o ouro é nosso!

Newsweek’s Liohn Roars

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The Daily Pic: André Liohn wins the Capa Gold Medal for his Libyan photos.

It’s that fire-orange light in the doorway at right, and the overcast blue glow outside, that make this photograph stand out. If André Liohn had taken it at any other moment, in any other light, it would be just another banal image of war. That it is not just another shot has now been confirmed, since it just helped Liohn win the Robert Capa Gold Medal of the Overseas Press Club of America. (The award ceremony is tonight.) The photo ran in the May 9, 2011, issue of Newsweek’s international edition, and is from a portfolio titled “Almost Dawn in Libya,” made up of striking images shot by Liohn in the besieged city of Misrata before the fall of Muammar Gaddafi. The OPC’s medal-givers called the series “a first rate example of close quarters combat photography obtained at great personal risk.” But for me, what matters in this particular image is the very special, very classical beauty of the light in the picture as a whole – and the fact that the fighters in it could never have acknowledged that there was anything but horror around them. The photo’s blues and oranges seem to echo some of the greatest Islamic ceramics. (Their famous blue glaze, at least, is right there in the tiling of the fountain in the shot.) And the siege of Misrata represents an attack on everything such cultural treasures stand for.

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A cobertura da mais sangrenta rebelião da Primavera Árabe, a guerra civil da Líbia, rendeu a um brasileiro o Robert Capa Gold Medal, um dos mais prestigiados prêmios de fotografia do mundo.

O vencedor da edição 2012 do prêmio – que foi instituído em 1955 – é o paulista André Liohn, 39 anos. Correspondente de guerra freelancer há mais de uma década, já cobriu conflitos na Somália e Síria, entre outros locais.

Ele realiza trabalhos como fotógrafo e cinegrafista para empresas brasileiras ou estrangeiras, como a CNN norte-americana e a organização de defesa dos direitos humanos Humans Rights Watch. Foi para esta última Organização Não Governamental (ONG) que Liohn cobriu do início ao fim o conflito na Líbia. Ele foi premiado por um grupo de 12 fotos tiradas em Misrata, a cidade mais castigada pela guerra, que ficou dois meses sitiada por tropas do ditador Muamar Kadafi, entre março e abril de 2011.

Foi em Misrata que Liohn testemunhou a morte de dois colegas, britânico Tim Hetherington e ao americano Chris Hondros, seus amigos. Os dois morreram em consequência de um disparo de morteiro e seus corpos foram retirados da Líbia por esforço de Liohn, que ajudou a transportá-los de barco para fora do campo de batalha. Ajudou o fato do repórter brasileiro conhecer um pouco do idioma árabe.

Hondros também tinha sido ganhador do Robert Capa Gold Medal, em 2005. Hetherington concorreu ao Oscar com um documentário sobre a Guerra do Afeganistão. Os dois morreram em 20 de abril de 2011 e o próprio Liohn quase foi morto em Misrata, cinco dias depois.

Liohn e um grupo de 10 premiados fotógrafos de guerra criaram este ano o projeto ADIL (Almost Dawn in Libya), que consiste de coleta de fundos para doações aos líbios, a partir da renúncia dos fotógrafos a direitos autorais de fotos feitas na guerra civil líbia.

Eles coletam contribuições de ONGs e também realizam exposições itinerantes com material fotográfico coletado durante a guerra. O objetivo é promover uma reconciliação do povo líbio, tanto que as fotos contam com colaboração de jornalistas que cobriram os dois lados em conflito.

Desde Nova York, onde está para receber o prêmio, Liohn concedeu por skype esta entrevista a Zero Hora:

Zero Hora — Este é o maior prêmio da sua carreira?

André Liohn — É o mais importante. Creio que é o mais importante prêmio de fotografia de guerra, no mundo. É uma honraria e tem muita importância para a nossa profissão. Sou o primeiro sul-americano (e o primeiro brasileiro) a ser contemplado com a medalha Robert Capa em 57 anos de prêmios. Espero que isso sirva para que, no Brasil, o fotojornalismo ganhe impulso mais crítico e independente. Tem muita gente fazendo trabalho bom por aí, mas tem de sair do país, para ganhar um bom espaço. Fotojornalismo não é apenas cobrir pauta e voltar para casa horas depois. Nem precisa ser devaneio estético. Pode ser um meio termo, um bom trabalho de pesquisa, que retrate uma cultura em meio ao conflito.

ZH — Um dos últimos vencedores desse prêmio foi o Chris Hondros, fotógrafo a quem você ajudou nos últimos instantes de vida. Isso lhe diz algo?

Liohn — Dia 20 fez um ano da morte do Chris e dia 25, quando recebo este prêmio, faz um ano que eu próprio quase morri. São coincidências intrigantes.

ZH — Como está o projeto ADIL, de ajuda à Líbia?

Liohn — Procuramos ir além do jornalismo. Viramos interlocutores da reconciliação dos líbios, é uma tentativa de contribuir para isso. É um projeto novo e ambicioso. Dia 7 de maio volto à Líbia, imprimo catálogos e começo a montar a exposição itinerante. Será bom para os líbios voltar à vitrine internacional, agora de forma positiva. A situação lá melhorou bastante, embora existam algumas escaramuças.

ZH — Quais seus planos imediatos de cobertura de guerra? Síria?

Liohn — Estive na Síria em dezembro. Agora não dá para ir, nenhuma empresa está bancando, em decorrência dos riscos para os repórteres. O que é triste…O povo sírio precisa da presença da imprensa. Aquela história precisa ser documentada. E sem apoio de jornais ou TVs, não penso em retornar. É difícil enfrentar riscos, sem sequer a certeza de vender o material e ter um apoio logístico.

O prêmio

A Medalha de Ouro Robert Capa homenageia o fotógrafo húngaro radicado na França Robert Capa. Ele cobriu os mais importantes conflitos da primeira metade do século XX, como a Guerra Civil Espanhola, a guerra entre chineses e japoneses, a Segunda Guerra Mundial em vários frontes (Londres, Itália, Normandia, a libertação de Paris), conflitos étnicos no Norte da África, a guerra árabe-israelense ea primeira guerra da Indochina (Vietnã), onde pisou numa mina e morreu, em 25 de maio de 1954.