir da adoção do conceito antropológico de cultura. O Programa Cultura Viva e os Pontos de Cultura são iniciativas reconhecidas e copiadas em inúmeros países do mundo. O MinC passou a atuar também com a cultura popular e de grupos marginalizados, ampliando os horizontes de uma parcela expressiva de nossa população. Foi o MinC que conseguiu criar condições para que tenhamos hoje uma indústria do audiovisual dinâmica e superavitária. O mesmo está sendo feito agora com outros campos, como por exemplo o da música. O MinC conta hoje com vários colegiados setoriais que cobrem praticamente quase todas as áreas artísticas bem como grupos étnicos e minorias culturais do país. E com um Conselho Nacional de Políticas Culturais, formado pela sociedade civil e responsável pelo controle social da gestão do Ministério. Há ainda que se mencionar o Plano Nacional de Cultura e inúmeras outras iniciativas com amparo no texto constitucional e em leis aprovadas pelo Congresso Nacional, cuja inobservância ou descontinuidade poderão ensejar questionamentos na esfera judicial. O MinC também protagonizou várias iniciativas que se tornaram referência no ordenamento jurídico internacional, como as Convenções da Unesco sobre Diversidade Cultural e de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial, dentre outros.

A Cultura de um País, além de sua identidade, é a sua alma. O Ministério da Cultura não é um balcão de negócios. As críticas irresponsáveis feitas à Lei Rouanet não levam em consideração que, com os mecanismos por ela criados, as artes regionais floresceram e conquistaram espaços a que antes não tinham acesso.

A Cultura é a criação do futuro e a preservação do passado. Sem a promoção e a proteção da nossa Cultura, através de um ministério que com ela se identifique e a ela se dedique, o Brasil fechará as cortinas de um grandioso palco aberto para o mundo. Se o MinC perde seu status e fica submetido a um ministério que tem outra centralidade, que, aliás, não é fácil de ser atendida, corre-se o risco de jogar fora toda uma expertise que se desenvolveu nele a respeito de, entre outras coisas, regulação de direito autoral, legislação sobre vários aspectos da internet (com o reconhecimento e o respeito de organismos internacionais especializados), proteção de patrimônio e apoio às manifestações populares.

É por tudo isso que o anunciado desaparecimento do Ministério da Cultura sob seu comando, já como Chefe da Nação, é considerado pela classe artística como um grande retrocesso. O Ministério da Cultura é o principal meio pelo qual se pode desenvolver uma situação de tolerância e de respeito às diferenças, algo fundamental para o momento que o país atravessa. A economia que supostamente se conseguiria extinguindo a estrutura do Ministério da Cultura, ou encolhendo-o a uma secretaria do MEC é pífia e não justifica o enorme prejuízo que causará para todos que são atendidos no país pelas políticas culturais do Ministério. Além disso, mediante políticas adequadas, a cultura brasileira está destinada a ser uma fonte permanente de desenvolvimento e de riquezas econômicas para o País.

Nós, que fazemos da nossa a alma desse País, desejamos que o Brasil saiba redimensionar sua imensa capacidade de gerar recursos para educação, saúde, segurança e para todos os projetos sociais e econômicos necessários ao crescimento da nação sem que se sacrifique um dos seus maiores patrimônios: a nossa Cultura.

Em representação da Associação Procure Saber e do GAP–Grupo de Ação Parlamentar Pró- Música.

ronca.mic

MAMdou pra gente…

Pátria Amada, é pra você esta canção
Desesperada, canção de desilusão
Não há mais nada entre eu e você
Eu fui traído e não fiz por merecer

Pátria Amada, cantei hinos em seu louvor
Mas tudo o que fiz de nada adiantou
Na boca amarga ainda resta esse perdão
Pátria Amada, é pra você esta canção
Desesperada, canção de desilusão
Não há mais nada entre eu e você
Eu fui traído e não fiz por merecer

Pátria Amada, cantei hinos em seu louvor
Mas tudo o que fiz de nada adiantou
Na boca amarga ainda resta esse perdão
Que diz pra morrer por ti e não importa a razão

Pátria Amada, como pude acreditar
Em palavras vazias e promessas soltas no ar
Pátria Amada, você me decepcionou
Quando eu lhe pedi justiça você me negou

Pátria Amada

Pátria Amada, de quem você é afinal
É do povo nas ruas ? Ou do Congresso Nacional
Pátria Amada, idolatrada, salve,salve quem puder

circobrasil2

até a sorte entrou no e$quema…

mega

Conhecido por responder a mais de uma centena de processos nos âmbitos cível e criminal, o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Mato Grosso, José Geraldo Riva mostrou, de novo, que é um homem de sorte. Perto de completar um mês em liberdade (ele foi solto em 8 de abril após seis meses de prisão por decisão do ministro do STF Gilmar Mendes), Riva comemorou, na noite de quinta-feira, o prêmio de R$ 11,2 milhões da Mega-Sena vencido por seu filho, José Geraldo Riva Júnior, e mais dois amigos, identificados como Djalma e Vinicius. Uma foto de Riva comemorando o prêmio com o filho circula nas redes sociais.

A aposta de Riva Júnior foi uma das três vencedoras da Mega-Sena das Mães, sorteada pela Caixa Econômica Federal na noite de quinta-feira. Segundo a Caixa, ela foi feita na lotérica Ponto da Sorte, em Cuiabá (MT), com oito números, no valor de R$ 98. Com isso, os três ainda acertaram 12 quinas (R$ 373 mil) e 15 quadras (R$ 12 mil), o que elevou o prêmio de R$ 10,8 milhões da Mega-Sena para R$ 11,2 milhões. Apostas de Belém (PA) e Santo André (SP) também acertaram as seis dezenas da Mega-Sena na quinta-feira. Os números sorteados foram: 08-11-25-39-41-60.

— Falei com um dos três (depois do resultado). Eles estavam na agência (da Caixa) retirando o prêmio. Avisaram que vão passar aqui amanhã (sábado) — afirmou Márcio Sato, dono da Ponto da Sorte.

Deputado estadual por cinco mandatos, José Geraldo Riva responde a 117 processos, segundo o Movimento Ficha Limpa. Ele foi preso pela quarta vez em 13 de outubro de 2015 durante a Operação Metástase, que investiga desvio de R$ 1,7 milhão de verba de suprimento da Assembleia de Mato Grosso. Ele já havia sido preso em maio de 2014, durante a operação Ararath; em fevereiro de 2015, na operação Imperador, acusado de participar de desvios de R$ 62 milhões; e em julho de 2015, na operação Ventríloquo, sob acusação de desviar R$ 10 milhões.

(o globo)

mauricio + pulitzer (ou sobrou pra vênus)…

Idomeni, Greece - November 28, 2015: Barred refugees struggle for donation of water, blankets, diapers and few clothes as they complete their 10th day encamped by the train station in Idomeni, Greece, without permission to cross the border into the Macedonian town of Gevgelija. Hundreds of thousands of refugees, mostly from Afghanistan, Iraq and Syria, fled their homes, risking their lives in dangerous boat trips, illegal border crossings and long bus and train journeys, seeking asylum and a decent life in Western Europe and Scandinavia. The latest UN report from January 2015 estimated that more than 220,000 people had become fatal victims of the endless war in Syria. CREDIT: Photo by Mauricio Lima for The New York Times
Idomeni, Greece – November 28, 2015: Barred refugees struggle for donation of water, blankets, diapers and few clothes as they complete their 10th day encamped by the train station in Idomeni, Greece, without permission to cross the border into the Macedonian town of Gevgelija. Hundreds of thousands of refugees, mostly from Afghanistan, Iraq and Syria, fled their homes, risking their lives in dangerous boat trips, illegal border crossings and long bus and train journeys, seeking asylum and a decent life in Western Europe and Scandinavia. The latest UN report from January 2015 estimated that more than 220,000 people had become fatal victims of the endless war in Syria. CREDIT: Photo by Mauricio Lima for The New York Times

mauricio lima galgou parâmetros inoxidáveis na fotografia mundial ao receber, dia 18, o prêmio pulitzer de fotografia 2016!

em tempos onde o orgulho de ser brasileiro desce pelo ralo, o xará segue a bordo da categoria “ele me representa”… acima de tudo (e de todos) por conta de sua incontrolável coragem.

ontem, ele também fisgou o John Faber Awards, durante o Overseas Press Club of America (OPC),

pra fechar a tampa, algumas letrinhas dele que foram retiradas DAQUI:

Do que você tem mais medo?
Intolerância. Individualismo. Isso pode ter um impacto negativo nas futuras gerações. O modo que as pessoas vivem hoje, a maneira com que se comunicam, onde tudo é efêmero, me assusta. Até na própria fotografia. Não consigo ver foto no celular. Não é a plataforma ideal. Apesar de não ser tão velho, ainda prefiro ir a uma exposição ou museu e ver a foto no papel, livro. Faço parte de uma geração, talvez a última, que trabalha com filme na imprensa. No início da carreira, o contato com o filme no laboratório era muito mágico. Hoje, você tira uma foto com o telefone e publica. Talvez mais de mil pessoas vejam. Existe um vício.

tá tudo desalinhado (ou não deixe de clicar no link da matéria)…

brasil.500

Tragédia carioca

cora rónai

Não há conserto que possa minimizar ou resolver a ciclovia da Niemeyer, esse monumento ao descaso

“Em qualquer país civilizado do mundo…”

“Em qualquer lugar decente do universo…”

“Em qualquer civilização respeitável…”

“Em qualquer civilização…”

Há muitos começos para a mesma história. A verdade é que em qualquer país que se queira minimamente um país nada disso estaria acontecendo; nada disso sendo, é claro, tudo isso.

Mas, entre outras coisas, em nenhum país civilizado, e em nenhuma cidade linda como o Rio, alguém teria a audácia de construir uma ciclovia como esta que despencou sem antes promover um concurso de arquitetura, e sem buscar um projeto que convivesse em harmonia e segurança com o seu entorno: algo que acrescentasse beleza à paisagem, ou que, no mínimo, não a agredisse tanto.

Aqui não. Aqui se planta de qualquer jeito uma passarela que, de bonita, só tem a vista — agora, que o noticiário a tem exibido de todos os ângulos, e não só o da propaganda turística, é que afinal percebemos como é feia e precária. Ao mesmo tempo, notamos como é bela e resistente a quase centenária Gruta da Imprensa, prejudicada pelas pilastras medonhas que a prefeitura, com característica insensibilidade, fincou à sua frente.

A cidade já sofreu demais com obras feitas a toque de caixa, sem capricho ou preocupação estética. Em qualquer outro lugar, uma joia como o Rio teria sido cuidada e preservada; mas aqui, desde a ditadura, cada governo fez exatamente o que quis, sem prestar contas a ninguém. A sanha das empreiteiras aliada à canalhice das autoridades produziu um desastre urbanístico onde, até a primeira metade do século passado, ainda existia uma metrópole invejável.

Infelizmente nem tudo se pode resolver como o prefeito resolveu o monstrengo da Perimetral, mas era de se esperar que, a essa altura, o governo já houvesse aprendido com os erros do passado e com os acertos de outros países. Cidades inteligentes sabem que a boa arquitetura pode ser uma atração turística a mais, e se esforçam em realizar projetos sedutores nos lugares de alta visibilidade.

______

No dia 23, dois dias depois da tragédia, um cidadão chamado Walmar Luiz caminhou por um trecho da Avenida Niemeyer mostrando, num vídeo gravado no celular, alguns detalhes da parte inferior da ciclovia. O que vemos é, como diria aquela senhora, estarrecedor — a começar pelo acabamento inacreditavelmente porco em todos os níveis.

Há sacos de areia contendo o terreno, caixas de madeira vazias cuja existência não se justificaria a menos que servissem de formas para um concreto que jamais foi feito, ferragens expostas à maresia, colunas envolvidas em estopa, elementos de tamanhos desencontrados vagamente encaixados uns nos outros. É difícil acreditar que essa estrutura mequetrefe tenha sido projetada e supervisionada por profissionais; é revoltante — e muito triste — ver o desamor com que tudo foi feito e, especialmente, constatar a falta de brio de quem contratou e de quem entregou trabalho tão grosseiro.

Até o momento em que escrevo, na madrugada de quarta-feira, o vídeo do Walmar já havia sido visto por quase 220 mil pessoas. Ainda é pouco. Todos os cariocas deveriam assisti-lo, para ver como é gasto o nosso dinheiro. Ele fica em bit.ly/1MYlNE4.

______

Como já escrevi aqui uma vez, Eduardo Paes me conquistou, como carioca, quando teve a coragem de botar abaixo o viaduto da Perimetral. Foi uma “desobra” caríssima, como tudo nesse país, agravada pelo sumiço inexplicável das vigas, mas corrigiu um dos maiores crimes arquitetônicos cometidos contra essa cidade, o que não é dizer pouco quando se pensa no Palácio Monroe, se observa a Avenida Atlântica ou se anda por Botafogo. Ele perdeu toda a minha admiração subsequentemente, mas essa é outra história.

Não gosto dessa ciclovia desde que foi construída.

Sou fã de bicicleta e acho que o seu uso deve, sempre, ter primazia sobre o dos carros. Pratico isso. Não tenho carro há 20 anos, desde que cheguei à conclusão que o mundo não aguenta que cada um tenha o seu próprio automóvel.

Mas também sempre achei (e continuo achando) que a ciclovia, tal como foi concebida, cria um espaço perfeito para assaltantes, sem oferecer ponto de fuga para os assaltados; e lamentei muito que, em nome da minoria nas bicicletas, a maioria nos carros estivesse perdendo a vista de uma das mais belas avenidas da cidade. Não precisaria ser assim; bastaria que fosse construída de outra maneira, quem sabe num outro nível.

Cheguei a escrever umas poucas linhas sobre isso na internet, há algum tempo, mas fui massacrada por ciclistas, que entenderam que eu era contra bicicletas tout court e estava defendendo os carros. Há uma ferocidade bastante compreensível entre eles, que lutam para conquistar espaço e respeito, e não quis brigar com quem apoio.

Agora, depois da tragédia e, sobretudo, depois de descobrir a forma criminosa como a ciclovia foi construída, espero que um próximo prefeito me conquiste tendo a mesma atitude do Paes: pondo abaixo esta porcaria de alta periculosidade.

Não há conserto que possa minimizar ou resolver esse monumento à incompetência e ao descaso.

a ressaca secular…

brasil.500

Ressaca

Em 1920, o Rio recebia obras por conta da visita de estrangeiros, ou seja, ‘para o Rei Alberto ver’

O que cansa não é a História, mas sua repetição errática. Seu andar lento, sua mesmice cega. O que abate não é a memória com seu “eu avisei”, mas sim a sensação de que estamos caindo em um abismo de Alice. Nada muda, mas nada para de ruir. As coisas pioram. Estamos aí, o sol de outono brilha e a cidade permanece cheirando a morte. O país indo pra breca, os laços sociais esgarçados por butins que não são nossos, e uma onda suspende a peça de concreto, ela colapsa por erro e cai, afogando Eduardo e Ronaldo no mar. Não é a História que mata. É justamente a sua falta.

Era setembro de 1920 quando a cidade delirava ao redor de um único tema: a visita do casal real da Bélgica, Rei Alberto I e Rainha Elizabeth. Desde o primeiro momento em que a vinda de sua comitiva ao país foi anunciada, a imprensa local (com dezenas de jornais e revistas) deu ampla e diária cobertura ao tema. Assim como as colunas locais e de costumes eram lidas para saber os passos dos (muitos) preparativos, uma série de chargistas e intelectuais de plantão utilizavam sua verve para criticar o evento. O ponto era muito próximo a nós: todas as reformas eram feitas “para o Rei Alberto ver”. A cidade só mudava por conta da visita dos estrangeiros. Pois é.

Sob a presidência de Epitácio Pessoa e a prefeitura de Carlos Sampaio, o Rio de Janeiro passou o ano se preparando para receber o casal real. Como a cidade era, ao mesmo tempo, Distrito Federal, ganhava ares de recepção nacional. A nova “civilização nos trópicos” poderia provar ao poder europeu seu cosmopolitismo, sua vocação para a beleza e para o refinamento. Ao menos eram esses os apelos coercitivos da imprensa e das autoridades à população.

Os caminhos que as reformas urbanas de Sampaio propunham seguiram o viés iniciado por Pereira Passos nos primeiros anos do século. Ele atravessou governos marcantes e culminou com os seis meses transformadores de Paulo de Frontin (1919). Além disso, eram nomes que representavam a participação dos engenheiros e de suas ideias cientificistas nas formulações e execução das políticas públicas ao redor das radicais reformas urbanas daquele tempo. Muitas vezes, tais diretrizes aplicaram a boa e velha “limpeza”, promovendo remoção de moradias populares, cortiços e favelas, desmontes de morros, descaracterização das memórias locais em bairros atravessados por avenidas etc. São também os anos em que dois eixos desiguais de desenvolvimento foram definidos — um para o sul, outro para o norte. Assistimos hoje à perpetuação disso.

Um ponto impressionante que se aproxima do presente (retirado do excelente livro “A vitrine e o espelho”, de Carlos Kessel) é que, pouco antes de Carlos Sampaio assumir a prefeitura, ela estava quebrada — muito por conta, ainda, das obras iniciadas por Passos, além de dívidas que foram rolando e gastos excessivos com pessoal. Mesmo assim, Carlos Sampaio teve pela frente uma visita de reis europeus, o desmonte de um morro, o aterro de uma praia e a construção dos pavilhões do Centenário.

O atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, de certa forma, ligou-se ao imaginário dessa geração de alcaides transformadores da cidade. Isso se deu a partir de projetos e eventos que estimularam obras urbanas de grande impacto — e transtorno. Ao contrário deles, Paes teve muito mais tempo à frente da cidade (Carlos Sampaio, por exemplo, teve três anos para fazer o que fez — além de muitas outras obras que não cabe aqui citar). Seu legado, certamente, será discutido por historiadores, urbanistas e uma série de pesquisadores (área, aliás, de que a cidade é muito bem servida). Alguns pontos, porém, serão mais lembrados que outros. Talvez o caos das linhas de ônibus — desde a mudança das cores até a confusão absoluta de itinerários, troncais e que tais — seja tão presente na memória do carioca quanto o VLT, quando ele funcionar. Se funcionar.

Certamente a queda de parte da ciclovia na Avenida Niemeyer será lembrada. Talvez ao lado das realizações das Olimpíadas. Uma espécie de adversativa do que ainda virá. Mas sabemos que cariocas têm memória curta com mortes ocorridas no brutal atacado dos dias para os mais pobres. Quanto mais com mortes trágicas de cidadãos que confiaram na estrutura, confiaram na engenharia, confiaram na prefeitura. Não precisavam confiar no mar. Isso era o mínimo que construtores de uma ciclovia como aquela podiam garantir.

A marca que dá o nó no peito é que as mortes ocorreram no ponto acima do viaduto feito justamente por Carlos Sampaio para a vinda dos reis belgas. Ele permanece lá, de pedra, por centenas, talvez milhares de ressacas. E eis a sombra na tragédia: não se aprende com o passado. Há muita pressa, sempre, em nome do capital, da pior política e de um progresso sem saída. A sensação é de que nunca desarmaremos essa armadilha social. Mas, enquanto a cidade se afoga, sua juventude ocupa escolas. Aí, não se trata da História, e sim do futuro. Deveríamos ouvi-lo para não repetirmos os mesmos erros. Nunca mais.

perdendo faro…

Assunto: 2016 está de sacanagem
“Mau Val, hoje não tem coisa boa, não.
Foi-se na madrugada desta segunda Fernando Faro, que fez muito pela memória da canção brasileira através dos programas de tevê shows e discos que produziu – sendo a face mais conhecida deles o “Ensaio”, na TV Cultura paulista (e TVE nacional).
É mais um a ir conversar com Hendrix – e a continuar a conversa com Cartola, que era camaradão do dito cujo.
Ó só, ali em cima, o Angenor no “Ensaio”, em 1974.
Enfim, como você disse na homenagem a Prince: que fase da nossa humanidade, hein?
Abraços,”
           Felipe
ronca.mic