Arquivo da categoria: brasil

momento batatada (ou o “pé de mesa”)…

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há exatos vinte anos, a BMG/RCA colocou no mercado esta caixa com três cds – sessenta e seis músicas – cobrindo parte do material gravado por orlando silva na RCA Victor, de 1935 a 1942 (a fase áurea). o projeto e a seleção de repertório são de autoria de josé milton (gente finérrima-produtor-músico-pesquisador-leNda). a caixa é acompanhada por um libreto com a identificação minuciosa de toda a obra gravada por orlandão na RCA + fotografias + texto cabriocário de ruy castro sobre a passagem de nosso ídolo pelo planetinha. claro, elazinha está foreta de catálogo. ainda agora, dei uma busca no mercado livre e só achei um exemplar à venda, por 95 merréis. enfim, se essa preciosidade passar pela sua frente, não pense uma vez.

ruy comenta a fama de galã e de como o poder é impiedoso…

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o cantor das multidões…

orlandosilva

Em seu centenário, Orlando Silva é pouco celebrado

Artista seduziu multidões e inspirou súditos, mas teve carreira encurtada pelas drogas

o mesmo desde 1500…

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FRED COELHO
O COLUNISTA ESCREVE ÀS QUARTAS no globo.com

O mesmo é um vácuo

Nada mudou porque não aprendemos nada

Costumo dizer por aí que a única surpresa garantida dos dias de hoje é o shuffle da sua lista de músicas. De resto, nos assola a sensação de que as tragédias atuais são a colheita do sempre. Escrevo esta coluna há alguns meses, e o tema da cidade como espaço falido por mortes e crimes retorna não como um recalcado, mas como a evidência escancarada de uma sangria aberta há décadas e nunca curada. Seja nos ônibus em Copacabana, seja nas ruas da Maré, nos insurgimos pontualmente contra o nosso eterno extermínio particular. Parece que esquecemos para nos aliviar daquilo que não tem remédio nem nunca terá. Esquecer não para mudar, mas para continuar o mesmo.

Em que momento perdemos o senso de tudo que nos conecta em uma cidade? Quando deixamos de ser a “cidade porosa”, para usar o título do excelente (e tomara que logo traduzido) livro do pesquisador Bruno Carvalho sobre a Cidade Nova e sua diversidade cultural? Quando nos separamos em lados que não somam, quando deixamos um fosso ser criado “naturalmente” por cada um de nós? O arquivo das coisas não nos dá o luxo de esquecermos, de portarmos a “ignorância ensandecida”, de acharmos que o OUTRO sempre é o culpado. Isso já virou uma espécie de doença social, em todos nós, sem limites de classe, de cor, de bairros, de idade. Está lá, escancarado nos textos desde o século XIX, que essa mesma sociedade criou as condições para a inequidade, o crime, as mortes gratuitas e anônimas dos que menos têm, o ódio dos que menos têm pelos que mais têm (e vice-versa), a urbanização da desigualdade. Nada mais nos colará em um desejo comum de vida urbana se não soubermos o absurdo que nos fundou, seja cobiça, luxúria, tristeza, seja casa grande e senzala, seja o céu, o sol e o mar, seja tiro, porrada e bomba. Não há a menor possibilidade de transferirmos para quem quer que seja nossa cota histórica. Não há mais possibilidade da imprensa simplesmente “dar notícias” na busca de um público que tem medo porque medo vende bem. Somos representados como bichos em tocas, acuados por dentro (nossas paranoias pessoais) e com pânico do lá fora (nossas paranoias sociais).

Abra o arquivo, ele hoje é digital, está aí na sua frente, dê uns cliques, aperte os cintos e bem vindo ao reino da memória: em 19 de outubro de 1992, após os primeiros eventos que foram batizados de “arrastões”, eis algumas manchetes dos principais jornais do Rio: “Arrastões levam pavor às praias” (“O Dia”), “Arrastões invadem a orla da Zona Sul (“Jornal do Brasil”), “Arrastões aterrorizam as praias da Zona Sul” (“O Globo”). No dia seguinte, seguiram manchetes ainda parecidas com as de hoje: “Zona Sul vai reagir aos arrastões” (“O Fluminense”) ou “Zona Sul declara guerra ao arrastão” (“O Dia”). Nesse mesmo dia, o “Jornal do Brasil” publica, por fim, a notícia que nos arremessa no abismo de um tempo imóvel e patético: “Moradores culpam as linhas [de ônibus]”. Sim, as mesmas linhas, a mesma massa juvenil sob olhares de condenação por parte dos moradores, nenhuma solução para o transporte público de massa além de ônibus lotados. Aliás, há sim uma solução que muitos esperam há 23 anos: não circular mais na Zona Sul nenhum ônibus vindo da Zona Norte. Muros, grades, câmeras, duras, constrangimentos, violência generalizada. Nada mudou porque não aprendemos nada. O que adiantaram as manchetes? No que colaboraram com o imaginário já classista e divisor do carioca? Pois estamos aqui, no mesmo lugar.

Imaginemos: o rapaz preto e pobre nascido na data dos primeiros arrastões (23 anos atrás) pode viver com a cidade os mesmos erros e permanecer personagem das mesmas manchetes. Décadas em que as crises são as mesmas, as reações violentas são as mesmas, as respostas dos governos são as mesmas, o descaso com a juventude é o mesmo, as falas públicas são as mesmas (agora, porém, amplificadas pelas redes sociais). Porque permanecemos os mesmos, de todos os lados — dos que agridem e dos que são agredidos, dos que roubam e dos que são roubados, dos que são presos pela cor da pele e dos que são vítimas por andarem pelas ruas de seu bairro. Intolerância que acumula violência, que alimenta paranoia que gera intolerância e por aí segue o curso obtuso das coisas.

Textos como este parecem às vezes ecoarem no nada, porque a primeira reação do leitor que não lê é condenar qualquer voz que pede um pouco de sanidade — aqui, no caso, simplesmente prestar atenção ao fato de que para os mesmos problemas temos, há décadas, as mesmas respostas erradas. Não se trata de “apoiar bandidos”, muito menos de proteger quem deva ser culpado pelos seus atos perante uma justiça com igualdade de direitos (para todos, e não de forma seletiva). Trata-se simplesmente de gritar mais uma vez o óbvio: uma cidade é feita por quem a habita, em todas as suas áreas. Não por quem a idealiza em um vácuo cujo peso da história vergonhosa entre nós já deveria ter expandido seu vazio para novas formas de vida.

mudando a prosa (ou o feitiço contra o feiticeiro)…

guardo na minha caixinha de ótimas lembranças dois jornalistas com quem tive encontros muito rápidos mas, totalmente, inoxidáveis: tite de lemos (1942-1989) e josé castello.

já falei e escrevi sobre o tempo em que tite foi editor do segundo caderno do globo e publicou minha resenha sobre os shows do zeppelin, em 1975… e que só fui conhecê-lo anos mais tarde. já castello, em 1988, me procurou por uma razão que não lembro mas, ao ver a série de fotos que eu havia feito com os fotógrafos, mudou o rumo da pauta e publicou o material na primeira página do caderno B (jornal do brasil).

josé castello foi defenestrado do jornal o globo e publicou, na quarta feira, o mais contundente / cristalino / desesperançoso texto de despedida que conheço…

Hora da despedida

POR JOSÉ CASTELLO

Chegou a hora de me despedir de meus leitores. Não é um momento fácil _ nunca é. Mas ele se agrava porque, com o fechamento do “Prosa”, incorporado ao “Segundo Caderno”, desaparece um último posto de resistência na imprensa do sudeste brasileiro. Os suplementos de literatura e pensamento já não existem mais. Um a um, foram condenados e derrotados pela cegueira e pela insensatez dos novos tempos. Comandado pela vigorosa Manya Millen, o “Prosa” resistia como um último lugar de luta contra a repetição e a dificuldade de pensar com independência. Isso, agora, também acabou.

Nosso mundo se define pelo achatamento e pela degola. No lugar do diálogo, predominam o ódio e o desejo de destruição. No lugar da tolerância, a intolerância e a rispidez, quando não a agressão gratuita. É o mundo do Um _ em que todos dizem as mesmas coisas, usando quase sempre as mesmas palavras. Um mundo em que a verdade, que todos ostentam, de fato agoniza. Nesse universo, a literatura se impõe como um reduto de resistência. A literatura é o lugar do diálogo, do múltiplo, da diferença. Não é porque gosto de Clarice que devo odiar Rosa. Não é porque amo Pessoa que devo desprezar Drummond. Ao contrário: na literatura (na arte) há lugar para todos.

Uma pena que o “Prosa” se acabe justamente em um momento em que nos sentimos espremidos por vozes que repetem, sempre, os mesmos ataques e as mesmas agressões. Nesse mundo de consensos nefastos e de clichês que encobertam a arrogância, nesse mundo de doloroso silêncio que se apresenta como gritaria, a literatura se torna um lugar cada vez mais precioso. Nela ainda é possível divergir. Nela ainda é possível trocar ideias com lealdade e dialogar com franqueza. Sabendo que o diálogo, em vez de sinal de fraqueza, é prova de força. Lá se vai o “Prosa” com tudo o que ele significou de luta e de aposta na criação.

A meus leitores, que me acompanharam lealmente durante mais de oito anos, só posso dizer obrigado. E dizer, ainda, que conservem a coragem porque a pluralidade e a liberdade vencerão o escândalo e a cegueira. Apesar de tudo o que se diz e de tudo o que se destrói, ainda acredito muito no Brasil. É com essa aposta não apenas no futuro, mas sobretudo no presente, que quero me despedir de minha coluna e encerrar esse blog. Aos leitores, fica a certeza de que certamente nos encontraremos em outros lugares. Nem a loucura do nazismo, com suas fogueiras de livros, conseguiu destruir a literatura. Não tenho dúvidas também: nesse mundo de estupidez e insolência, ela não só sobreviverá, como se tornará cada vez mais forte.

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new order (ou globinho)…

a recessão brazuka – somada à crise globalizada (plim plim) – está chegando ao pico da devastação… comércio, indústria e serviços agonizam frente à incerteza… e, agora, mais um degrau da calamidade atingiu o nosso já combalido jornalismo. o ex-poderoso jornal o globo funciona, na últimas horas, como uma inclemente máquina de moer carne. dezenas de profissionais – de todas as áreas – estão sendo colocados no olho da irineu marinho.

a internet que demoliu lojas de discos, rádios, revistas e jornais vem sendo apontada como a grande bandida nesse lacrimejante capítulo (acho que tem mais “bandido” aí). ôxente, logo ela que – até recentemente – era identificada como a mais generosa aliada na propagação da informação? o fato é que o jornal perdeu $$$ do governo / $$$ dos anunciantes / $$$ dos assinantes… e viu descer pelo ralo o mais certo, limpo e histórico $$$ – os cla$$ificados.

lembra como eram, até ontem, as edições do globo de sábado e domingo? pesavam algumas toneladas por contas dos infindáveis classificados… pulverizados pela web.

anyway, anyhow, anywhere… a potência do doutor roberto corre o risco de se transformar, exclusivamente, em uma única peça…

globinho

aliás, o pobre globinho ainda existe?

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acabou a baguNça…

paulo

desde a manhã de hoje circulavam informações sobre a subida de paulo bagunça… mas sabe como é, web/vendaval de zumzumzum/”acho que parece que não sei”/todo mundo acha/todo mundo fala… até que, infelizmente, foi confirmada a morte do criador do grupo paulo bagunça & a tropa maldita, leNda inoxidável do roNca… PQParille! em janeiro2013, coloquei aqui no tico a matéria que iluminou a edição número 9 da rolling stone brasileira, de 1972… paulo & a tropa maldita contaram como era viver na cruzada são sebastião (leblon-RJ) fazendo música. vale muito coferir aqui!

bagunça forévis!

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 – Atualizada às 

Músico carioca Paulo Bagunça é encontrado morto em casa

RICARDO SCHOTT

Rio – O músico carioca Paulo Soares Filho, conhecido como Paulo Bagunça, 72 anos, foi encontrado morto na manhã deste sábado em sua casa em Barra de Guaratiba. O músico foi enterrado durante a tarde no cemitério de Murundu, em Realengo. A causa da morte ainda não foi revelada. Amigos relatam que ele vinha sofrendo com dores nas costas e suspeitam de infarto.

Paulo criou no começo dos anos 70 a banda Paulo Bagunça e a Tropa Maldita, que tinha entre os inteegrantes o compositor Macau, autor de ‘Olhos Coloridos’, gravada por Sandra de Sá. Fez parte de uma cena de músicos vinda da Cruzada São Sebastião, no Leblon, e gravou um álbum pela antiga gravadora Continental, em 1973.

O álbum não fez sucesso na época, mas com o tempo, a mistura de rock e música negra levou o LP (recentemente reeditado pelo selo Somatória do Barulho) a conquistar fãs em todo o mundo e a aparecer em listas de colecionadores de álbuns raros nos Estados Unidos e Europa.

Após o disco, Paulo largou os shows, não gravou mais e chegou a trabalhar como roadie de Tim Maia, que é padrinho de um de seus três filhos. Uma de suas últimas aparições públicas foi num encontro com fãs e amigos na Feira de Vinil do Instituto Bennett, em novembro do ano passado, quando o disco foi reeditado.

Segundo amigos, o músico foi encontrado já morto por um amigo que tinha ido visitá-lo e não conseguiu acordá-lo. Viúvo do primeiro casamento, Paulo deixa três filhos e a esposa.