retirado do blog de demétrio weber, “educação à brasileira” (oglobo.com)…
“Jorge Luis Borges imaginava que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca.
O que diria, então, o escritor e poeta argentino ao visitar as bibliotecas públicas municipais brasileiras?
Em 1.152 cidades, simplesmente nada.
Pelo menos se a visita ocorresse entre setembro e novembro do ano passado. Foi nesse período que a Fundação Getúlio Vargas, contratada pelo Ministério da Cultura, percorreu o país para ver a situação das bibliotecas municipais.
Em 732 cidades, os pesquisadores só encontraram prédios fechados e projetos ainda no papel. Nas demais 420, simplesmente nada. Estamos falando de 20% dos municípios brasileiros.
Menos mal que a FGV não foi atrás de bibliotecas escolares, estaduais ou privadas. É possível que encontrasse alguma. Possível, mas pouco provável.
A situação tampouco era animadora nos 4.413 municípios equipados com bibliotecas.
Quase nove em cada dez ficam fechadas nos fins de semana, enquanto apenas 24% funcionam à noite — 48% têm no máximo dois funcionários. Somente em 29% delas, os usuários têm acesso à internet. Quase metade – 44% – não oferece atividades culturais, como rodas de leitura e palestras.
O Ministério da Cultura promete levar pequenas bibliotecas aos 420 municípios até o fim do ano. Diz também que 80% das 732 cidades já inauguraram ou abriram suas unidades que estavam desativadas.
Nada contra bibliotecas, pelo contrário.
Mas, como lembrou o diretor de Livro, Leitura e Literatura do ministério, Fabiano Piúba, de que adiantam meros depósitos de livros?
— Apenas implementar bibliotecas não resolve o problema — disse Piúba, ao divulgar o 1.º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, na semana passada. — O livro, por si só, não fomenta nem forma o leitor.
O paraíso de Borges remete à máxima de Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros.”
No Brasil, 188 anos depois da Independência, 121 após a abolição da escravatura, 14 milhões de jovens e adultos eram analfabetos em 2008.
Para Borges, com certeza o paraíso não ficava no Brasil.”