Governador Valladares não posso dizer que era amigo de Nelson Ned porque simplesmente nunca o vi fora dos palcos. Certa vez no Night Club Parachoque, meca dos vozeirões que ficava em Cabo Frio UK, fui lá assistir a esse grande pequeno homem inaugurar seu microfone totalmente de ouro (FOTO), que eu contrabandeei e vendi para ele mediante parca comissão. Na época, eu estava amasiado com a secretária de cultura de um município fluminense e naquele show nossa relação estremeceu como Beth Caravlho quando leu que Luizinho e Carlito, o Marrom, ganharam 1 milhão e 100 para cantar no Reveillon do Rio e ela, Beth, 100 mil.
Minha amásia, intelectuala, não suportou ver meu choro compulsivo enquanto Ned, The litte voice, descascava os abacaxis no palco, acompanhado de uma orquestra invisível que, me disseram depois, era um tal de play back. Eu chorava e apanhava, apanhava e chorava (nessa ordem) pois minha amásia se dizia intelectual e segundo ela intelectual não se envolve com cultura baixa (sem trocadilhos) como era o caso de Ned, o Neil Diamond de Parada de Lucas, o Nick Cave de Vaz Lobo, herói de nossas inconfidências.
Nelson Ned surfou ondas gigantes (igual a seu colega de prancha Carlinhos Burle Marx), sem programas de calouros de alta tecnologia, como os de hoje, que em vez de jurados apresentam supostoc/técnicos/cantores.com.br que ficam lá rebolando nas ostras em rede nacional, num festival de egotrip que arranca vômitos nas pessoas, digamos, mais sensíveis como é o meu caso, o seu caso, o caso de Cauby, Marlene, Patti Smith. Minha nêga, digo, meu rei, estou triste. Olhei para a minha coleção de vinis de 78 rotações que arquivam a voz gigante desse anamita sensacional chamado Nelson Notta que, quis o destino, que não fôssemos amigos. Baldinha, minha esposa, ela, Balda Ferrare, não gostava de Ned porque prefere nerds como Anitta e outras barangas. Mas isso é problema dela e não meu, nem seu, nem dos leitores. Valeu Ned!!! Cantor das pequenas (sem trocadilho 2) multidões. Ummagumma Ferrare, soterrado em Iguaba, UK.