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presença+lanny+gal…

dizem os historiadores que o jornal presença foi a terceira publicação independente a bater de frente com a ditadura aqui pelos lados da cidade de são sebastião… logo depois do sol (67) e pasquim (69)… o presa teve apenas – pelo o que consta – dois números lançados no final de 1971… e abriu caminho para a chegada da rolling stone. os formatos e assuntos eram muito parecidos. o número um do presença destacou: “john lennon – torquato – andy warhol – waldick soriano – helio oiticica – erasmo – gal – macrobiótica”. a capa estampou o MEGA espetacular guitarrista lanny (19 anos) que, na época, galgava parâmetros com gal costa. pode começar a chorar de emoção…

presenca.lanny

lanny2

o mesmo número um do presa publicou o anúncio do célebre show…

gal

claudia mandou pra gente (ou só o rádio salva)…

radio

Só o rádio salva

Arnaldo Bloch O COLUNISTA ESCREVE AOS SÁBADOS

No mundo AM podem mudar as vinhetas, mas a maneira de se comunicar não muda nunca

 

Sempre que o coração aperta, que as coisas parecem ir por um rumo existencial sem solução, me refugio no rádio. Não no rádio que passa na internet, com seus milhares de estações pré-programadas em nichos, nem nos portais de rádios espalhadas pelo mundo (o Transglobe de meu pai, com aquele dial mágico, já fazia isso em 1971). Meu porto seguro é o AM, com seu som mono, seu timbre abafado, sua sintonia apertada, como o coração que eu dizia. Já era assim na infância, quando ouvia com os pais a “Turma da Maré Mansa”, e continua a ser assim agora, já que até o charme das FMs passou, a Fluminense morreu, o espírito da Cidade morreu e a MEC, sem o Arrigo, foi assassinada, embora não de todo. Se não posso mais transcender o ser através da cultura pseudoinútil e dos anúncios da Rádio-Relógio (única instância em que o tempo, como o conhecemos, era um parâmetro que fazia sentido), posso, ainda, deliciar-me com os bordões infinitamente renováveis de Édson Mauro no futebol, voz amiga que pareço conhecer de tempos imemoriais, e não adianta ver a foto no Google, aquele não é ele, o verdadeiro Édson Mauro é o que a voz evoca numa imagem difusa que paira sobre a lógica. No mundo AM podem mudar as vinhetas, ligeiras atualizações, mas, na essência, a maneira de se comunicar não muda nunca, é sempre efetiva, eficaz, eficiente, para a dona de casa, o taxista, o desportista, o plantonista, o solitário, a família, os amantes e os cornos. Se ontem na Globo havia o Saldanha, o Jorge Curi, o Waldyr Amaral — hoje há o Penido gritando “bota o pé na forma, bicho!”; o José Carlos Araújo, que, depois de abastado purgatório no sistema bancário de rádio, volta ao tubo pela Tupi ao lado do Apolinho, e trava-se, com a graça dos deuses, a guerra entre Penido, o Garotão-vingador, e o Garotinho, que jamais abriu mão de sua marca, nem quando um político malfamado lhe surrupiou a alcunha. E lá vem a nova geração, Hugo Lago, Camila Carelli, e, na mediação, o papo multifocal de Zeca Marques, com suas sapatadas no ventilador da bola, do samba e das canções de motel (o Good Times 98 agora virou grife de horário AM). Meu coração bateu, preocupado, quando Felipe Cardoso, com seu jeito entre o raivosinho e o paternal, deixou de comentar jogos, mas hoje comemoro sua onipresença como âncora absoluto da Central da Bola. Devo confessar que me vejo bastante apegado à Globo. Era a rádio que mais ouvia antes, continua a ser, por motivos que dizem respeito à cultura dos primeiros anos, mas com certeza também à qualidade e a um certo espírito de bate-papo que jamais cessa. E a um padrão de vinhetas, de chamadas, pelo qual se continua a zelar, os nomes dos times ecoados, os dos locutores cantarolados, o assovio na marcação de tempo, as sonoplastias que revivem nos nervos emoções que remontam ao tempo em que nem palavras havia, tempos povoados de eletricidade estática num Brasil abafado por nuvens e tremores. Hoje, quando ligo a TV e vejo Eduardo Cunha tomando conta do país, Lula em desespero, Dilma falando em mulher sapiens, o Dunga malhando afrodescendentes e continuando no cargo, juristas dizendo que o ambiente prisional é agradável porque os meliantes “encontram seus amigos no pátio da prisão”; quando a delação vira a única instância da Justiça; quando, em meio ao genocídio perpetrado pelo Estado Islâmico a questão central é se o Caetano vai dar show em Israel; quando me vejo enclausurado em engarrafamentos de duas horas de Copacabana a Botafogo e sei que nunca mais sentirei aquela maresia, e que o fedor do posto 5 não cessará jamais; então, só quero ligar o rádio e ouvir a estática do AM, e cada vez meu interesse se estende — exceção feita aos programas religiosos, muito embora estes me façam lembrar de papai, que adormecia com o radinho encostado no ouvido, e, para dormir, sua preferência eram os pastores mais apocalípticos, de ele achava graça, escutava aquilo como se fosse um radioteatro do fim do mundo, e se alguém desligava a gritaria, ele acordava com um urro, temeroso do silêncio. Mas avanço, e, em noite fria dessas, a caminho, ouço o Alexandre Ferreira, com seu programa de mela-cueca, ajudando viúvos e viúvas a encontrar parceiros. Não é meu caso, ando feliz nessa coisa de amor. Mas o Alexandre, entre uma e outra solidão, queria saber do ouvinte qual a melhor coisa para fazer no frio, e as respostas, por zapzap ou telefone, pouco variavam: fazer amor, dormir ou tomar chocolate quente. A certa altura o comunicador se queixou, mandou mudar o disco, e me ocorreu que gosto de tomar sorvete no frio: não derrete com facilidade, é possível fruir sem sujar a mão, a roupa, a casa. No primeiro sinal vermelho gravei minha mensagem: “Alexandre, no frio a melhor coisa é sorvete, pois não derrete”, e me identifiquei, unicamente, como “Arnaldo do Leblon”. Já no portão da casa da namorada, ouvi minha voz soar e demorei a crer que era mesmo eu. O locutor disse: “Olha essa aqui”, o sonoplasta jogou uma risada marota e um som bizarro de mola maluca, e o Alexandre disse que a coisa era muito bem pensada, e nunca me senti tão reconhecido na vida como nestes minutos anônimos. Aliás, como diria a Rádio-Relógio: (…) nos países frios o consumo de sorvete aumenta no inverno (…) você… sabia? (…) Casas Pernambucanas (…) Magazine Uzai (…) Funerária Já Vai Tarde (…) sete horas, dois minutos, zero segundo (…) e o resto é silêncio e solidão.

 

maciel fatal & a rolling stone…

com data 1fevereiro1972, foi lançada a primeira edição brasileira da revista rolling stone. luiz carlos maciel era o editor, a capa (layout duplo) estampava big boy…

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e a revista dobrada tinha caetano na frente, era a imagem das bancas…

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na seção de lançamentos, o principal disco foi “gal fatal / a todo vapor”, apresentado por LCM. na mesma página, outra novidade, dessa vez, resenhada por jorge mautner…

fatal1

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new order (ou maciel, a leNda)…

maciel

“Um tanto constrangido, é verdade, mas sem outro jeito, aproveito esse meio de comunicação, típico da era contemporânea e de suas maravilhas, para levar ao conhecimento público o fato desagradável de que estou sem trabalho e, por conseguinte, sem dinheiro. É triste, mas é verdade. Estou desempregado há quase um ano. Preciso urgentemente de um trabalho que me dê uma grana capaz de aliviar este verdadeiro sufoco. Sei ler e escrever, sei dar aulas, já fiz direções de teatro e de cinema, já escrevi para o teatro, o cinema e a televisão. Publiquei vários livros, inclusive sobre técnicas de roteiro, faço supervisão nessas áreas de minha experiência, dou consultoria, tenho – permitam-me que o confesse – muitas competências. Na mídia impressa, já escrevi artigos, crônicas, reportagens… O que vier, eu traço. Até represento, só não danço nem canto. Será que não há um jeito honesto de ganhar a vida com o suor de meu rosto?” Luiz Carlos Maciel

este grito de socorro foi colocado na web por um dos mais inoxidáveis brasileiros que conhecemos… especialmente para mim, maciel significou – por muito tempo – algo parecido com a importância dos mais avançados/modernos/atualizados sites de informação para a garotada de hoje.

diversas vezes cruzei com ele na rua… e sempre com o mesmo papo: “maciel, você é uma referência, uma lenda, um monstro, um fissurado em música. vamos combinar sua visita ao roNca roNca”… ele ria, concordava… e a coisa nunca andou.

não sei se felizmente ou infelizmente mas o fato é que o S.O.S ganhou espaço na mídia e, a essa hora, (TOMARA) maciel já possa pagar as contas… mas a creca seguirá no ar… outros “macieis” estão na mesma gaveta do esquecimento, da burrice, do bundamolismo, da padronização… um dos lados da tristeza pode ser conferido aqui, de onde retirei as devastadoras letrinhas de LCM!

maciel forévis… e forévis!

zeca tenha piedade de nós (ou marinho, nosso ídolo)…

globo

não é preciso voltar a fita para as lamentações de sempre sobre o mundinho raso no qual estamos metidos globalmente (!)… mas é dose pra mamute enfurecido testemunhar a nota acima publicada, hoje, no maior jornal do país, na coluna mais lida do país, assinada por um dos mais renomados jornalistas do país… ou seja, “que país é esse?”… na boa, essas letrinhas são o típico exemplo do “jornalismo” desprezível que faz, a cada minuto, neguinho navegar à margem da “grande” imprensa.

zeca, a essa hora, está gargalhando com pena da gente… pobre raul, entrou de gaiato nesse titanic… coitado do vinil, outra vítima do bundamolismo galopante… vem marinho…

marinho

voltem

anti – new order (ou o pombo sem asa de um chapa)…

brasil.500

Assunto: TENHO UMA BOA NOTÍCIA: CANCELEI A MINHA ASSINATURA DO UOL
“Senhores,
Tenho uma ótima notícia para vocês: há pouco cancelei a minha assinatura aí do UOL que fiz em 1998. Com isso, os senhores não terão que conviver com um excelente assinante que pagava religiosamente em dia duas mensalidades, reclamou dos serviços no máximo cinco vezes ao longo desses 17 anos, assistiu sem cancelar a decadência do nível do noticiário do UOL, antes inteligente, culto, bem informado, hoje de baixo nível, mundo cão, mais preocupado com a cor das meias de Mumuzinho do que com o novo disco do Beck.
Sim, vocês vão ficar aliviados com a minha ausência e eu mais ainda com a ausência de vocês. Peço, por gentileza que avisem ao Luiz Frias, dono do UOL e da Folha de São Paulo, meu colega, que fui embora sem deixar bilhete, mas que depois falo com ele.
O motivo que me fez cancelar (vocês usam a curiosa expressão “descontinuar”) a minha assinatura foi uma INDEVIDA COBRANÇA EM DUPLICIDADE DE MINHA ASSINATURA em 20/05/2015, associada a atitudes macunaímicas como empurrar com a barriga, dizer que vão retornar o contato em 72 horas, insinuar que menti ao informar a duplicidade mesmo enviando o extrato de meu cartão digitalizado, enfim, baixaria generalizada.
Mas, vamos falar de festa! Tomem seus cafezinhos, beijem seus crachás, avisem no Facebook que perderam um ótimo assinante!!!
Parabéns” . Fernando

nasceu ontem…

em 16junho1965…

bob

“like a rolling stone”,  a música que os entendidos consideram o o ground zero desse negócio chamado rock’n’roll. alguns deles também garantem que, de lá pra cá, nada mais prestou… hahaha… mas que muquiranada essa tchurma, hein?

mas o fato é que a canção galga parâmetros há exatas cinco décadas. literalmente, parece que foi lançada ontem… celebremos!

a iguaNa radiofônica (ou renato mandou pra gente)

iggy

Assunto: As peripécias do Iguana na BBC 6.
“Salve Mau Val!

Beleza?

Olha só que maravilha, ainda há esperança para este planeta… 🙂

Grande abraço!

Cheers!  Renato

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– A Noite da Iguana

“Eu estava em uma discoteca na ilha de Capri. Era um ambiente degenerado, com europeus sem nada para fazer e um monte de dinheiro para torrar. Escutei os primeiros acordes [de “I Feel Love”, sucesso de Donna Summer] e pensei comigo mesmo: ‘Game over: a disco music chegou’.”

Das profundezas de um inferno rocker, quem traz a memória à tona é Iggy Pop, 68, bronzeado de morador de Miami, zero de gordura corporal e bilhões de neurônios ainda em fúria. A lembrança é de 1977. A disco music fervia. Rock’n’Roll em crise. Iggy afundado nas drogas mais pesadas.

Para a iguana autodestrutiva do rock, parecia o fim da linha – na estética e na vida. Com sua banda, os Stooges, Iggy já fazia punk rock uma década antes de o gênero existir oficialmente. Depois de cinco ou seis anos, o grupo implodiu e ele seguiu carreira solo. Entregou-se a todo tipo de excesso. No final dos anos 70, quando a disco engolia o rock, foi içado das profundezas por David Bowie, que o levou como parceiro de turnês e ajudou nos discos.

Sobreviveu. Hoje toca suas canções favoritas e conta grandes histórias em um programa semanal na rádio BBC 6, “Iggy Confidential”. Vai ao ar nas noites de sexta, e depois os episódios ficam disponíveis no site. Iggy fala um inglês pausado e claro. Dá para escutar sem sofrer.

A carreira radiofônica de Iggy Pop começou há cerca de dois anos, substituindo Jarvis Cocker, do Pulp, no programa “Sunday Service”. Jarvis pediu uma licença para excursionar com a banda, mas não voltava nunca e Iggy foi ficando.

Quando Jarvis se dignou a retomar o posto, depois de muito tempo, Iggy já tinha se firmado. Rapidamente ganhou um outro horário na grade da emissora (que é disparada a melhor rádio de música do mundo).
Como apresentador, direto de um estúdio escuro na ensolarada Miami, Iggy reina soberano com a abrangência de seu conhecimento musical e com a lucidez das lembranças guardadas em seus miolos tão maltrados pela química de recreação.

Tem rock? Claro, Iggy é uma enciclopédia ambulante. Jazz? Sim, e com riqueza de comentários, contextualização, e profundo conhecimento de causa. Música eletrônica, reggae, sons obscuros do Oriente. Já fez até um especial de música latina, só com raridades.

Apresenta desde as últimas novidades até os sons mais clássicos. Os comentários que faz entre as músicas são, sem nenhum favor, geniais.

Uma vez tocou “King Heroin”, de James Brown, e na sequência contou sobre um show a que assistiu de Brown, então em baixa total. Disse mais ou menos o seguinte: “Mesmo nos piores palcos, mesmo tocando para os piores públicos, James Brown sempre soube onde estava e quem ele era. E não são muitas as pessoas que sabem quem são”.

Iggy é obcecado por James Brown, o que pode parecer surpreendente -mas só em um primeiro olhar. Porque é no rei da soul music que Iggy bebeu, até a última gota, para criar sua persona artística.

O corpo elétrico, como se estivesse plugado diretamente em uma linha de alta tensão. A atitude confrontacional, na beira do palco, olho nos olhos da plateia: “O artista aqui sou eu, vocês que se virem”. Claro, Iggy é o James Brown branco, olhos vidrados, um fio sem capa, o peito lacerado por cacos de vidro.

Chamado de pai do punk, Iggy é fascinado por música negra. Depois de tocar “Cloud 9” (de 1968), dos Temptations, disparou mais uma: “Essa música chama as pessoas para um mundo paralelo, fumar um baseado, tomar um ácido, ficar legal. Muitos de nós que pegamos esse trem, nessa época, hoje estamos ocupados sobrevivendo a nós mesmos”.

Para os dias de hoje, “Iggy Confendential” traz só um senão: são duas horas dominadas pela surpresa, pelo inesperado. Não tem nada a ver com a nossa época, em que as pessoas procuram na internet aquilo de que elas já sabem que vão gostar, ou então se submetem às ofertas de um algoritmo que intui o gosto do freguês.

Nas noites de sexta-feira, na BBC 6, o único algoritmo é o que roda dentro do cérebro de Iggy Pop. E, da cabeça do homem-iguana, ninguém prevê o que pode sair. ”

– Álvaro Pereira Júnior, Folha de São Paulo, 06 de junho de 2015.

Link da matéria: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/alvaropereirajunior/2015/06/1638514-a-noite-da-iguana.shtml