sábado no gramadão…

ferrare

Governador Valladares, vi você, sábado, no gramadão do Maracanã mas, pra variar, você fingiu não conhecer a minha pessoa, só porque sou preto e ex-pobre. Na onda do saudosismo que embebedou o ex-maior estádio do mundo, ouvi Mick Jimenez disparar clássicos como “Yôio Como Vá” e, chorando de emoção, vendi cheirinho da loló para 250 pessoas que, como você, estavam ali no gargarejo. Eu, molhado na chuva, abraçado a meu pelourinho portátil para ver se penetro no regime de cotas e arranjo um emprego (emprego, trabalho, não!). Via você, meu chefe supremo, sentado na área VIP cercado de taparracas bem nutridas pelo sol da zona sul, misturado as marmitas do Hortifruti que lhe eram oferecidas, mas você, cara de mau, dizia “passo”, secamente. E as mulheres se arrastavam humilhadas, gotejando furor rejeitado por entre as coxas depiladas com cera marroquina. Lembrei, como lembrei, do show dos Rolling Stones em 1969. Eu era flanelinha e estacionava lambretas em frente ao Royal Albert Hall (FOTO), que reservou uma chaminé exclusiva para expelir o coquetel de bagulhos que Keith Santana fumou (FOTO, primeira chaminé a direita de quem vai). Ele fumou até um taco de sinuca que pertenceu a Rainha Vitória, lembra? Não lembra porque em vez de prestar atenção ao show dos Stones você tirava retrato com aquela sua máquina Azarrô Pentax, que depois virou marca de perfume francês. Såbado, no ex-Maracanã, vendi minhas guloseimas de praxe: LSD, haxixe, ópio, pó de mármore, durma bem já apertado e o lançamento deste final de verão, o Bezerro do Silva, uma cabeça de nêgo que mistura maconha, skank, Jota Quest, Detonautas, Naldo, Anitta, enfim, não é à toa que muitos usuários (já em outra encarnação) escrevem chamando a nova droga de Apocalipse Now.
E foi assim, a lâmpada apagou. Num piscar de olhos as 4 horas meia de show passaram rápido como um peidinho na van e no final, gritando “Yôio Como Vá” tentei falar com Keith Santana, lembrar que eu o ajudei a destruir o Teatro Municipal do Rio nos anos 70 e até o lustre central esmaguei e dei para ele cheirar. Mas o sucesso subiu às cabeças de Santana. Manco, dor nas costas, cantarolando “quando olho no espelho / estou ficando velho e acabado”, ele rumou para o camarim e se fechou em copas no sarcófago refrigerado. Ummagumma Ferrare, estádio Desmaracanã, UK.