“loucos com sede”!

túlio é ouvinte/participante “cabeleira altíssima” do programa.

acho que ainda não chegou ao bolo com 20 velinhas… tem o lacumbuca.com (com otaner)…

e, acima de tudo, pensa música de um jeito muito próprio!

FELIZMENTE!!!

durante o programa passado, ele enviou este míssil:

Subject: Informação

“Mauricio,

Não me canso de ouvir quando você fala do absurdo fluxo de informação que, principalmente, a minha geração está sendo exposta. Acho a sua opinião de uma lucidez fantástica que falta em muitos discursos, seja de botequim ou da academia. É um espetáculo muito grande para qualquer coisa, ainda mais relacionando ao mercado musical. Se acostumaram a enxergar essa plataforma como uma superfície viva de atividades efêmeras, músicas novas, álbuns novos, e deixam assim, como você registrou, de lembrar como uma obra eterna. O afeto e a memória afetiva para os álbuns lançados depois de 2005 (mero chute o ano, mas soa coerente) tende a ficar por conta de poucas efemérides ou de uma admiração individual – a ser registrada numa coleção particular ou num blog. O abrangente fica cada vez mais restrito.
Estudando o caso das resenhas, é bem característico da mídia digital não insistir num produto só, os portais hoje são preocupados em criar ícones. Nesse ambiente, o Animal Collective hoje não é mais aquele que lançou o Merriweather Post Pavillion, é uma banda que liberou um EP há dois meses e que, em algum momento da sua breve história, lançou um disco com boa repercussão. O Radiohead tem o agravante de chamar mais atenção pela sua forma de venda do que pela música – é discutível, porém não é preciso muitas voltar para encontrar pessoas mais simpática a campanha de lançamento do King of Limbs do que das músicas desse álbum.
São fragmentos à deriva num mar de emergentes subindo e caindo de todos os cantos. Lembro de um programa em que você comentou sobre o MGMT, questionou o hype com razão. Eles estão confirmados no SWU desse ano, quem repercutiu isso? A empolgação baixou, a novidade já era. Eu guardo fé numa categoria de artista imune a tudo isso, mas como os outros, vivem nessa outra realidade de valorização + significação versus ‘a novidade’. A cultura do deserto: todo mundo tem sede, mas ninguém sabe direito aonde ir para beber água. Uma corrida de loucos, poucos mantém a sobriedade.
O LCD Soundsystem é uma dessas que se afirmou, junto com o Arcade Fire e, levando em conta regularidade, o Franz Ferdinand. Bandas interessantes tal qual o National provou ser no show do Circo valem a recordação com mesma intensidade. Na cena Brasil, pelo menos há alguns, não havia muito interesse da maioria em moldar um rosto para a geração pós-90. Hoje, com a quantidade de trabalho que eles produziram fica impossível ignorar a diversidade e poesia praticada por eles. Arrisco três nomes: Kassin, em palavras suas, o maior produtor da música brasileira hoje; Tulipa adentra como futura popstar nacional; Fernando Catatau é um guitarrista de primeira linha da nossa gente. Popular é a regra que eles seguem sem serem notados, ao menos esses citados, não influenciam tanto quanto deveriam no barco que rege a música brasileira. Aparecem creditados em encartes ou em funções coadjuvantes em músicas gastadas nas rádios – caso do Catatau e Kassin; trilham uma carreira localizada em pequenos grupos até a expansão pelo oba-oba e conquistam a chance virar referência no país – o que espero que aconteça com a Tulipa. Em menor escala, os sintomas da cultura do hype pegam aqui também – vide o álbum Nó Na Orelha, do Criolo, tão bem dito quando as primeiras músicas apareceram, pouco estudado depois de “pronto” ao público. (Vale algumas observações sobre como funciona a carreira de um músico independente hoje, e se ele realmente busca aparecer, administra direito seus valores. Mas isso iria destoar bastante do tom do texto)
Portanto, a prática do dopping se generalizou. Colocam o menor para pular mais alto que o grande de verdade, ele cansa; o outro continua e vai bem encarando os próximos na esperança de um fichamento histórico justo. Que vem tardio como o reconhecimento póstumo de muitos artistas das décadas passadas, prejudicados por motivos diferentes. O problema é como alimentar o fluxo de (re)informação e convencer que ouvir mil vezes aquela música do mês passado não é tão ruim. Mais ou menos.
Desculpa pela batatada, mas acho que é mais ou menos assim.”
Abraços,
Túlio