giuliano & lanny gordin…

Subject: #574 / Lanny Gordin
“Caro Mauricio,
Escrevo para agradecer a você e Nandão pelo grande programa que foi o #574. As homenagens a Lanny Gordin foram muito emocionantes e me fizeram pensar bastante na importância da existência do Ronca Ronca. Explico: lá pelos idos de 2001/2002, eu morava em São Paulo e fui convidado por colegas do trabalho para um happy hour em um boteco próximo. Depois de alguns minutos no bar — um lugar simples, relativamente pequeno –, ouvi um som de guitarra muito peculiar que vinha do fundo do ambiente. Estava meio difícil de acompanhar, pois era um desses lugares que as pessoas iam só para beber e conversar. Ninguém estava prestando atenção à música, que servia só de pano de fundo. Levantei e fui dar uma espiada de perto. Confirmei minha suspeita: era o Lanny Gordin, tirando sons lindos de uma Gibson plugada a um amplificador modesto. Voltei para a mesa empolgado e contei ao pessoal que déramos a sorte imensa de escolher aquele bar na mesma noite em que um gênio da guitarra estava se apresentando a preço de modesto couvert artístico. 
 
Lanny… quem? Ninguém deu bola. Ninguém conhecia o cara. Voltaram à conversa de antes. Passa mais aipim frito, por favor. A guitarra seguiu abafada pelas vozes indiferentes de quem não tinha a dimensão de estar diante de um talento singular.
 
Essas memórias foram despertadas pelas músicas dele tocadas no #574 e por suas palavras sobre o gênio que se foi. De fato, enxergo o Ronca Ronca como um lugar onde, conduzidas por vocês, as pessoas que apreciam música de verdade conseguem conectar-se a outras mentes que compartilham desse mesmo amor. Mesmo estando tão distantes (vocês aí no Rio, eu aqui na Nova Zelândia e os demais componentes da Tripa espalhados pelo Brasil e mundo afora), creio que de alguma forma vocês me permitem manter uma conexão forte com outras pessoas que, se estivessem no bar naquela noite, parariam para ouvir o Lanny com atenção e se alegrariam com as joias com as quais ele nos presenteava.
 
Muito obrigado por isso.” 
 
Giuliano