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ana vida…

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Considerei esse disco uma espécie de momento definitivo, um tudo ou nada,
um vai ou racha no sentido do ser / de ser, do estar-fazer.
Comprometimento total para uma possível contribuição real.
Louca? Talvez.
“Você é bicho de palco.” – disse-me, certa vez, Ney Matogrosso.
E é isso mesmo.
Para mim, o centro de tudo sempre se resumiu a apenas esse momento.
E talvez por isso, a falta de verticalidade na feitura dos discos
anteriores, acabasse por cobrar a sua conta.

Eu sabia que, que no descompasso irregular de minha própria obra, eu ainda
não havia mergulhado o suficiente no ato de escrever, compor, arranjar, gravar… enfim, amalgamar canções – ou “almagamar”.
Um ano de ânsias e insônias e umas 30 canções depois, cheguei a esse novo – e decisivo – lugar.
Me lembro de comentar sobre esses desvarios com o Marcelo Jeneci e ele sabiamente me dizer:
“Ah, que massa! Então agora você está fazendo um disco.”
Claro que o convívio com o Lúcio (Maia – produtor) me fez perceber que já
passava da hora de eu me comprometer de maneira radical com um disco.
Afinal, o cara faz isso há 25 anos.
Eu não.
Eu realmente não sabia o que era isso.
Então dessa vez, foi tudo diferente.

O primeiro grande passo foi perceber que se cercar de pessoas experientes,
maduras e talentosas é um passo certeiro na busca, no processo.
Ninguém constrói nada sozinho.
E pra minha sorte, estavam ao meu lado, além de Lúcio, os amigos Dadi, Arnaldo
Antunes e Pedro Luís, os engenheiros Mario Caldato e Fernando Sanches e
ainda os músicos Fábio Sá, Betão Aguiar e Marco da Costa.
Todos cientes da minha luta pessoal no comprometimento fa-tal com a tal ‘busca pela essência’.

Gravamos tudo ao vivo. Power trio. Live. Como antigamente. Roots.
Um som que vaza no outro, microfones que capturam o som da sala toda, dos
outros microfones e dos amplificadores.
Prazer total. Caos. Delírio-delícia. Alma.
O repertório ficou entre as canções que rascunhei ao longo de 2014 e

algumas baladas pop, com certa influência da soul music.

Um disco – o primeiro – totalmente autoral.

Lúcio me apresentou um universo infinito de canções, arranjos, temas,
atmosferas. Décadas e décadas de som.
E eu que achava que não sabia nada, agora tinha certeza.
Madrugadas trocando ideia… muita ideia sobre o que significa você encontrar “o seu som”.
Foi maravilhoso. Um longo e tortuoso processo com final feliz.
“Se tem dor, tem evolução.” – me disse Marina Lima. Outra frase valiosa dela:
“Pare de musicar seus poemas, Ana. Canção é melodia!”
Tá certa. Certíssima.

Poderei um dia olhar para trás orgulhosamente e dizer que ‘eu fiz um disco que gosto’?
Sim!
Hoje eu posso.
Eu adoro esse disco.
Simplesmente porque estou ali pra valer.

Entre rocks e baladas, sinto que a equação se resolveu.

O que sou, ali está.

E a alegria de saber-se é transcendental.
Sei de mim.
Sou.
Estou.
Tô.
Agora eu tô.

Na vida.

Ana Cañas

Julho/2015