Foi-se na madrugada desta segunda Fernando Faro, que fez muito pela memória da canção brasileira através dos programas de tevê shows e discos que produziu – sendo a face mais conhecida deles o “Ensaio”, na TV Cultura paulista (e TVE nacional).
É mais um a ir conversar com Hendrix – e a continuar a conversa com Cartola, que era camaradão do dito cujo.
Ó só, ali em cima, o Angenor no “Ensaio”, em 1974.
Enfim, como você disse na homenagem a Prince: que fase da nossa humanidade, hein?
“Há uns sete anos, Nana parou o copo de cerveja no ar e disse, com semblante muito sério, que ia morrer em agosto do ano seguinte.
– Que besteira, rapaz, você tem uma filha para criar.
– Você é ateu, não entende. Eu sou espiritualizado, sinto coisas que ninguém sabe.
– Ha ha ha, você vai é enterrar um monte de gente com essa conversinha mole…
De fato, ele não morreu. E continuou a ligar para minha casa em horários inesperados para contar piada e desligar o telefone quando terminava, assim mesmo, sem se despedir. Também tivemos tempo para montar uma banda, Blind Date, gravarmos uma trilha e, há dois anos, fizemos um show – apenas nós dois no palco – inspirados por Reich, Varesse, Satie e Villa Lobos.
Foi Nana que numa manhã de domingo me fez gostar de Villa Lobos. Cantou as letras, me fez prestar atenção às variações rítmicas, abriu uma dessas janelas que a gente pode passar a vida inteira sem perceber que existem.
Agora, ele foi embora. De novo, nem me deu a chance da despedida, deixou apenas uma enorme tristeza.
Sou ateu, não sei rezar, mas alguém disse que a música é uma forma de oração. Que meus sentimentos sejam representados nessa música, uma das primeiras que fizemos juntos.