“uma cerveja gelada num dia queNte”…

Assunto: Pingados

“Oi Maurico,

Nem lembro qual foi a última vez que te escrevi sobre uma edição do ronca. Tem bastante tempo e eu sinto uma certa vergonha disso. Mea culpa a parte, queria te falar das minhas experiências recentes com o Ronquinha. Demorei para encaixar o ronca na minha rotina depois do fim do programa ao vivo. Só consegui me adaptar agora ao podcast porque ouço direto pelo iTunes enquanto estou no metrô.

Isso faz com que indiretamente o programa não seja mais de duas horas corridas. Ouço geralmente em pedaços de 45 minutos que vou juntando durante a semana. Emendo com edições passadas que não ouvi antes e todas as referências ficam confusas na minha cabeça. Mas é absolutamente gratificante ter as suas dicas de volta na minha rotina musical; eu tava com saudade disso e não sabia. Assim como eu já misturo minhas memórias com os programas antigos… então vou mandar uma batatada aqui, mas é de coração.

Queria falar de um episódio antigo meu com o programa. Lembro de ouvir varias vezes a história que você se estranhou com o pessoal da antiga rádio Fluminense porque eles não queriam tocar música negra na programação. Numa das vezes que você contou a história, tu emendou dizendo que Cartola tinha que ter espaço na programação junto com as bandas de rock. E isso me causou muito estranhamento na época. Sempre concordei contigo que Cartola é fundamental; mas eu tinha um paradigma muito forte dentro de mim que distanciava o samba de todo resto das coisas que eu ouvia. Colocar samba na mesma grade de uma rádio especializada em rock soava estranho demais – mesmo com a minha cabeça de um ouvinte do ronca ronca que dividia a prateleira dos LPs do Hendrix ao lado dos discos de Cartola.

Pois bem, amadureci e passaram alguns anos. Meu Spotify ano passado trouxe uma verdade que denuncia uma mudança de opinião: meu artista mais escutado do ano foi Wilco, o segundo lugar ficou com Candeia. A música que mais tocada foi um medley do álbum “Axé”, prestigiado por ti e pela bela história da ouvinte no último programa. Estar tanto tempo afastado do ronca e logo esbarrar com esse álbum que estou tão conectado nos últimos meses foi uma prova daquilo que você chamou de “inconsciente sonoro musical”. Tudo que a gente ouve esta conectado e o Ronca através dos anos se prova como o grande catalisador disso tudo.

E a verdade é que eu so tenho me interessado em descobrir mais sobre samba do que qualquer outro gênero musical. Isso tem muito a ver com a minha paixão pelo carnaval desenvolvida nos últimos cinco anos; e mais ainda com uma vontade gigante de conhecer mais a cultura urbana do Rio de Janiero. E nessa eu me encantei pelo partido alto.

Enquanto vejo uma crescente atenção ao novo hiphop e rap nacional pelos meus amigos; eu sigo fissurado em descobrir cada vez mais sobre a história do improviso no Partido Alto. Não é preconceito ou mania de passado: Rincon, Baco, Coruja BC1 e Emicida fizeram algumas das minhas musicas preferidas dos últimos dois anos. Agora, o Partido Alto traz rimas sagazes e ainda leva o astral lá pro alto. Às vezes o rap/hiphop é um pouco carregado demais; enquanto o partido alto é essencialmente feliz. É uma cerveja gelada num dia quente. Um compromisso fora de hora que se revela uma grata surpresa. Uma essência carioca do Brasil que deu certo.

E hoje eu vejo que faz todo sentido isso dividir o mesmo espaço que Jimi Hendrix. Eu queria que mais pessoas tivessem a oportunidade de ter uma graça tão grande quanto eu tive de descobrir os grandes caras do samba igual a essa que eu to experimentando agora. “Isolado do mundo” é brilhante; eu gosto mais de “Ouro desça do seu trono”; e fico emocionado com a simplicidade de “Peixeiro Granfino”. Tinham que emoldurar esse disco do Candeia na quadra da Portela.

Dito isso, ainda me acho completamente ignorante sobre samba. Comprei alguns discos e descobri novos antigos nomes, mas ainda é bem escassa a quantidade de informação. Não sei quem produziu o “Axé” do Candeia; e fico confuso para saber a quais discos devo recorrer para continuar a minha incursão no tema. Vou tentando… pra piorar, grande parte das obras está fora do serviço de streaming. Meu pedido de ouvinte abusado seria: faça um especial de samba. É carnaval! Só fui ouvir Monsueto porque um dia conheci no ronquinha.

Ainda não terminei de ouvir o último programa. Até amanhã isso deve ser resolvido. O programa em tributo a Mark E Smith foi fundamental e emocionante, boto fé numa outra edição (especial, como você queira chamar). E foi absolutamente surpreendente descobrir nesse último programa a relação dele com CSNZ… a música tá rodava o mundo muito antes da internet! Genial.

Vamos tomar um chopp e comemorar a vida qualquer dia desses.

Obrigado sempre,”
Túlio