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miltão [do goma] mandou pra gente…

Enquanto você está aí, no conforto do seu combo wifi+ar condicionado, estou aqui no Lollapalooza, em Interlagos.
Trouxe minhas filhas.
Devia chamar Longeapalloza.
Tudo aqui é longe.
Interlagos é longe. Os palcos são longe. A água, a comida, os banheiros são longe.
O que esperavam, afinal?
O lugar foi feito para se ir de um ponto ao outro num fórmula um.
Como podem exigir que eu vá caminhando?
O público se divide em 2 grandes grupos: meninas de shortezinho jeans e barbudos de gel no cabelo. Alguns barbudos também usam shortezinho.
Estou sentado na grama.
Sinto que a última vez que sentei na grama o continente ainda se chamava Pangeia.
Um garoto de uns 15 anos ameaçou me ajudar a sentar.
Humilhante.
Agora começou o show de uma banda cujo nome só tem consoantes.
Tentei pronunciar e minha filha achou que eu tinha engasgado.
Sou o único num raio de 30km que nunca ouviu falar deles.
Dele na verdade.
Fica o sujeito lá sozinho, pulando e fingindo que mexe nuns botões.
Se estivesse fazendo um risoto ninguém notaria a diferença.
Martela os graves e esfrega os agudos na minha orelha. As vozes eletrônicas.
Uma moça, aqui na minha frente, dança fora de controle.
Me escapa o que leva alguém a dançar assim.
Estou hipnotizado olhando para a moça dançando.
Perco a noção do tempo.
Então percebo que foi a maconha que bateu.
Não.
Claro que eu não fumei.
Em que ano vocês acham que eu vivo? 1974?
Mesmo sendo 2019 a brisa ardida e doce da maconha cobre o lugar desde as 3 da tarde.
Uma bruma alucinógena.
Demais essa música.
O telão psicodélico.
O cara pulando.
Ainda bem que sou imune aos efeitos da marijuana.
Agora estou dançando com o vendedor de cachorros-quentes.
A música alta, o laser, fumaça, o chão que vibra.
Amanhã acho que venho de shortinho de jeans.

(Mentor Neto)

renato, leon & alex…

Subject: A song for you e o macaquito
“Foste no alvo, hein? hã?!?!
AQUI

– Some people think that writing words just to fit a melodic idea makes those words meaningless, but I think the opposite is true. There’s a line in Leon Russell’s ‘A Song for You,’ one of the greatest songs of
all time: ‘If my words don’t come together / Just listen to the melody
for my love’s in there hiding.’ That makes a lot of sense to me.”

Renato

punk…

A ideia era tentadora: experimentar um celular de alta tecnologia que não tivesse Internet — e, portanto, nem redes sociais nem WhatsApp. Um celular como os de antigamente, daqueles que só fazem e recebem ligações. Do jeito que somos bombardeados por notificações, transformar-se em uma espécie de eremita 2.0, ainda que temporariamente, é um desafio que parece muito difícil recusar. A fabricante suíça Punkt trouxe em 2017 para o mercado essa ideia maluca de um celular que ajudasse as pessoas a se desconectar, e agora lançou sua segunda versão, MP 02, que por enquanto está com o aviso de “estoque esgotado” em sua loja online… mais AQUI

luiz mandou pra gente (ou ringo, o fotógrafo)…

Em 2013, Ringo lançou um livro de fotos que fez ao longo da vida. Uma delas, até então inédita, mostrava cinco jovens adolescentes em 1964. Ringo os fotografou de dentro da limousine onde estava com os Beatles.

A limousine e o Chevrolet Impala ficaram lado a lado sobre a Ponte George Washington, que liga New York a New Jersey. Ringo baixou o vidro, fez um clique.

Ao selecionar imagens para o livro Photograph, a foto ressurgiu entre os guardados de Ringo. E ele ficou pensando quem seriam eles? Estariam vivos? Pela reação em 1964 eram fãs. Então nas entrevistas de lançamento do livro ele fez um apelo público para que os cinco aparecessem.

O canal de TV, NBC (EUA) decidiu procurá-los e achou Bob Toth, Gary Van Deursen, Suzanne Rayot, Arlene Norbe e Charlie Schwartz. Vivos e bem.

Claro que eram fãs dos Beatles, e continuam até hoje. Em 2013 a idade deles estava entre 66 e 68 anos. Contaram que tinham fugido da escola e enganaram os pais com o plano de ver o show de estreia dos Beatles nos EUA.

Gary Van Deursen, que dirigia o carro, não sacou que uma foto tinha sido feita, mas Suzanne Rayot percebeu e ficou encantada. Ringo apenas disse: “Oi amor, e fez a foto e eu não pensava em nada só que ele estava se dirigindo a mim”.

Além de ouvir o relato dos cinco, a NBC propôs a eles a recriação da famosa foto de 1964.

aTRIPA, o barão & a bicharada…

Assunto: URBANISMO

“Olha aí Maurício!
Você e o Nandão falaram sobre urbanismo no roNca da semana passada. Só por curiosidade, leia esta crônica do Carlos Drummond de Andrade sobre um parente longínquo dele. Um urbanista que saiu daqui da Itabira do Matto-Dentro pra mudar a cara do Rio de Janeiro na segunda metade do século 19.

“O ANIVERSÁRIO DO BARÃO

Carlos Drummond de Andrade
(Jornal do Brasil – 01/05/1975)

Na íngreme Rua de Santana de Itabira, onde nasceu em 1º de maio de 1825, o garoto João Batista, filho de Maria do Carmo, ficou sendo, para toda a gente, o Batistinha. Mas o diminutivo não lhe conviria no correr do tempo e, ao morrer no Rio de Janeiro em 7 de agosto de 1897, era Barão.
Entre uma data e outra, João Batista fez coisas, muitas e determinantes de outras coisas, que influíram na vida de uma cidade, o Rio, e até na do país. Não foi à toa que se ligou ao dinâmico Mauá, em empreendimento como a estrada de ferro hoje chamada Central do Brasil. Seu espírito ávido de criação afastou-o cedo do pequeno meio paroquial, levando-o à capital do império. Na Corte, João Batista sentiu-se à vontade para planejar, fazer e acontecer.
Fez um bairro inteiro, onde havia o matagal da Fazenda do Macaco e hoje se refugiam os últimos traços do espírito genuinamente carioca: Vila Isabel. Abriu nele uma larga avenida, antecipadora das modernas vias de circulação urbana. E para que a vida nesse bairro não fosse uma sucessão escura de bocejos, presenteou-o com um parque de 800 mil metros quadrados, onde plantas e animais nativos e exóticos poderiam ser apreciados e se fariam estudos de zoologia e zootécnica.
Era uma novidade completa. Lotear terrenos pede visão comercial, instinto de lucro, mas João Batista queria combinar o lucro e senso urbanístico, o gosto da natureza e do lazer, como fórmulas de uma comunidade saudável. Não foi compreendido inteiramente. À certa altura, o jardim zoológico dava prejuízo. Teve de requerer à ilustríssima Câmara Municipal (por que as câmaras não são mais ilustríssimas? é uma pena) licença para estabelecer lá dentro jogos públicos sob fiscalização policial, a fim de honrar as despesas com manutenção e desenvolvimento da iniciativa, pioneira no Brasil.
Nasceu aí o Jogo do Bicho, instituição nacional, trazida por um mexicano, um tal Zevada, a princípio um mero atrativo para a freqüência do Zôo. Mas a coisa era tão bem bolada que acabou se espalhando fora dos portões do estabelecimento, e hoje cobre o país inteiro. João Batista não tem culpa nisso. Talvez seja mais correto dizer: não tem glória nisso. Pois enfim, o Jogo do Bicho, rotulado de contravenção penal, é tão querido do povo e tão radicado como hábito brasileiro, que o Governo se apresta para oficializá-lo, sob o título de Zooteca. (Tirando-lhe possivelmente o encanto do jogo espontâneo, livre, baseado na confiança que inspirem banqueiros e bicheiros).
Todos os biógrafos de João Batista fazem questão de lembrar que ele não foi absolutamente banqueiro de bicho nem inventor desse jogo imaginoso. Certíssimo. Mas se fosse o inventor, que mal haveria nisso? A inteligência criadora não precisa arrepender-se de uma concepção que dá alegria e esperança a muita gente, e que não é responsável pelos crimes derivados de sua prática. Vamos amaldiçoar o vinho, vamos proibir a uva porque muitos bêbados se arruínam e às suas famílias? Crimes e erros cometem-se à margem ou à sombra de quaisquer instituições, respeitáveis ou anódinas, e não bastam para condená-las; elas devem ser julgadas em si. O jogo inocente, que conquistou a simpatia de toda uma população, merece pelo menos indulgência, em vez de ser julgado por um moralismo hipócrita, cujas defesas se associam veladamente à sua exploração.
Mas deixemos de lado os bichos do Barão, hoje espalhados sobre todo o território pátrio. João Batista foi também partidário da Abolição, e deu o exemplo em casa, alforriando os seus escravos. Em política era liberal, pertencendo ao clã mineiro dos “Luzias”, isto é, ligado aos revolucionários de 1842, vencido mas não convencidos. Foi precursor de urbanismo, tendo como braço direito Bittencourt da Silva, projetista de sua Avenida 28 de Setembro. Co-proprietário dos JORNAL DO BRASIL. Empresário teatral, apresentou aos fluminenses a trágica Adelaide Ristori e o violinista Sarazte. Deu ao Rio de Janeiro uma linha de bondes. Um ano antes de extinguir-se a Monarquia, esta conferiu-lhe o título de Barão de Drummond.
Desculpem-me a modéstia de lembrar que hoje o meu primo-longe João Batista Viana Drummond, fundador da Vila Isabel de Noel Rosa e Marquês de Rebelo, está completando, lá do sem-fim, 150 anos de nascimento. Ter um primo barão cutuca a vaidade de clã. Os velhinhos da Rua de Santana, se fossem eternos, a esta hora estariam exclamando, embevecidos:
Sim senhor, o Batistinha, hem? como subiu!”