no mesmo lado da maré…

Assunto: paulinho da viola & beatles & o ronquinha
“Mauvall,

Lamentavelmente, não consigo mais ouvir o programa no horário, porque todas as terças, dou aulas pra uma galera que também rala e sonha em entrar na universidade pública e gratuita – isso se os vampiros da “escola sem partido”, da turma do mendoncinha e de seu conselheiro, o “ator pornô”, e os excretos do golpe que a cada dia se consolida no país permitirem que continue a existir…
Mas chego em casa e ouço o roNquinha, com muito prazer. Nem que eu vá dormir 2 da matina.
Nem precisa dizer: como sempre, o programa está irretocável, cabriocárico, emocionante.
Paulinho da Viola é demais, mano. Eu preciso externar minha emoção ao ver a interpretação do hino pelo homem, por um motivo especial: a orquestra de cordas que o acompanhou contou com a presença de meu querido primo, Rodrigo Fávaro, ao contrabaixo. Ele é um cara quase tão discreto quanto o Paulinho, então, não sei o que ele pode achar de eu fazer essa elegia aqui neste email, mas meu, como não se emocionar? Ouvir Paulinho no roNca, em referência à abertura da olimpíada, e depois um set que incluiu as pérolas do “Revolver”, é pra chegar aos píncaros da glória. “Foi um rio que passou em minha vida”.
Eu me lembro que ouvíamos esse disco direto, Rodrigo e eu, lá em Ponga Trossa, quando a gente era apenas dois piás de bosta, em meio a sonhos pueris de nos tornarmos grandes músicos, nos longínquos anos 1990. Pra mim, não deu, porque vadiei, não aprendi nem os três acordes, e não tenho talento, mas meu primo mandou brasa e chegou lá.
Eu ouvi esse velho LP no último volume na sexta-feira, em homenagem aos 50 anos. Veja só que coisa, hein? O roNca leu meus pensamentos. (não custa lembrar: à época do lançamento do disco, Paul tinha 24 anos. John e Ringo, tinham 25. E o George só 23!).
Apesar de toda a sacanagem que a gente sabe que é essa Olimpíada, e o preço que ainda vamos pagar por ela, e tudo o que está ocorrendo com o país, e as sacanagens machistas contra a Juliana Maranhão, e a hipocrisia dos que hoje veneram a judoca de ouro Rafaela Silva, mas que há 4 anos a ofenderam e agrediram de forma sexista e racista, e o cinismo dos bostonaros e a violência sexual dos “pastores” felicianos, sentir a leveza e a sutileza e a grandeza de um Paulinho da Viola no rádio, ajuda a aliviar a deprê coletiva que nos aflige.
Tá difícil ter esperança, mas o roNca é um forte lenitivo.
É bom saber que estamos juntos, do mesmo lado da maré.
Abração,”
André
rodrigo