Arquivo da tag: crass

crass & arte…

crass

On the next installment of The Art of Punk, we tear into the art of Crass. From the assaulting black and white photo-realistic paintings of protest, anarchy, and social satire, to their legendary adopted brand and two headed snake and cross symbol. We head up to the Anarchist Book Fair in San Francisco to meet up with Gee Vaucher, and founding Crass member, writer, and activist, Penny Rimbaud. We discuss the art and the lifestyle stemming from the infamous Dial House, where they have lived, worked, and crated their own brand of anarchistic beauty, for more than 3 decades. We have a sit down with artist Scott Campbell, at his own New York tattoo shop, and talk about how the art of Crass, and one single t-shirt created a fork in his own road of life. Owen Thornton talks some shit. Finally we hang out with British graphic designer Dave King – the creator of the infamous snake and cross symbol, and discuss post war England, hippies, punk, graphic design, and more, that led him to the creation of the symbol made legend by Crass.

Created, directed, and Executive Produced by writer/author of ‘Fucked Up + Photocopied’, Bryan Ray Turcotte (Kill Your Idols), and Bo Bushnell (The Western Empire), The Art Of Punk traces the roots of the punk movement and the artists behind the iconic logos of punk bands such as: Black Flag (Raymond Pettibon), The Dead Kennedys (Winston Smith), and Crass (Dave King).

In addition to profiling the artists, the series includes intimate interviews with former band members, notable artists, and celebrities who have been heavily influenced by the art of punk rock including Jello Biafra, Tim Biskup, Scott Campbell, Chuck Dukowski, Flea, Steve Olson, Penny Rimbaud, Henry Rollins, Owen Thornton, and Gee Vaucher.

The filmmakers Bryan Ray Turcotte and Bo Bushnell take a unique approach to exploring the rich histories of these three seminal punk legends by focusing on the influential imagery and seeking out stories that have not been told yet through the artwork, which is integral to the importance and influence of each band.

CRASS (ou roberto mandou pra gente)…

roberto, de campinas, pirou com a sequência do crass que colocamos no #189 e enviou pra gente as informações abaixo sobre penny rimbaud (poeta, filósofo, ativista social, baterista do crass, símbolo da resistência)…

– Não tenho qualquer tipo de lealdade ao punk como forma de música. Nunca tive. O punk como eu conhecia tinha um propósito político. O que é classificado como música “punk” hoje em dia é algo absolutamente vazio e covarde. Eu realmente acredito que se não fosse pelo Crass e o movimento que cresceu dele, o punk só seria lembrado como uma velha senhora fazendo a pantomima do rock and roll; as mesmas velhas atitudes vestidas com uma fantasia diferente. Os Pistols com certeza não fizeram nada mais radical do que o Elvis Presley, a única diferença é que o Elvis lidava melhor com as drogas do que eles. O Crass queria mudar o mundo e, em certos aspectos, mudamos, mas não chegamos nem perto do que tínhamos nos proposto. Queríamos minar as instituições do Estado e tudo que elas representavam. Fomos muito longe para fazer isso. A ostentação rock and roll de ter uma banda era simplesmente a plataforma que usávamos. O que fizemos como ativistas foi muito mais importante para nós do que a música. Estávamos sempre procurando um jeito de ir além de ser apenas uma banda. Em nossa história, tivemos negócios e desentendimentos com todo tipo de gente: o Baader Meinhoff, a KGB, a CIA, o IRA, M16, Margaret Thatcher. É só dizer um nome, todos eles tentaram. Quando você compara isso a tocar num palco, você vê aonde a gente estava. Acho que nosso interesse em tocar era secundário. O punk nas mãos do mundo do entretenimento é uma farsa absolutamente sem sentido. Isso não significa nada.

Claro, o rock pode ser divertido, você pode ter uma noite legal, mas o que isso tem a ver com o punk? Todas essas bandas punks reformadas e grandes gravadoras gostam de pensar que são punks, o que é OK para dar umas risadas, mas não faz sentido imaginar que isso tem alguma coisa a ver com o que o punk realmente significa. O punk era um modo de vida, não uma modinha pop. Se você tem uma banda, você vai ter que se comprometer até certo grau com sua imagem pública, e a única maneira de fazer isso é manter uma frente pessoal. No final, descobrimos que era impossível manter essa frente, o que é uma das razões para termos parado em 1984. Bem orwelliano. As letras, músicas e a imagem do Crass estavam envolvidas com a política global, mas, no final das contas, acho que o efeito que tivemos nas pessoas foi mais na política pessoal delas. O punk costumava ser um grito contra a desigualdade e a injustiça, mas acabou incorporado ao mainstream. Detesto as pessoas que permitem que essa incorporação aconteça. Isso me deixa puto. De novo, de novo e de novo, você ouve a juventude expressando sua voz. De novo, de novo e de novo, você vê essa voz destruída por drogas, autoindulgência, idiotice e gente vendida. É triste. Mas, além de tudo isso, você tem que seguir acreditando nas possibilidades, acreditando que as pessoas querem algo melhor da vida, vendo algo além da feiura, vulgaridade, crueldade e exploração; algo que tenha um significado, que tenha uma conexão. Mas toda vez que parece haver uma possibilidade de isso acontecer, ela é esmagada. Foi assim com o The Clash. Todo mundo ficou empolgado porque finalmente tinha alguém falando de política e dizendo coisas como “I’m bored with the USA” e daí, no mês seguinte, o que eles estavam fazendo? Eles estavam cheirando cocaína e fazendo shows enormes nos Estados Unidos: valeu, caras.

As pessoas são sempre decepcionadas por seus heróis, mas acho que isso é culpa delas. Elas não deviam ter heróis, mas essa é a sociedade em que vivemos: grandes heróis, pessoas pequenas. Claro, reconheço que tem gente que nos vê como heróis, mas essas pessoas perderam nossa mensagem central: “Não há autoridade além de você mesmo”. No entanto, sei pelas cartas que continuamos recebendo do mundo todo, que muitas pessoas são motivadas profundamente e do jeito certo, não por meio de seus bolsos, mas de suas almas. Isso porque não estávamos dizendo: “Venham, comprem nosso maldito disco”, não, estávamos tentando fazer com que as pessoas percebessem que a vida delas era importante, que era a única que elas tinham e que elas deveriam vivê-la do jeito delas, seja lá qual fosse. Oferecíamos informação, e acredito que boa parte dessa informação era real e correta. Quando digo correta quero dizer que isso apresentava algo de valor, algo a que as pessoas pudessem se apegar e dizer, “É, talvez eu possa fazer algo da minha vida”. A coisa que queríamos ajudar as pessoas a entenderem era um senso de autonomia e autenticidade da alma humana individual. Assim como a alma é constantemente exigida na mídia, para ser minada com drogas, por dentro e por fora; mas no final, isso é a única coisa que realmente temos. Como personalidade, somos apenas uma série de declarações escolhidas em nossa jornada pela vida, e, infelizmente, isso se torna o que achamos que somos. Mas por baixo de tudo isso, temos algo com que nascemos, algo com que morremos, algo que existe além do tempo, que é nossa alma interna profunda. Acho que estou falando de um tipo de imortalidade. Para mim, o propósito da vida é se conectar com essa alma, porque quando nos juntamos a ela, nós nos tornamos parte do contínuo da vida.

Se existimos como entidades separadas, como personalidades individuais, não há realidade na vida, nem continuidade além disso. Há uma conexão entre todo mundo, e todos nós respiramos, comemos, dormimos e temos uma alma que permite que façamos isso. É tudo muito óbvio e natural. Esse é um ponto de partida, e era isso que estávamos (bom, pelo menos eu estava) tentando promover por meio do Crass. Sim, as letras do Crass tinham muito a ver com “a bomba” ou “o Estado”, mas o que nossa música estava dizendo era “veja além de tudo isso, onde você se encontra?”. Se você pode fazer isso, se você pode encontrar sua alma, você se conecta com toda a humanidade, com toda a vida. Todos nós nos existimos numa realidade de mentiras e traições cotidianas, e ninguém nunca vai conseguir achar um sentido nisso. É por isso que precisamos nos abrir para a ternura, o silêncio, a contemplação. Precisamos encontrar nossa própria alma dentro dessa bagunça. Deixamos que nos tornassem produtos, peões do mercado. A única maneira de sair disso é perceber que nossa personalidade, a própria coisa que achamos que somos, não é nada além de uma fantasia de ideias. Todos gostamos de pensar que somos alguém especial, então, dizemos as palavras certas, vestimos a coisa certa; mas tudo isso é apenas projeção, tudo irrelevante. Mas fora isso, acredito que as pessoas querem se conectar. No fundo, elas estão cansadas de ser apenas uma ideia de si mesmas. É por isso que as pessoas procuram por mais, é por isso que elas fazem sexo, por isso que usam drogas, por isso cometem excessos. Elas provavelmente não vão encontrar a resposta dessa maneira, mas todas querem se conectar. As pessoas querem saber se estão vivas, mas vamos encarar a verdade, numa sociedade de consumo, isso não é trabalho fácil.

PENNY RIMBAUD (daqui)