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diz pra gente, fred…

ronca.mic

É famosa a crônica de Clarice Lispector dedicada à morte do bandido Mineirinho. Escrita em 1962 para revista “Senhor”, ela narra o horror pelos treze tiros que a polícia disparou contra o malfeitor mais perseguido da cidade até então. Mais famosa ainda é uma de suas frases finais, referente à ultima bala que acerta o bandido: “O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro”. Há 43 anos, Clarice nos mostrava que, em uma ideia torta de justiça, quando morre um bandido, morre também um pedaço da sociedade. E o que dizer quando quem morre com balas na testa são crianças?

“Porque eu sou o outro”. Até onde conseguimos ter empatia por aquele que se tornou o bode expiatório da nossa falência comunitária? Esse movimento da escritora é fundamental para sabermos como lidar com o sentimento de derrota social que vivemos. A bala que atravessou Clarice e hoje atravessa crianças como Eduardo de Jesus talvez não atravesse a maioria de uma população que já repete de forma automática a lógica vingativa da justiça como um dispositivo de encarceramento e extermínio. Escrever que o outro à margem é também parte de todos nós pode suscitar mais ódio em leitores que viveram a dor da perda de um ente querido através de criminosos. Mesmo que uma adversativa nesse caso seja inaceitável para eles, é fundamental lembrar que a Justiça existe para que a vingança e o assassinato premeditado não sejam a regra social e nem uma política de Estado.

Colocar em xeque a atual ação da polícia no Complexo do Alemão e nas demais ações que tiveram por consequência a morte de crianças e inocentes não é atacar gratuitamente a política de segurança do governo (mesmo com equívocos claros), nem defender criminosos homicidas. É apenas dizer que não podemos associar automaticamente a vida de pessoas pobres (crianças e adultos) a um destino incerto por estarem próximos dos espaços em que a criminalidade viceja nas brechas de governos omissos com seus direitos básicos. Pois a questão que devasta os que “são o outro” é a constância cirúrgica do extermínio. Toneladas de papéis e tintas já foram gastas para falar das banalidades do mal, da morte, da arma ou do ódio em nossa sociedade e, mesmo assim, sabemos que a resposta à violência criminal por parte do Estado e de boa parte da sociedade será sempre mais violência.

Em números absurdos apresentados na segunda-feira em uma matéria deste jornal, 70 vidas de crianças e jovens foram ceifadas pela ação da Polícia Militar carioca apenas nos últimos quatro anos. Isso, levando em conta apenas dados oficiais. Sabemos que os dados oficiosos podem ser bem maiores. Criamos uma máquina de guerra implacável de extermínio do futuro. Uma máquina que atravessa todos os pontos da vida, naturalizando a desigualdade social e seus corolários assassinos. Jovens são mortos no ponto de ônibus, saindo da faculdade, por conta de mochilas ou celulares. Crianças são mortas em becos de favelas, apenas por estarem ali em meio a uma guerra que não é delas.

E nada vai mudar. Porque a maioria da sociedade acredita que proteger os seus é aumentar a força da violência, é afastar ainda mais os que não são parte da sua perspectiva de mundo. Essa naturalização da desigualdade social é o que há de mais perverso. Ela gera pena, desprezo e conformismo. É assim porque é assim. Morreu porque estava em um lugar perigoso. É pobre porque não estudou. Como se a vida em um país como o nosso fosse apenas fruto de escolhas racionais, e não de determinismos históricos. Sabemos que um jovem pobre e negro no Rio de Janeiro simplesmente já carrega, da certidão de nascimento até o seu obituário, a desconfiança de seu passado, a certeza dúbia do seu presente e, por consequência, o desprezo pelo seu futuro.

Eis aí o fato que se torna incontornável no atual debate sobre a Maioridade Penal. Você só pode pensar em encarcerar como um adulto o jovem menor e criminoso quando você olha para a sociedade com a lente obtusa do acontecimento. Diminuímos a idade prisional porque a exceção tem que virar regra. Prender um jovem em cadeias de adultos pode surgir como solução do problema ao aplacar a dor dos que perderam alguém e saciar um senso difuso de justiça contra tudo e todos. Mas não resolve a produção fordista de jovens aptos ao crime. Como não olhar para isso, por mais que se respeite a dor dos que são destruídos por esses crimes, e não ver que os verdadeiros criminosos somos nós, que os abandonamos à sorte de um mundo-moedor-de-carnes, em um país cuja lógica acumuladora só incita vontade de posse e de compra?

A bala que matou Eduardo de Jesus atravessa todos que pensam a vida como um direito. Se fosse viva, Clarice teria morrido não no último, mas no primeiro tiro que matou o menino do Alemão.

Fred Coelho

(o globo, hoje)

a bula do #122 & o briNde…

122

benjamin booker – “chippewa”

benjamin booker – “wicked water”

os brazões – “gotham city”

john mclaughlin – “marbles”

al green – “oh, pretty woman”

jonas sá – “8 bit”

bo diddley – “bite you”

valerie june – “wanna be on your mind”

andy fraser – “ain’t gonna worry”

andy.fraser.band

tom waits – “ol’ 55”

jerry harrison – “rev it up”

jerry harrison – “song of angels”

jerry1

jerry2

miraculous mule – “in my time of dying”

john renbourn – “shake shake mama”

john renbourn – “john donne song” (ao vivo)

toni platão – “i never cry” (inédita, estará no próximo disco de TP)

valerie june – “on my way”

cocteau twins – “shallow than halo”

e a terra nunca me pareceu tão distante – “todo corpo tem um pouco de prisão”

the grubby mitts – “to a friend’s house”

free_radio

weapon_tico

pra fechar a temporada ronquística de marcelo “caipirinha”,

nada melhor que um briNde com madame caipirinha registrado pela xeretinha…

caipirex

cheers

( :

#122, brasa total, hoje, às 22h, aqui mesmo…

122

o #122 chegará lotado de novidades, bolinho de isopor, lançamento mundial…

shogun arretado com sebastião salgado, caipirinha se despedindo +

al green, valerie june, cocteau twins, os brazões, benjamin booker, EATNMPTD,

jerry harrison, bo diddley, the grubby mitts, jonas sá… & o diabo A4.

basta mergulhar aqui no poleiro (roncaronca.com.br) e aguardar pela jaNelinha com o áudio, às 22h.

tranquilex!

aTRIPA…

Assunto: mano brown & adoniran
“mauvall,

estou indignado, como muitos, com a prisão de mano brown, ao que tudo indica, em condições completamente ilegais.
aécio neves foi parado, ao que tudo indica alcoolizado, com a carteira vencida, em blitz e liberado, há alguns anos, no leblon. mano brown é parado sem nada que o comprometesse a não ser a documentação vencida, e é quase espancado, na periferia de sp.
quinta passada testemunhei a PM fazer uma abordagem racista a dois rapazes negros que esperavam o ônibus no mesmo ponto em que eu estava. não faziam nada demais, a não ser serem negros. eram trabalhadores, e o teatro da “mão na cabeça” com arma apontada no meio da multidão fez com que eles perdessem a condução e chegassem atrasados no trabalho.
sei lá, mauvall, desculpe o desabafo nada a ver, mas isso tudo tá uma merda, estou muito puto, me sinto sufocado e esse país tá ficando sádico.
toca “abrigo de vagabundo” do adoniran no ronca, quando puder. e uma do racionais.
abração mooquense”
andré rosa (SP)
+
luiz mandou pra gente…
.
cel

negativos & positivos (173) [zampa,mosquito & marcel]…

esse negócio de meter a pá lá no fundo dos negativos & positivos traz “novidades” inoxidáveis.

numa dessas escavações, cruzei com duas das maiores lendas que tive o prazer de trocar de figurinhas ao longo de décadas… duas peças que deixaram muito cedo seus respectivos quadrados e que jamais tivemos como ocupar o buracaço da sodade… da ausência.

marcus zamponi foi um dos sujeitos mais engraçados que conheci.

correspondente da revista auto esporte, em londres, zampa será sempre lembrado como o maior colecionador de causos absurdos/cabriocáricos/psicodélicos…

zampa.tico

reparou a camiseta da peça? bun da mole!

olho essa fotoca e lembro de graham bond… a desorientação era a mesma.

recentemente, encontrei uma carta dele que poderia ser, tranquilmente, o roteiro de um longa.

no mesmo dia deste click, na mesma cadeira, foi registrada outra LENDA da minha vidinha…

mosquito.tico

PQParille…MOSQUITO, um dos maiores monumentos que já pisaram a crosta terrestre!

botafoguense sinistróide, mega fissuradaço em sons, sósia de phil lynott, alma gêmea de bowie.

well, well, well… além da cadeira, também aparecem nas duas imagens:

uma camistea listrada à direita, um calendário à esquerda e um poster acima dos dois, procede?

ele…

marcel.tico

quando entrei, pela primeira vez, na casa de zampa e bati o olho nesse artefato, xonei no ato.

revirei londres de cabeça pra baixo e nada de aparecer um outro, igual.

conclusão, arrancar da parede a masterpiece de marcel marceau… quer dizer, do zampa.

hahaha… foi preciso muuuuita saliva para que ele – sempre gentil, doce e amigo – doasse a obra.

mais de quarenta anos se passaram… e, até hoje, mergulhar em tudo o que esse poster representa

ilumina os meus dias, diariamente, todos os segundos, com todos os sons ecoando ao redor…

marcel

e quanto mais cacarecado Ele fica… mais lindo é.

zampa & mosquito forévis!

( :

zamponi & mosquito  /  londres  /  janeiro1974

bass, how low can you go?

andy

desde a subida de andy, 16março, que a sodade apertou loucamente.

queria ficar grudadinho nele, enroscado, fazer carinho… sentir o perfume.

só que ele estava, há mais de um ano, com o liminha… pra receber acertos… putz, mais de um ano.

a dor ficou insuportável… liguei, liguei, combinei, furou… e nada dele voltar pra casa.

até que ontem: “maurição, vem aqui pegar seu baixo”.

PQParille, manja aquele arrupio que parece uma navalha rasgando tudo?

em minutos, lá estava eu para apreciar uma das maiores demonstrações de amor à música que já testemunhei.

durante uma hora, a criança recebeu todos os cuidados possíveis (óleo, parafusos apertados, lixa,

creminho, polimento… carinho, paixão, dedicação, entrega) e um jogo de cordas zerado…

gibson1

bass.liminha

assim que ficou em condições de uso, fomos para um estúdio… onde ele foi espetado

num amplificador orange estalando de novo… mamãe, o SOM… o SOM… PQP, sim ele voltou.

liminha pirou e garantiu que, em breve, anexará um gibson EB3 à coleção…

jazz.bass

 para ratificar o pedigree do instrumento, colocamos o youtube com o free deitando os

cabelos em “mr. big”, ao vivo… e tive a sensação de ouvir dois andy frasers ao mesmo tempo…

o próprio e liminha tocando as mesmíssimas notas… com a mesma pegada… D+!

pra fechar a aula, a xeretinha registrou…

liminha.bass1

muita emoção!

cheers