gustavo mandou pra gente de NYC…

Assunto: Malcolm Gladwell, Elvis, Raul e Kurt Weill… num e-mail escalafobético…

“Salve Mauricio, tudo bem?

Você não vai se lembrar, mas nos conhecemos meses atrás na Lurixs. Eu chegando para deixar um trabalho com a Michelle e você de saída correndo por alguma razão. Foi mais um esbarrão do que uma conversa, mas me lembro como você foi gentil quando eu escancarei que sou seu ouvinte há tempos. E que fui convertido a essa seita de seguidores do Ronca pelo pastor Raul Mourão, quando eramos vizinhos de studio no Harlem.

Estou há sete anos em NY e ouvir seu programa e as preciosas batatadas me aproximam de casa e me trazem alento nos longos dias solitários de trabalho no studio. Como aliás eu sei ser o caso de vários artistas – que trabalham ouvindo o Ronca!

Apesar de ter até hoje feito parte da maioria silenciosa, essa semana eu ouvi o novo podcast do Malcom Gladwell sobre música e imediatamente lembrei de você. Tentei mandar a referência pelo Raul, mas não sei se ele entregou.. AQUI está o link.

O Gladwell também tem um outro podcast, esse sim já estabelecido e brilhante, chamado “The Revisionist History.” Nele tem um episódio sobre a relação entre música e ato falho. Com um exemplo do Elvis impagável, que por anos em apresentações ao vivo não conseguia cantar o trecho de uma música emblemática dele “Are you lonesome tonight” de tão perto que era de descrever a própria separação e a própria solidão. Bem no trecho em que ele para de cantar e parece falar diretamente com o ouvinte “I wonder if you are lonely tonight etc…”

Acho que você tem que ouvir, me impressionou como é que um sujeito calejado e que já havia cantado tantas vezes a mesma música podia continuar sendo ferido pela letra, e precisando escapar dela de alguma forma… ele vezes esquece, várias vezes cai numa gargalhada nervosa. Ou seja, não é só ouvinte que é transportado para um momento da sua vida ao ouvir uma determinada canção, mas o intérprete também. Muitas vezes um momento ao qual ele não quer voltar… Enfim, quem sabe pano pra manga.

AQUI o link.

Ah! Como já tá longo pra caralho mesmo esse email vou aproveitar pra te pedir música, e te mandar um disco daqui do outono gélido de NY… Você com certeza já conhece, mas acho que poucas vezes foi reunida uma turma tão forte. E frequentemente se fala na influência do blues como origem do Rock, mas esse disco identifica no cabaré, herdeiro da ópera, influenciado pelo jazz uma outra raiz importantíssima…

Não é a toa que reuniram Nick Cave, PJ Harvey, Lou Reed, Elvis Costello… Enfim, não dá pra escolher, o que você achar que couber melhor no jumboteco fica como meu pedido…

Segue AQUI o link para a referência do disco.

Por último vou te contar que uma vez dei um título para um trabalho por causa de uma música que o Rodrigo Amarante cantou no seu programa que dizia: “A multidão que vem a pé, o que eles vêm só não vê quem não quer ver…” Esse trabalho ficou tempos lá na entrada da galeria no Rio e agora está em SP. Um dia quem sabe te conto essa história melhor. Enfim, gratidão é o que não falta.

Como se diz por aqui, que essa mensagem te encontre bem, firme e forte.

Grande abraço!”


Gustavo Prado