dynamic range ou a ausência dele…

atripa

Assunto: remasters e loudness war retardatária
“Tudo bom, Mauricio?
Ouço o ronca ronca desde a época da radio imprensa mas, apesar de ter participado algumas promos e comparecido a algumas edições da festa, nunca cheguei a ser da turma dos ouvintes mais participativos (e não foi por falta de estimulo, a falha é totalmente minha). Mas desde a presença do Rafael da Polysom e do excelente papo de vocês a respeito de prensagem, qualidade sonora dos discos no Brasil, assunto que acabou rendendo até o programa dessa semana, fui sentindo sentindo uma coceirinha querendo contribuir com o papo.
Enquanto o Rafael nos contou animadão que a qualidade das edições em vinil só melhora, com masterizações cuidadosas e prensagem cada vez mais azeitada, a qualidade dos CDs nacionais vai por agua abaixo. Ao que me parece, desde que as pessoas migraram pras plataformas digitais e passaram a ouvir som quase que exclusivamente no laptop ou no smartphone, o padrão de som dos cds, mesmo as reedições de clássicos importantes da mpb, são remastetizados com um som estourado, num nivel de volume absurdamente alto, sem dinamica alguma, e o que é pior: repetindo um padrao equivocado da industria americana que, salvo algumas exceções, já foi superado desde o inicio dos anos 2000. Ou seja: nossa loudness wars é completamente retardatária.
Penso na caixa Salve Jorge como um divisor de aguas no mau sentido, e não é preciso ter ouvido ultra refinado pra sacar, basta pegar o tabua humildão, ainda com o selo phillips, e comparar com o volume da caixa, já com o selo da universal: acabou-se a dinamica, acabou-se o descanso pro ouvido sacar qualquer nuance de separação de instrumento, voz, timbre como você bem falou ser possivel sobre a reedição recente em LP. E sabe o que é o mais trágico? Esse disco e muitos outros foram “remasterizados” pelo mesmo engenheiro de som responsavel pela gravação do Tábua e muitos outros… (não cito nomes pra não ser indelicado)
E pra provar que esse não é um papo muito subjetivo, basta olhar nesse banco de dados de uma galera mais audiófila que mede o dynamic range dos discos dos mutantes, ordenado por ano de lançamento: http://dr.loudness-war.info/album/list/year?artist=Os+Mutantes
Infelizmente esse é o padrão dos relançamentos de discos brasileiros importantes hoje em dia, com ilustríssima exceção dos relançamentos da Discobertas, pelo que consigo notar com as caixas do Moraes Moreira e do Jards, e alguns da Som Livre (mas os Mutantes da fase prog relançada por eles são um verdadeiro horror, tudo absolutamente comprimido, é ouvir e querer jogar pela janela).
Já tentei levantar essa lebre com alguns jornalistas conhecidos, mas até agora ninguém se animou a cair dentro desse assunto – talvez porque espaço pra jornalismo musical de fato no Brasil anda rarefeito ou porque a maioria já nem tenha um 3 e 1 que seja pra tirar essa teima. Mas, mesmo com as tiragens extremamente minguadas dos cds, acho que isso é um problema grave, já que essas masterizações, mesmo que não sejam adeptos do formato como eu (e talvez esteja meio sozinho nessa, taí uma enquete boa pra tripa responder) devem servir de base para as versões digitais de tudo que ouvimos por aí e ficam como referencia pra posteridade. Triste, né?
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Mauricio, aproveitando que já estou por aqui, cabe também um pedido? Ando fissurado em tudo que tem Roy Wood no meio, seja The Move, carreira solo, Wizzard, os primeiros do ELO, etc, e não me lembro de já ter ouvido no programa – não tenho duvida que a tripa toda vai curtir
Um abração,”
Tiago