igor mandou pra gente (ou rio de tristeza)…

“Muito da produção artística brasileira se deve a um sentimento inspirador: a tristeza. Seja em trabalhos mais autorais, seja naqueles para alimentar a indústria cultural. A tristeza já vendeu muito disco, livro, quadro, filme, poesia. Ela é reflexiva, põe as coisas em perspectiva e nos faz pensar no porvir. Pode ser a tristeza por um amor perdido/não-correspondido, pela perda de uma pessoa querida, pela pobreza, pela injustiça. Um sentimento que nos deixa mais forte para os enfrentamentos que ainda virão.
Tom Zé, na contra-capa de seu primeiro disco, escreveu que o brasileiro é um povo triste bombardeado de felicidade por todos os lados. E sob um ponto de vista interessante, o carnaval só é a festa que é porque torna quatro dias do ano num intervalo de uma rotina entediante em um momento de fantasia, desbunde e sincretismo.
Nos últimos 10 ou 15 anos, tenho a sensação que a tristeza está sendo cada vez mais combatida do que se devia. A situação social e econômica do país melhorou um pouco e com isso veio uma nova noção arrebatadora de felicidade: o consumo. E mais que comprar e ter, importa ainda mais o ‘mostrar que tem’ nessa espiral esquizofrênica da sociedade do espetáculo. As artes, cada uma da sua maneira, se modificam nisso. A indústria cultural, por exemplo, aboliu qualquer coisa que remeta a tristeza dos meios de comunicação. Suas músicas e filmes tem mais preocupação em ostentar um padrão de consumo que explorar sentimentos, mesmo que de maneira clichê. Quem está mais afastado da onda industrial também prefere uma pegada mais alegre, de sorrisos largos e constantes. Sinal dos tempos.
Fico pensando que certos artistas não teriam muito espaço hoje com suas músicas e letras. Só pra ficar na música: Lupicínio Rodrigues, Cartola, Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, Candeia, a turma toda do Rosas de Ouro, Paulinho da Viola – isso pra ficar em alguns poucos e não generalizar e dizer logo ‘todos os sambistas e intérpretes de samba dos anos 60 pra trás’. 
Fico pasmo vendo essas reportagens da gRôbo pautando “o que é ser carioca?”, “como ser feliz como um carioca?”, “10 motivos para o Rio ser maravilhoso”, “seja feliz como os cariocas”, como se essa cidade não fosse um rio de exclusão no qual está fundada há 450 anos.

Deixo aqui, para arrematar, uma música de Nelson Cavaquinho que serve bem para este texto.


Um abraço do seu amigo, sempre espontâneo, mas nem sempre feliz”
Igor