em 2008, um conhecido chegou na minha lata e mandou:
– “maurição, estou preparando uma revista com o velho espírito do leblon e quero que você escreva nela”
repondi, educadamente:
– “ôpa, muito obrigado… mas seu convite está atrasado há uns 12 anos. afinal, o velho espírito do bairro já desceu pelo ralo”
o companheiro:
– “não, maurição, vamos trazer de volta… bláblábláblá”
direto ao ponto – a tal revista nunca decolou.
certamente, por conta de seu conteúdo inexistente!
diante da capa da veja rio, ali embaixo, uma rápida idéia do bairro, sobretudo, aos de fora do rio:
o leblon foi até o início dos anos 90 um bairro com pouquíssimos atrativos à maioria dos interessados pela zona sul carioca.
sempre perdeu de goleada para ipanema, barra da tijuca (início dos 90, ok?), certas áreas de copacabana, gávea, lagoa e jardim botânico.
sim, sempre perdeu de varada!
lembro que, recentemente, numa dessas conversas sobre valorização imobiliária um caboclo disse que, em meados dos 90, ele estava para se mudar… e as opções, que passavam pelo leblon, apontavam para gávea e lagoa e ele reafirmou:
– “o leblon era um subúrbio na zona sul, cravado entre a barra e ipanema. desisti dele”
ô, psit… não estou voltando láááááá atrás não, ok?
não precisa entrar na máquina do tempo para encontrar caê & nelson jacobina fazendo graça sem nenhum paparazzo por perto…
ou então, wayne shorter (sim, do weather report) à vontade na madruga…
tudo em cliques íntimos clicados por rombolinho!
enfim…
historicamente, o pedaço de terra que compõe o leblon chegou a ser pensado como um cemitério.
sim, de tão longe de tudo, sem avenida niemeyer, sem barra da tijuca… isso, em 1800 & “vovó calcinha”!
retornando…
com o fim do sonho dourado da barra da tijuca, a volta de muitos ex-moradores (com os bol$inhos mais cheios) e a natural super população de outros bairros, o leblon ganhou um “glamour”, até então, inexistente.
estes “novos” atrativos somaram-se ao velho jeito das coisas acontecerem no bairro – simplicidade, ruas calmas, muita gente da cultura (waly salomão, joão ubaldo, angelo de aquino, mauro rasi, paulinho tapájos, jornalistas, autores teatrais, Atrizes, ator_mentados), desocupados, comércio de rua, camaradagem, baixo leblon… enfim, um bairro. simples assim!
a especulação, claro, iniciou o trabalho de corrosão!
e aí, veio a BOMBA devastadora – o leblon passou a ser cenário para novela da vênus!
o bairro começou a ser mostrado de uma maneira falsa, ilusória, fake, mentirosa…
e como tudo mostrado na globo vira “ouro”, o tal pedaço de terra – que quase foi cemitério – foi catapultado a “objeto de desejo” para 98% dos brasileiros.
multidões visitavam o bairro como se estivessem no projac… milhares transitavam à procura das estrelas globais.
o custo absurdo da moradia expulsou grande parte dos que deram graça ao bairro. gente comum, desprovida do “make up” necesssário para brilhar no cenariozinho patético do manoel carlos… e sem nenhuma aptidão para a “tiração de onda” tão corriqueira na atualidade!
figuraças foram “naturalmente” extirpadas das ruas. a bandidagem chegou forte atrás do “faz-me rir” dos endinheirados, dezenas de pontos fundamentais para a história do rio de janeiro foram ao chão, trânsito infernal…
e o pior de tudo: a ilusão de estar num lugar que não existe mais!
claro que há resistências… mas, pela violência do vendaval, em pouco tempo…
vou parar porraqui… meus zôio fez blublu num mix de tristeza, impotência… e saudade das pessoas!
como o paiva (ex-garçom do ex-jobi, bar/restaurante) que não aguentou a quantidade de gente passando a mão da cabeça dele dizendo:
– “e aí paivinha, tudo certo?”
e ele repondendo:
– “como paivinha se eu não te conheço?”
ainda bem que consegui iluminar o cd roNca roNca (lançado em 96) com a presença de tequila, meu ídolo: