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new order (ou pantone 321-2 C)…

Intolerância

Ler o que os inquisidores escreveram para Fabiana Cozza ofende até a quem não tem nada a ver com a história

Cora Rónai (O Globo)

Quando comecei a trabalhar em jornal, época em que os dinossauros caminhavam felizes sobre a Terra e vocês ainda não eram nascidos, havia censura. Havia departamentos de censura, um conselho superior de censura e um monte de censores para povoá-los e brandir a tesoura: cidadãos que acordavam de manhã cedo, tomavam banho, tomavam café, escovavam os dentes e iam para o escritório para censurar o trabalho alheio. Ganhavam bem para fazer o que o povo faz hoje de graça na internet. Eu não tenho nenhuma saudade daqueles tempos mas, pensando bem, acho que preferia aqueles censores estatutários às hordas linchadoras do Facebook.

Aquela censura era escancarada e despertava o melhor em todos nós, que a desafiávamos escrevendo nas entrelinhas, buscando figuras de retórica e modos de dizer as coisas sem dizer. Enfrentá-la era um desafio cotidiano, uma adrenalina constante. Descobrir as pistas espalhadas pelos jornais em forma de receitas de bolo e previsões do tempo era emocionante, romances e filmes censurados ganhavam o tempero apimentado da proibição.

Havia heroísmo em desafiar a censura, não em exercê-la.

Dona Solange, aquela, que chegou a inspirar música do Leo Jaime, mudou de sobrenome e foi viver no interior, zero orgulho da sua profissão. Os vizinhos, que a consideravam uma senhora reservada porém gentil, jamais desconfiaram do que ela fazia antes de se aposentar.

Os censores de redes sociais, ao contrário, se acham os reis — e rainhas — da cocada preta. Estão convencidxs da grandeza da sua missão, certxs de que lincham por motivos nobres. Seu ódio é puro e benfazejo, e suas vítimas deveriam se sentir gratas pelas lições. Só falam no imperativo:

— Calaboca!

— Leia!

— Estude!

— Aprenda!

— Silencie e respeite!

— Peça desculpas!

— Deixe de se fazer de vítima!

Palavras não tiram pedaço — mas tiram. O corpo sai inteiro de um ataque, mas a alma sai em frangalhos. E aí entra em cena algo muito pior do que a dona Solange: a autocensura. Nos tempos da censura, lutava-se para que opiniões e ideias sobrevivessem; hoje elas são abortadas antes de nascer. Não há glória em desafiar militantes raivosos, não há heroísmo em enfrentar ofensas disparadas por trás da tela.

A internet é um vasto território de absurdos sem resposta e de pensamentos silenciados, porque qualquer pessoa menos beligerante — quero crer a maioria de nós — prefere ficar calada a externar uma opinião que pode eventualmente ser mal interpretada — e será: na internet tudo o que pode (e tudo o que não pode) ser mal interpretado será sempre mal interpretado. Para que despertar as bestas do apocalipse? Melhor levantar e ir tomar um café, dar um telefonema, regar as plantas, passar batido.

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Um dos documentos importantes desse Museu da Intolerância é o texto em que Fabiana Cozza renuncia ao seu papel no musical sobre Dona Ivone Lara, e que acabou dando panos para as mangas até aqui no jornal. Ela foi massacrada por ativistas de movimentos negros por não ser suficientemente escura para o papel, e abre o seu desabafo, dirigido “aos irmãos”, com as suas credenciais genéticas: “Mãe: Maria Ines Cozza dos Santos, branca, Pai: Oswaldo dos Santos, negro, Cor (na certidão de nascimento): parda”.

Fabiana escreveu com sentimento e expôs as suas feridas, dilacerada pelo linchamento sofrido ao comemorar, dias antes, a felicidade com o convite para a produção:

“Renuncio por ter dormido negra numa terça-feira e numa quarta, após o anúncio do meu nome como protagonista do musical, acordar ‘branca’ aos olhos de tantos irmãos. Renuncio ao sentir no corpo e no coração uma dor jamais vivida antes: a de perder a cor e o meu lugar de existência. Ficar oca por dentro.”

Ler o que escreveram os inquisidores na sua página é de assustar mesmo, fere e ofende até a quem não tem nada a ver com a história. Não consigo imaginar o quanto aquelas palavras não magoaram Fabiana. Mas renunciar ao papel não pôs fim à violência — agora ela está sendo acusada de ter denunciado a agressividade dos agressores.

“Irmã vírgula, não somos irmãos. E nós pretos vírgula, pq vc não é preta. E pare de colocar os negros como raivosos por exigir que o certo fosse feito. Tinha mais q sair mesmo.”

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Fiquei horrorizada em ver tanta gente se sentindo autorizada a dizer quem o outro é, como o outro é, como o outro pode ou não se sentir. A Arte, enquanto isso, escondida num canto, cobrindo a cabeça de cinzas. Como se Dona Ivone Lara fosse só uma cor, como se o delicado trabalho de representá-la em toda a sua grandeza não envolvesse tanto mais. Fabiana Cozza conheceu Dona Ivone, cantou com ela, foi escolhida pela família para o papel. É negra, mas não é Pantone 321-2 C. Todos a ela.

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Sou branca (Pantone 58-6 C) e desqualificada de saída para entrar nessa discussão.

Mas aí é que está: todos deveríamos poder discutir tudo. Racismo não pode ser discutido só entre pretos ou só entre brancos, como feminismo não pode ser discutido só por mulheres. Ou lutamos pela inclusão de todos, e por todos os lados, ou vamos nos afastar cada vez mais, fechados nas nossas bolhas, ouvidos tapados para o outro, fervendo cada qual na sua ilha de ódio.

é o tal “podrão FIFA” corroendo os universos…

são os mesmos que tentam destruir são jujuba (desde 1927)… e o mais patético é que essa janotada tem a coragem de buscar termos “populares” para dar autenticidade à comédia. tipo usar “buteco” e não a bagaça do nome como ele é, BOTECO… que mané buteco? buteco de _ _ é r _ _ a, bando de conspiradores como muito bem detectou a querida listradinha claudia!

nick cave (ou a bula do roNca)…

no globo, hoje

“Penso em mim, cada vez mais, como alguém que escreve. E quando escrevo não ouço música. Com o passar do tempo, tenho escutado cada vez menos música. Quando o faço, fico com ‘os caras’, Neil Young, Bob Dylan, Leonard Cohen, Van Morrison.

Quando nos mudamos para a Inglaterra, chegamos achando que iríamos mergulhar na revolução punk, mas foi tudo um pesadelo. Nós não gostávamos do que as pessoas tocavam à época lá. Só nos demos bem com o pessoal do Pop Group e do The Fall, muito provavelmente por culpa nossa. Não éramos fáceis.

Hoje, três décadas depois, finalmente consigo dizer que The Cure e The Smiths eram simplesmente sensacionais. Fui ouvir as músicas dos Smiths e a minha reação foi: ‘Mas este cara (Morrissey) escreve bem pacas, eu achava que só tinha eu’ (risos).

Aí fico feliz, hoje, em retrospectiva, de não ter dado a importância que os dois (o outro é Robert Smith, do Cure) mereciam à época, pois eu teria desistido da carreira. Morrissey é um grande letrista. Um sujeito estranho e corajoso, mas, acima de tudo, um senhor compositor.”

descoberto arsenal de armas químicas em são januário…

toni platão (tricolor) me acordou hoje com a seguinte filosofia ao telefone:

– caramba, estão querendo fechar com são januário

todo amarrotado consegui balbuciar:

– mas isso eles tentam desde 1927

já pensou o estrago causado nos janotinhas da imprensa mauriçola da zona sul (claro, 120% torcedores de botafogo, fluminense e flamengo) ao terem que engolir  a dura realidade que o maior estádio de futebol da américa do sul havia sido inaugurado lááááááááá do outro lado da cidade (e da civilização) por um bando de desdentados, analfabetos, portugueses,  suburbanos, crioulos e operários, em 1927? tem noção?

a História é a História e segue igualzinha… portanto, a mídia “padrão FIFA” segue firme no objetivo de fechar são jujuba… e, nos últimos tempos, a missão está em sua logística máxima.

evidente que são januário é um poço de problemas… ainda mais hoje com três vertentes políticas corroendo a alma do torcedor vascaíno + um time horroroso e um estádio com toneladas de problemas estruturais.

não vou me arrastar na choradeira de anos e anos assistindo à tentativa de destruição de são jujuba mas vale exemplificar esse crime com a chamada de primeira página que o globo exibiu na quinta feira, após o jogo com o cruzeiro…

psiu, hey, alô… como assim, bial? “torcedores são detidos após confusões”? quantos torcedores do vasco? UM? UM?

e a outra besta humana sanguinária era do cruzeiro? HAHAHAHAHAHAHAHA…

como a possante jornalista investigativa carolina castro chegou a esse número dantesco digno da batalha de leningrado?

o fato é que, hoje em dia, se vaguinho e eu travarmos, na arquibancada de são jujuba, uma guerra de palavras por conta de bon jovi (ele é fissurado no mancebo), a cavalaria do batalhão de choque da PM invadirá nosso espaço fatiando os dois vândalos sob pesada descarga de gás de pimenta.

amigos que estavam no jogo de quarta feira informam que NADA aconteceu para justificar a ação da PM daquele jeito… conclusão, a porra do gás se alastrou e o juiz interrompeu o jogo devido aos “tumultos” na arquibancada. que comédia!

aguarde para breve, a descoberta de um arsenal de armas químicas em são januário… afinal, já “aconteceram” (recentemente) casos de racismo, homofobia, violência extrema e, hoje, PATETICAMENTE, chegamos ao assédio sexual (que eu me nego a saber qual foi)… PQP!

como estamos rachadíssimos, sem reação, a janotada da ZS sabe que agora é hora para se livrar, definitivamente, da única resistência ao futebol gourmetizado (“meu barça”, “meu real”).

haja força, inteligência, união e paixão na colina!!!

amém

renan, alex & a lista…

Assunto: Listinha do Alex

“Fala Mauricio,

Sua Mojo já deve estar chegando aí – se o carteiro maratonista chegar – mas eu queria o seu parecer sobre essa listinha do Alex Turner abaixo.

Além da presença inoxidável do Disco do Tênis, pirei mesmo no Alan Hull e no Nino Ferrer, que não conhecia.

História AQUI.

Abraço,”

Renan