“Mauricio e Nandão, queridos,
O fechamento da última edição do ronquinha, com Song to the Siren, abalou profundamente meu coração. Explico-me.
Sou de São Gonçalo, daí do Rio de Janeiro. De forma que ouvia a Fluminense FM nos primórdios da rádio e, óbvio, acompanhava o MauVal desde aquela época.
Basicamente, era a Fluminense FM e nós lá, com vocês, walking on the wild side.
No começo dos anos 2000, vim para Brasília e o Ronca Ronca sumiu. Nesse período, não havia tantas opções para ouvir o programa como hoje.
Com a chegada da Oi FM, redescobri o programa pela internet. Mas acabei perdendo-o de novo, quando a Oi despareceu.
Daí, já faz bem um punhado de anos, foi um prazer imenso quando achei o Ronca Ronca no streaming. Coisa linda. Já até troquei alguns pombos por aqui, com vocês. Não sei se lembram, fui eu quem mandou o CD com After the Gold Rush cantada pelo Thom Yorke.
Nisso tudo, criei o hábito de começar a ouvir as edições “ao vivo gravadas” toda sexta-feira, pela manhã, quando saio para trabalhar. Ligo o áudio do carro e vou ouvindo ao longo do dia. Geralmente, termino no caminho de volta para casa, à noite, depois de alguns scotchs e cervejas com amigos.
Até que, na última quinta-feira, vocês colocaram This Mortal Coil para tocar…
Ovo frito, silêncio, life has surface noise, Lost Higway, Song to The Siren tocando no meu carro, 23:00 de sexta-feira, Brasília, a Esplanada em frente… e essa fênix rediviva me fez voltar à década de 1990.
Song to the Siren era uma música que eu não conhecia, até que, ainda nos anos 90, um amigo lá do RJ baixou o MP3 pelo Napster e fez um CD com ela e mais outras músicas excelentes… nightswimming, enfim.
Chorei, meus velhos, chorei na Esplanada dos Ministérios. Eram 23:00 de sexta-feira… eu, JK e os alto falantes do meu velho Fiat Mobi gritando “and you sang: sail to me, sail to me, let me enfold you….”.
Esclareço, não foi tarefa simples abandonar os ventos da Guanabara e estabelecer-me na muy bela e heroica cidade de Brasília, ao centro do país. Além de tudo isso, os tempos atuais andam difíceis: a perda de um emprego recente, aliada à necessidade de reestruturar a vida, acabou por me trazer essas mais preciosas memórias.
Os prezados sabiam que o Cerrado tem reminiscências? Ora pois, é fato. Imaginem aqueles senhores, cansados da má sorte, aventureiros à procura de fortuna no planalto central, aclimatando-se ao inferno seco.
Imaginem-se vestindo as roupas que os costumes obrigam. Então, imaginem um dia clássico de verão. Céu azul-azul, calor fulminante para quem veste terno, um convite excessivo à praia ou à mata, à sombra, uma esperança de chuva que pode vir lavar a alma no fim de tarde. É janeiro na Chapada.
E já que estamos nessa, imaginem voismicês, “estrangeiros”, família à tiracolo, um dia destes no alto do prédio do Congresso, o Memorial JK ao longe, o calor e as roupas quentes – então, um devaneio leva em direção ao Leblon, onde está, desaguando na praia, o Atlântico salgado.
E vocês me colocam Song to the Siren para tocar no meu Mobi, às 23:00 de sexta-feira, 31 de janeiro do ano da graça de 2025, na Esplanada. Chorei… tive que chorar, meus caros.
Muito obrigado! Continuem a tocar essas lindíssimas músicas de boa qualidade.”
Renato