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the clash, chelsea & arsenal (ou fernando mandou pra gente)…

london

Assunto: O que Chelsea, Arsenal, futebol e o The Clash têm em comum?
Futebol e música. O que os dois têm em comum?

No caso de Chelsea, Arsenal e a banda inglesa The Clash, muito.

Descubra abaixo a ligação entre futebol e o álbum London Calling.
Agradecimentos ao pequisador e tradutor Vitor Santi, que viabilizou a publicação em português, e ao autor, Chris Salewicz, que revelou a divertida conexão

Como o futebol moldou o maior álbum do The Clash

Em 1979, a banda punk The Clash escreveu e gravou London Calling, um álbum duplo que foi a sua melhor confirmação artística. Lançado nos Estados Unidos apenas em janeiro de 1980, seria aclamado pela revista “Rolling Stone” como o “álbum da década.”

Quando eles começaram a traballhar em sua obra-prima, o Clash estava em baixa. Tendo demitido seu empresário original, Bernie Rhodes, e seu sucessor temporário, a banda não tinha em quem se apoiar a não ser neles mesmos. E foi o futebol, assim como suas incríveis habilidades de composição, que os colocaram no espírito necessário para escrever e gravar o disco.

Se preparando para escrever London Calling, os integrantes do Clash jogaram longas partidas de futebol todas as tardes no centro de recreação em frente ao Vanilla, o estúdio onde ensaiavam em Plimico, no centro de Londres. “Eu simplesmente acho que nos encontramos naquela época, e teve muito a ver com o futebol”, diz um dos membros fundadores e guitarrista do Clash, Mick Jones. “Porque nos fez jogar juntos como um só.”

“Jogávamos muito futebol até nossas pernas não conseguirem dar um único chute,” Joe Strummer me disse no ano seguinte. “E então nós começávamos a tocar e escrever as músicas. Era o nosso jeito de esquentar.”

Todo dia perto das 16h, crianças do bairro que tinham acabado de sair da escola batiam na porta do Vanilla: “Vocês podem vir jogar?”

“Eram garotos típicos da classe trabalhadora de Londres, entre 9 e 13 anos, das moradias sociais locais,” diz Andrew Leslie, que gerenciava o estúdio.

“Esses garotos viam o Clash jogando uns contra os outros e se juntavam a partida, e isso se tornou corriqueiro. Eu acredito que eles desconfiavam que o Clash era uma banda – e eles poderiam se gabar disso na escola. Era uma boa hora para a banda dar uma pausa: Eles começariam a trabalhar às 13h. Jogavam dois em um time e dois em outro, junto com as crianças.”

“Topper em especial era o que mais gostava de jogar, provavelmente o melhor jogador,” afirma Leslie sobre o baterista baixinho, Topper Headon, que sempre estava em forma por emular as habilidades do Karatê de seu ídolo Bruce Lee.

Jones era espalhafatoso, lembra o empresário de turnê Johnny Green, mas suas habilidades não batiam com a sua gana e ambição; Strummer era incessantemente determinado, mas faltava habilidade com a bola; e o baixista Paul Simonon era infinitamente empolgado.

Antes de descobrir o Rock’n’Roll, Jones era imerso na cultura do futebol. Com uma idade igual a dos meninos que batiam na porta do Vanilla, ele se juntava a outros fãs pré-adolescentes todo sábado de manhã nas fileiras de hotéis nos arredores da Russell Square em Londres; times visitantes ficavam ali antes das partidas contra os times da casa.

Com os autógrafos dos jogadores garantidos, Jones atravessava a cidade para ir a um jogo, no campo do Chelsea ou do Queens Park Rangers. “Você podia pular a cerca da linha do trem do estádio do Chelsea. Uma vez, eu fiquei preso, prendendo minha perna no arame farpado e quase fui pego. Primeiro eu era um caçador de autógrafos de jogadores. Depois, eu passei desta fase e o rock’n’roll estava na minha frente – me tornei um grande fã de música e queria estar em uma banda,” ele disse.

“Porém, colecionar autógrafos de jogadores me deu uma boa lição. Porque alguns dos jogadores eram realmente poderosos e famosos – eu não quero dizer seus nomes, mas eu poderia. Como eles tratam você foi um grande aprendizado de como não tratar os outros quando se está em uma posição de celebridade.”

De fato, o generoso tratamento com os fãs que o Clash dava virou parte de sua lenda. E o amor de Jones pela música e o futebol – compartilhado por outros membros do Clash, Strummer em especial – personifica como o futebol e o rock’n’roll eram as válvulas de escape tradicionais para jovens atingidos pelo tédio e a morosidade da vida cotidiana no Reino Unido naquela época.

Durante a fase de composição de London Calling, Strummer vivia com sua namorada Gaby Salter e sua mãe em um terreno perto de Stamford Bridge, campo do Chelsea; o terreno ficava atrás do Tâmisa: a letra de “London Calling” confirma, “I live by the river.” Quando os Blues jogavam em casa, ele ia ver as partidas nos sábados a tarde.

Iam juntos, o acompanhando, Josie Ohendjan, de 12 anos, que mais tarde se tornou a babá das duas filhas de Strummer; o irmão de 16 anos de Gaby, Nicky; um colega de classe de Nicky, Black John; e Crispin Chetwynd, um amigo da família. Todos se encontravam na casa da mãe de Gaby, fumavam um baseado e – com um saco de batatas fritas comprados no caminho – andavam 10 minutos até o estádio. Lá, pagando duas libras, eles sentavam na arquibancada da torcida organizada.

Strummer era um fã do Chelsea: ele leu tudo o que podia sobre o time. No entanto, eram dias sombrios para o time de West London, que estava na segunda divisão. De acordo com Ohendjan, entretanto, Strummer “adorava o tribalismo daquilo, o movimento daquilo, pessoas se unindo sob as cores do time. Joe vivia perto e era um fã, e gostava de fato do aspecto de ser um torcedor.”

O que Strummer não ligava era para “a agressão e o racismo.” Isso foi antes de duas temporadas onde Paul Canoville se tornou o primeiro jogador negro do Chelsea, frequentemente recebido por sua própria torcida com bananas jogadas no campo e cantos “Não queremos o negro.” Torcedores mais extremos do Chelsea eram famosos por serem da Frente Nacional, uma facção de extrema direita: jogadores negros dos times visitantes recebiam o mesmo tratamento em Stamford Bridge.

A identidade visual do homem que escreveu “(White Man) In Hammersmith Palais” não causava nenhum problema a Strummer durante os jogos. “Em Stamford Bridge, Joe era reconhecido,” disse Ohendjan. “Nós éramos punks e ficávamos juntos dos skinheads, mas ele não era incomodado.” Paul Cook, baterista do Sex Pistols, também ia regularmente à Stamford Bridge, assim como Suggs McPhearson e Chas Smash do Madness – todos os três, inclusive, ainda vão aos jogos no estádio do Chelsea.

Porém, depois de um jogo contra o West Ham, em setembro de 1980, Strummer e o seu pessoal foram perseguidos por torcedores dos Hammers, que brandiam navalhas e canivetes. “Nós corremos para longe da casa onde Joe vivia,” lembra Ohendjan. “Foi assustador. Todos nós, incluindo Joe, decidimos parar um pouco de ir aos jogos depois disso.”

Outro time de Londres, entretanto, se provaria uma inspiração para London Calling. O material composto no Vanilla foi gravado no Wessex Studios em Highbury, norte de Londres, em Agosto e Setembro de 1979. O bairro de Highbury era a casa do Arsenal, e o produtor do disco, Guy Stevens, lendário excêntrico da indústria musical da Inglaterra, era um torcedor obcecado pelo time.

Ao descobrir que alguns funcionários do Arsenal eram fãs do Clash e, conspirando com eles, Stevens estabeleceu um ritual diário, onde sentiu que acrescentaria algum tipo de mágica que ele estava tentando injetar no disco. O táxi encarregado de levá-lo toda manhã para o estúdio fazia um pequeno desvio, parando no campo do Arsenal. Lá, Stevens saía do veículo bem rapidamente e se dirigia ao círculo central de Highbury, onde ele se ajoelhava e fazia uma homenagem mental ao meio campo do Arsenal, Liam Brady. Só então ia para o estúdio.

Depois de London Calling ser lançado nas lojas, Strummer retornou às arquibancadas do Chelsea para assistir a um jogo. Deixando Stamford Bridge naquela tarde de sábado, ele deu uma olhadela em uma loja de discos, onde descobriu algo mais perturbador que torcedores skinheads do West Ham armados com facas e canivetes. Para o seu horror, ele viu que uma cópia do álbum recém lançado de London Calling estava sendo vendida por £7.99 – O Clash havia decretado que o álbum não poderia ser vendido por mais de £5, o preço de um álbum simples.

Furioso, Strummer repreendeu o gerente da loja até que o preço fosse reduzido para o certo. Então, ele se juntou à massa de torcedores deixando Stamford Bridge.

vale a pena ler de novo (ou john peel 10 anos depois)…

peel

BBC radio DJ John Peel: Ten years after his death, no one compares to his talent

Peel’s combination of constant curiosity, authoritative perspective and endearing quirks is sorely missed

pierre perroneindependent

John Peel, who died a decade ago next month, shaped the tastes of several generations of music aficionados.

He introduced the hippies who listened to The Perfumed Garden, his programme broadcast between midnight and two am throughout the Summer of Love by the pirate station Radio London, to the psychedelic sounds of Love, Jefferson Airplane, the Grateful Dead and the other acts he had seen emerging while DJ-ing in California.

Those listeners followed him to Radio 1 in the autumn of 1967, where he co-presented Top Gear, and over the next couple of years championed Pink Floyd, David Bowie and Led Zeppelin, three of the most influential British acts of all time. By the early 1970s, Peel, along with his producers Bernie Andrews and John Walters, were recording and broadcasting sessions by Roxy Music, Queen and The Wailers, simultaneously managing to placate the Musicians’ Union by giving its members extra work and creating a valuable archive for future generations to delve into – give or take the odd wiped tape.

But the real sea-change came in the spring of 1976 when the presenter acquired an import copy of The Ramones’ eponymous debut album and helped to accelerate the punk revolution. Within a few months, the programme booked The Damned for their first session, although, to his eternal chagrin, the former schoolteacher in Walters did not trust the Sex Pistols enough to welcome them into the BBC’s Maida Vale studios.

Still, Peel gave the Pistols’ single “Anarchy In The UK” and theirNever Mind the Bollocks album plenty of airplay as traditional listeners deserted him and a younger generation discovered his 10pm to midnight show. The Clash abandoned a session over technical issues but, otherwise, the Peel sessions and playlists from 1977 onwards read like a who’s who of UK punk and post-punk, with The Stranglers, The Jam and Buzzcocks as well as Siouxsie and the Banshees, The Cure and Joy Division featuring heavily.

Indeed, as once-alternative acts like Gary Numan, Adam and the Ants and Human League stormed the charts, the broadcaster did worry. “The late 1970s was the only time the programme was fashionable,” he said. “I really didn’t like the experience. I felt rather as I imagine bands must feel when they become fashionable, that the audience expect certain things of them which they might not necessarily want to go on doing.”

Peel had been there before, as Marc Bolan, Elton John and Rod Stewart had gone stratospheric and forgotten him and the role he had played in their 1970s breakthroughs, and kept a distance from his favourites The Fall and the Undertones, along with New Order and The Smiths, the two bands who did so much to define the alternative, DIY, indie ethos of the 1980s.

Peel already played dub reggae, world music and hip-hop, and would go on to champion techno, drum’n’bass and The White Stripes, but always insisted: “I don’t pursue particular movements. The punk thing dominated as it did only because there wasn’t anything else interesting at the time, or at least that interested me,” he reflected in the Peeling Back The Years series broadcast on Radio 1 in 1987. “But after the first careless rapture of that had diminished, I went back to the way I’d been before, looking around at various areas of music and trying to find what I regarded as the best in those different areas – rock, folk, reggae.”

It was this enthusiasm, combined with his wide-ranging knowledge of most genres, and a deadpan delivery that matched his dry sense of humour, that made Peel such a compelling listen throughout the decades. That’s why teenagers tuned in under the covers, taped programmes, sent in demos. Pulp, The Wedding Present and Mogwai didn’t set out to conquer the charts or redefine the parameters of rock music but simply wanted to record a Peel session.

Peel’s death on 25 October 2004, while on holiday in Peru, robbed Britain and the world of its most influential music broadcaster – though it may also have saved him from the kind of retrospective scrutiny that has led former colleagues into the law courts. Radio 1 cleared its schedule for a day of tributes but never really tried to replace him as the station attempted to move towards a younger demographic. The BBC had launched 6 Musicin 2002 and claimed that the digital station embraced the Peel ethos, while 1Xtra, also launched that year, specialised in urban music.

Yet, despite the breadth of music played on these stations, along with Radio 2 and specialist shows on BBC local radio, not to mention the array of offerings from the commercial sector in Britain and internet-based stations around the world, Peel’s combination of constant curiosity, authoritative perspective and endearing quirks is sorely missed. Where else are you going to hear the Scots poet Ivor Cutler, the two singles by lost 1979 Dorset power pop group Tours, or early 1980s pop sensation Sheena Easton?

Sure, 6 Music fulfils a similar function, its programmes available 24/7 as well as via the iPlayer service. It makes comprehensive use of the Peel sessions and other BBC archive material, inaugurated the John Peel Lecture in 2011 and features many presenters who grew up listening to him, literally in the case of his son, Tom Ravenscroft, or of Lauren Laverne and Marc Riley, who have both made the transition from Peel-approved bands to presenting their own shows. Riley’s off-the-wall sense of humour, while coarser than Peel’s dry wit, makes him a natural heir to the Peel throne, though the more cultured and catholic approach favoured by Gideon Coe works well in the 9pm to midnight slot.

In an average week, 6 Music reaches nearly two million listeners, yet none of its programmes pack the same impact as Peel’s used to. Huey Morgan and Craig Charles currently straddle the 6 Music and Radio 2 schedules, and do a fine, funky job, yet are also symptomatic of the way the BBC has embraced celebrity – or cult status – when looking for presenting talent. Annie Nightingale, now Radio 1’s longest-serving broadcaster, where she is still playing “the biggest bass bangers”, has made tentative forays into Radio 2 with her Eternal Jukebox that could be developed into a weekly rather than a bank-holiday occasion.

Listeners of various vintages may also point out that Andy Kershaw, who last broadcast on Radio 1 in 2000, before moving to Radio 3, could have picked up the Peel baton but for the unravelling of his private life in 2007. Mark Lamarr’s God’s Juke-Box, a weekly three-hour overnight show which ran on Radio 2 from April 2006 to December 2010, is arguably the closest any of the national – rather than digital – stations have come to matching the Peel magic.

campanha pró cerginho & craque daniel…

falha

miltão [do goma] acabou de ligar – são 21:10 – totalmente desesperado:

– porra, maurição… tá vendo o jogo do chile?

eu:

– chile? não, tô por foraço. qual é o lance?

– é a estréia do chile nas eliminatórias pra copa2018

– ah, é? bacana… é contra o uruguai?

– não, porra… é com os canarinhos

– êita… vou continuar por aqui ouvindo o it’s a beautiful day

– melhor mesmo porque não dá pra aturar essas dragas que transmitem na TV

– é mesmo, miltão?

– porra, vamos fazer um “crowdfrango” pro cerginho e o craque daniel entrarem no lugar do prego gavião bueno… ou então, no lugar da super malaça luiz carlos jr… os dois são inaturáveis e só eles transmitem a porra do jogo da roja

– caramba, miltão… que idéia espetacular. vamos abrir um “crowdfrango” no catarse e trazer cerginho & craque daniel para narrar e comentar essas peladas

o cantor das multidões…

orlandosilva

Em seu centenário, Orlando Silva é pouco celebrado

Artista seduziu multidões e inspirou súditos, mas teve carreira encurtada pelas drogas

gerson mandou pra gente…

eno

Brian Eno calls for rethink about meaning and value of culture

(the guardian)

Delivering BBC’s John Peel lecture, musician says role of culture goes beyond economic value, keeping us ‘in sync’ with a fast-changing world

The musician and producer Brian Eno has called for a rethink of culture due to “complete confusion” around the subject.

The former Roxy Music star said arts and culture were worth pursuing for reasons that were not just economic and should play a central role in people’s lives in a world of rapid change.

Delivering the annual BBC Music John Peel lecture, Eno said art and culture offered “a safe place for you to have quite extreme and rather dangerous feelings”. He said the reason people embraced it was because they knew they could “switch if off”, so art had a role as a “simulator” in people’s lives.

Eno said: “I think we need to rethink how we talk about culture, rethink what we think it does for us, and what it actually is. We have a complete confusion about that. It’s very interesting.”

He said that if 20 scientists were asked what they thought science did, they would mostly agree, but if 20 artists were asked what they believed art did, there would be about 15 different answers. Giving one definition, he said: “Art is everything that you don’t have to do.”

Eno said it fell outside the activities people had to do to stay alive, such as eating, and he referred to people choosing specific hairstyles as an example.

Best known as a pioneer of ambient music, he said: “We live in a culture that is changing so incredibly quickly.” He said a month in the present day saw about the same amount of change as the whole of the 14th century.

Due to nobody being an expert on everything, Eno said, we needed ways of “keeping in sync, of remaining coherent”, adding: “And I think that this is what culture is doing for us.” He said he saw culture as a “set of collective rituals” that everyone was engaged with.

Eno said he had heard the education secretary, Nicky Morgan, claim it was a good idea for students not to go into arts and humanities because they did not offer job prospects as good as the “Stem” subjects.

He said: “Now this word Stem is quite interesting. It stands for science, technology, engineering and mathematics – all things that I am very sympathetic to and interested in. But there’s an idea around that those are actually the important things, even the acronym gives it away – the idea of stem, the thing that’s at the centre, which everything else grows off from.

“So the idea is that those things are important. They’re part of the economic mill, and they’re part of what makes Britain great and increases our GNP and what have you.

“And the arts, on the other hand, are sort of nice; they’re a bit of a luxury actually, something you might do when you’re relaxing after you come home from a hard day’s work at a proper job.

“So I thought that attitude was part of what this comes from – this new idea of the arts as a kind of economic entity.”

He added that he should not “crucify” Morgan for this, describing her comment as “off the cuff”.

The speech, given at the British Library on Sunday night, kicked off the Radio Festival which will run at the central London venue until Tuesday.

peel forévis…

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Good Night and Good Riddance: How 35 Years of John Peel Helped to Shape Modern Life

coincidentemente, ontem, chegaram duas mensagens sobre john peel

Assunto: John Peel Lecture
“Caro Mauricio
Sintonizei ontem na BBC 6 por acaso por volta das 16h e por sorte dei de ouvidos na John Peel Lecture, transmitida da London Library.
Sensacional. O convidado era Brian Eno. Acho que é uma transmissão anual.
Foi até matéria do The Guardian hoje.
Tanta coisa inteligente e interessante que só ouvindo cara.
Ele até falou sobre música.
2h após as quais me senti mais inteligente e orgulhoso de haver ainda artistas que pensam e se expressam como Eno.
Deve ter o Podcast no site da rádio.
Fica a sugestão.
Abraço”
Gerson
e do coletivo rodrigo-raul-camilo recomendando ESTA matéria do jornal the guardian. o fato é que john peel, quase onze anos depois de sua subida, segue impregnando corações-almas & tímpanos de quem é dependente de Música… simples assim.
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o mesmo desde 1500…

brasil.500

FRED COELHO
O COLUNISTA ESCREVE ÀS QUARTAS no globo.com

O mesmo é um vácuo

Nada mudou porque não aprendemos nada

Costumo dizer por aí que a única surpresa garantida dos dias de hoje é o shuffle da sua lista de músicas. De resto, nos assola a sensação de que as tragédias atuais são a colheita do sempre. Escrevo esta coluna há alguns meses, e o tema da cidade como espaço falido por mortes e crimes retorna não como um recalcado, mas como a evidência escancarada de uma sangria aberta há décadas e nunca curada. Seja nos ônibus em Copacabana, seja nas ruas da Maré, nos insurgimos pontualmente contra o nosso eterno extermínio particular. Parece que esquecemos para nos aliviar daquilo que não tem remédio nem nunca terá. Esquecer não para mudar, mas para continuar o mesmo.

Em que momento perdemos o senso de tudo que nos conecta em uma cidade? Quando deixamos de ser a “cidade porosa”, para usar o título do excelente (e tomara que logo traduzido) livro do pesquisador Bruno Carvalho sobre a Cidade Nova e sua diversidade cultural? Quando nos separamos em lados que não somam, quando deixamos um fosso ser criado “naturalmente” por cada um de nós? O arquivo das coisas não nos dá o luxo de esquecermos, de portarmos a “ignorância ensandecida”, de acharmos que o OUTRO sempre é o culpado. Isso já virou uma espécie de doença social, em todos nós, sem limites de classe, de cor, de bairros, de idade. Está lá, escancarado nos textos desde o século XIX, que essa mesma sociedade criou as condições para a inequidade, o crime, as mortes gratuitas e anônimas dos que menos têm, o ódio dos que menos têm pelos que mais têm (e vice-versa), a urbanização da desigualdade. Nada mais nos colará em um desejo comum de vida urbana se não soubermos o absurdo que nos fundou, seja cobiça, luxúria, tristeza, seja casa grande e senzala, seja o céu, o sol e o mar, seja tiro, porrada e bomba. Não há a menor possibilidade de transferirmos para quem quer que seja nossa cota histórica. Não há mais possibilidade da imprensa simplesmente “dar notícias” na busca de um público que tem medo porque medo vende bem. Somos representados como bichos em tocas, acuados por dentro (nossas paranoias pessoais) e com pânico do lá fora (nossas paranoias sociais).

Abra o arquivo, ele hoje é digital, está aí na sua frente, dê uns cliques, aperte os cintos e bem vindo ao reino da memória: em 19 de outubro de 1992, após os primeiros eventos que foram batizados de “arrastões”, eis algumas manchetes dos principais jornais do Rio: “Arrastões levam pavor às praias” (“O Dia”), “Arrastões invadem a orla da Zona Sul (“Jornal do Brasil”), “Arrastões aterrorizam as praias da Zona Sul” (“O Globo”). No dia seguinte, seguiram manchetes ainda parecidas com as de hoje: “Zona Sul vai reagir aos arrastões” (“O Fluminense”) ou “Zona Sul declara guerra ao arrastão” (“O Dia”). Nesse mesmo dia, o “Jornal do Brasil” publica, por fim, a notícia que nos arremessa no abismo de um tempo imóvel e patético: “Moradores culpam as linhas [de ônibus]”. Sim, as mesmas linhas, a mesma massa juvenil sob olhares de condenação por parte dos moradores, nenhuma solução para o transporte público de massa além de ônibus lotados. Aliás, há sim uma solução que muitos esperam há 23 anos: não circular mais na Zona Sul nenhum ônibus vindo da Zona Norte. Muros, grades, câmeras, duras, constrangimentos, violência generalizada. Nada mudou porque não aprendemos nada. O que adiantaram as manchetes? No que colaboraram com o imaginário já classista e divisor do carioca? Pois estamos aqui, no mesmo lugar.

Imaginemos: o rapaz preto e pobre nascido na data dos primeiros arrastões (23 anos atrás) pode viver com a cidade os mesmos erros e permanecer personagem das mesmas manchetes. Décadas em que as crises são as mesmas, as reações violentas são as mesmas, as respostas dos governos são as mesmas, o descaso com a juventude é o mesmo, as falas públicas são as mesmas (agora, porém, amplificadas pelas redes sociais). Porque permanecemos os mesmos, de todos os lados — dos que agridem e dos que são agredidos, dos que roubam e dos que são roubados, dos que são presos pela cor da pele e dos que são vítimas por andarem pelas ruas de seu bairro. Intolerância que acumula violência, que alimenta paranoia que gera intolerância e por aí segue o curso obtuso das coisas.

Textos como este parecem às vezes ecoarem no nada, porque a primeira reação do leitor que não lê é condenar qualquer voz que pede um pouco de sanidade — aqui, no caso, simplesmente prestar atenção ao fato de que para os mesmos problemas temos, há décadas, as mesmas respostas erradas. Não se trata de “apoiar bandidos”, muito menos de proteger quem deva ser culpado pelos seus atos perante uma justiça com igualdade de direitos (para todos, e não de forma seletiva). Trata-se simplesmente de gritar mais uma vez o óbvio: uma cidade é feita por quem a habita, em todas as suas áreas. Não por quem a idealiza em um vácuo cujo peso da história vergonhosa entre nós já deveria ter expandido seu vazio para novas formas de vida.

mudando a prosa (ou o feitiço contra o feiticeiro)…

guardo na minha caixinha de ótimas lembranças dois jornalistas com quem tive encontros muito rápidos mas, totalmente, inoxidáveis: tite de lemos (1942-1989) e josé castello.

já falei e escrevi sobre o tempo em que tite foi editor do segundo caderno do globo e publicou minha resenha sobre os shows do zeppelin, em 1975… e que só fui conhecê-lo anos mais tarde. já castello, em 1988, me procurou por uma razão que não lembro mas, ao ver a série de fotos que eu havia feito com os fotógrafos, mudou o rumo da pauta e publicou o material na primeira página do caderno B (jornal do brasil).

josé castello foi defenestrado do jornal o globo e publicou, na quarta feira, o mais contundente / cristalino / desesperançoso texto de despedida que conheço…

Hora da despedida

POR JOSÉ CASTELLO

Chegou a hora de me despedir de meus leitores. Não é um momento fácil _ nunca é. Mas ele se agrava porque, com o fechamento do “Prosa”, incorporado ao “Segundo Caderno”, desaparece um último posto de resistência na imprensa do sudeste brasileiro. Os suplementos de literatura e pensamento já não existem mais. Um a um, foram condenados e derrotados pela cegueira e pela insensatez dos novos tempos. Comandado pela vigorosa Manya Millen, o “Prosa” resistia como um último lugar de luta contra a repetição e a dificuldade de pensar com independência. Isso, agora, também acabou.

Nosso mundo se define pelo achatamento e pela degola. No lugar do diálogo, predominam o ódio e o desejo de destruição. No lugar da tolerância, a intolerância e a rispidez, quando não a agressão gratuita. É o mundo do Um _ em que todos dizem as mesmas coisas, usando quase sempre as mesmas palavras. Um mundo em que a verdade, que todos ostentam, de fato agoniza. Nesse universo, a literatura se impõe como um reduto de resistência. A literatura é o lugar do diálogo, do múltiplo, da diferença. Não é porque gosto de Clarice que devo odiar Rosa. Não é porque amo Pessoa que devo desprezar Drummond. Ao contrário: na literatura (na arte) há lugar para todos.

Uma pena que o “Prosa” se acabe justamente em um momento em que nos sentimos espremidos por vozes que repetem, sempre, os mesmos ataques e as mesmas agressões. Nesse mundo de consensos nefastos e de clichês que encobertam a arrogância, nesse mundo de doloroso silêncio que se apresenta como gritaria, a literatura se torna um lugar cada vez mais precioso. Nela ainda é possível divergir. Nela ainda é possível trocar ideias com lealdade e dialogar com franqueza. Sabendo que o diálogo, em vez de sinal de fraqueza, é prova de força. Lá se vai o “Prosa” com tudo o que ele significou de luta e de aposta na criação.

A meus leitores, que me acompanharam lealmente durante mais de oito anos, só posso dizer obrigado. E dizer, ainda, que conservem a coragem porque a pluralidade e a liberdade vencerão o escândalo e a cegueira. Apesar de tudo o que se diz e de tudo o que se destrói, ainda acredito muito no Brasil. É com essa aposta não apenas no futuro, mas sobretudo no presente, que quero me despedir de minha coluna e encerrar esse blog. Aos leitores, fica a certeza de que certamente nos encontraremos em outros lugares. Nem a loucura do nazismo, com suas fogueiras de livros, conseguiu destruir a literatura. Não tenho dúvidas também: nesse mundo de estupidez e insolência, ela não só sobreviverá, como se tornará cada vez mais forte.

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new order (ou globinho)…

a recessão brazuka – somada à crise globalizada (plim plim) – está chegando ao pico da devastação… comércio, indústria e serviços agonizam frente à incerteza… e, agora, mais um degrau da calamidade atingiu o nosso já combalido jornalismo. o ex-poderoso jornal o globo funciona, na últimas horas, como uma inclemente máquina de moer carne. dezenas de profissionais – de todas as áreas – estão sendo colocados no olho da irineu marinho.

a internet que demoliu lojas de discos, rádios, revistas e jornais vem sendo apontada como a grande bandida nesse lacrimejante capítulo (acho que tem mais “bandido” aí). ôxente, logo ela que – até recentemente – era identificada como a mais generosa aliada na propagação da informação? o fato é que o jornal perdeu $$$ do governo / $$$ dos anunciantes / $$$ dos assinantes… e viu descer pelo ralo o mais certo, limpo e histórico $$$ – os cla$$ificados.

lembra como eram, até ontem, as edições do globo de sábado e domingo? pesavam algumas toneladas por contas dos infindáveis classificados… pulverizados pela web.

anyway, anyhow, anywhere… a potência do doutor roberto corre o risco de se transformar, exclusivamente, em uma única peça…

globinho

aliás, o pobre globinho ainda existe?

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